outros / 24 de maio de 2013

O verdadeiro valor de um presente para o maior presente de minha vida

Texto de Amanda Hipólito Calvoso*

Perto de chegar o primeiro aniversário de Inaiá, decidi que a ela, que é o maior presente de minha vida, gostaria de presentear ensinando o verdadeiro valor de um presente. Provavelmente ela ainda não entenderia muito sobre ganhar presentes, mesmo assim me preocupo: não quero que ela cresça achando que “aniversário é dia de ganhar coisas” ou que “coisas são mais importantes que as próprias pessoas que as presenteiam”.

É muito comum ir a uma festa infantil e ser recebida com um ingênuo, mas triste, “Cadê meu presente?” antes mesmo de um abraço, ou de um sorridente “Que bom que você veio!” Essa cobrança das crianças não é culpa delas, é a mais pura e sincera expressão de que são formadas direitinho pelos costumes banais de nossa cultura consumista. E são os pais que, sem perceber, alimentam essa ideia de que, para ir a uma festa de amiguinho do filho, precisa-se COMPRAR um presente.

Quero ensinar minha filha a fazer os presentes quando ela quiser presentear um amigo, seja um desenho, um bolo, um cartão, uma foto dos dois juntos, uma canção feita por ela, um convite para dormir um dia em nossa casa… Ou então ensiná-la a escolher algo dela que ela queira dar ao amigo, por achar que é a cara dele ou que ele vai aproveitar melhor que ela, enfim… É uma tarefa difícil quando a sua volta todos os queridos parentes e amigos, muito bem-intencionados, querem demonstrar seu carinho COMPRANDO presentes pro nosso filho, muitas vezes brinquedos e roupas da mídia, que alimentam mais e mais o monstruoso consumismo infantil. Digo monstruoso porque consome a alma autêntica e criativa da infância, abafando sua imaginação e enjaulando-a numa fôrma homogênea e competitiva, onde é melhor quem tem mais ou quem tem o mais moderno.

Acho muito bonito o ato de presentear e ser presenteado quando preenchido de significado, de sentimento de ambas a partes, de olho no olho… Mas quando vem um vazio disso e o ato vira apenas mais um protocolo social, uma ação automática, que serve apenas pra alimentar esse monstro (consumismo infantil) acho muito feio e triste. Muito triste eu fiquei várias vezes quando passei dias preparando um presente com todo amor e, ao chegar na festa de aniversário da criança, ouvi os pais falarem: “Pode colocar ali naquela caixa” – sem nem mesmo abrir o presente, pois nessa lógica doida “é só mais uma coisa” entre tantas outras coisas desprovidas de relação entre o presenteador e o presenteado. Juro que com essas situações broxantes tenho até preferido levar apenas a minha presença no dia da festa e deixar pra presentear num dia qualquer, onde se possa valorizar este ato com a riqueza do significado e sentimentos intrínsecos.

pao

*Amanda é educadora infantil formada pela pedagogia Waldorf, tem uma filha de 1 ano e é do Rio de Janeiro.


Tags:  consumismo e aniversários presentes presentes com sentido ter x ser

Bookmark and Share




Previous Post
TDAH: um diagnóstico não é uma sentença
Next Post
Apologia ao consumo: uma aula em três minutos



Mariana Sá




You might also like






More Story
TDAH: um diagnóstico não é uma sentença
Texto de Ana Andrade* Por que ele não para quieto? Será que ele não se envergonha de fazer esse papelão? Caramba, já falei...