destaque_home / publicidade infantil / 30 de dezembro de 2015

“Filho, cada um cuida do seu”

Texto especial para o Milc de Mariana Sá*

Veja a que ponto do individualismo e do consumismo chegamos: primeiro este sentimento de cada um por si, seguido da criança como um objeto de posse.

Que saudade de um tempo que ainda consegui viver, quando uma vizinha passava o olho na criança “dos outros” enquanto a mãe ia pagar a conta do açougue.

Que saudade de um tempo que não ainda não vivi quando crianças serão tratadas como sujeitos de diretos e não como parte do patrimônio material dos pais.

Cada criança é prioridade absoluta de todos, diz a nossa constituição federal, e se não estivéssemos tão centrados nos nossos umbigos, iríamos no vizinho perguntar se a mãe precisa de alguma ajuda quando ouve o RN chorar, ao invés de torcer o bico e dar alfinetadas e indiretas no ponto de ônibus ou no elevador.

Quando a gente finamente entender que não importa o que somos capazes de fazer para proteger os “nossos” filhos, se existe algum filho “de outro” desprotegido, daí vamos entender que problemas coletivos não se resolve com bom senso. Se resolve coletivamente e com políticas públicas, com rede de proteção social, com legislações que impeçam que vulneráveis sofram, esta coisa que o ‘welfare state’ da Europa nos ensinou.

E o consumismo que debatemos aqui há quase quatro anos, entre as outras consequências, é um dos resultados de um sistema que acha “normal” assediar crianças, tirar delas a sua sagrada ingenuidade, para obter mais lucro de uma forma mais fácil. O consumismo é a mola e o resultado de um sistema que diferencia humanos pelas posses e pela aparência. O consumismo é a mola e o resultado de um sistema que se baseia num consumo insustentável para continuar girando, mesmo que isso acabe com os humanos e com os planetas. “Dane-se a espécie! Dane-se a sobrevivência!” é que eles dizem achando que os netos vão pra marte quando tudo acabar. .

E aí, depois de tanto debate, de tanta conversa, de tanta empatia, de tanto acolhimento, tem gente que chega nesta página e tem a pachorra de gastar seu tempo e sua ponta dos dedos para comentar, num post sobre um produto absurdo, a pérola “filho, cada um cuida do seu”.

Desculpa, flor, volte dez casas no jogo da educação de filhos e só volte aqui quando entender que é preciso uma vila inteira pra criar uma criança.

Que em 2016 se amplie a consciência da sacralidade da infância e da necessidade de proteção!

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(*) Mariana é mãe de dois, publicitária e mestre em políticas públicas. É cofundadora do Milc e membro da Rebrinc. Mariana faz regulação de publicidade em casa desde que a mais velha nasceu e acredita que um país sério deve priorizar a infância, o que – entre outras coisas – significa disciplinar o mercado em relação aos direitos das crianças.


Tags:  #aprovaPL #publicidadeinfantil #publicidadeinfantilNÃO PL 5921/01 publicidade infantil

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Mariana Sá




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