Marca de bebida açucarada na escola. De quem é a culpa?

Texto especial para o Milc de Vanessa Anacleto*

Diante de um cerco que vem se fechando, pouco a pouco na proteção à infância em diversos países, parece que o jeito para a Coca Cola é aprimorar as táticas. Assim, ao invés de assediar os pais através das crianças, o foco passa a ser alguém muito especial para a juventude. Na ação específica Festival das Escolas o professor é o agente convocado pela corporação a inscrever seus alunos em uma competição com um mote muito interessante. Podemos culpar o professor por colocar a Coca Cola dentro da escola? Não. O professor que inscreve seus alunos para uma atividade que, tem certamente bons propósitos e estes são muito inteligentemente usados pela equipe de marketing bilionária. Apesar do objetivo principal de perpetuar a marca na mente dos jovens e torna-los consumidores fieis para toda a vida, a ideia é vendida como incentivo à vida saudável. O professor tem tanta culpa quando os pais que deixam uma criança assistir a uma propaganda do produto e logo após pedir para consumi-lo.

A marca Coca-Cola está ligada aos Jogos Olímpicos desde 1928 e tem contrato com o Comitê Olímpico Internacional até 2020 quando comemorará uma parceria ininterrupta de 92 anos. Não há muito o que possamos fazer individualmente em uma sociedade que tolera este tipo de parceria. Em um país em desenvolvimento, com escolas e alunos carentes de recursos básicos, é muito difícil olhar fora da caixa. Não passamos de pessoas comuns perdidas no mundo das grandes corporações, é preciso muita informação e estado de alerta para resistir à sedução. Não atirem pedras no professor, por favor, nem nos pais. Vamos atirar informação sobre os efeitos nocivos das bebidas açucaradas. Precisamos de um olhar mais crítico para as grandes corporações e menos julgamento com o próximo.

Nas olimpíadas de Londres em 2012, a Assembleia da capital inglesa pediu a introdução de critérios para a escolha de patrocinadores que excluam empresas de comida e bebida “fortemente associadas a produtos com alta caloria, ligados à obesidade infantil”. Ninguém ouviu a Assembleia de Londres e cá estamos fingindo que é eticamente possível este tipo de parceria. Se é difícil para os ingleses podemos dizer que beira o impossível pra nós. Não por acaso a mesma empresa é patrocinadora dos Jogos Escolares da Juventude, maior competição de esportes Olímpicos do mundo em nível escolar. Não tá fácil pra ninguém.

Nos Estados Unidos, a campanha LET’S MOVE (Vamos nos Movimentar) da primeira dama Michelle Obama começou em 2010 chamando muita atenção para o mal que a propaganda de alimentos ultra calóricos e ricos em sódio faz a crianças e jovens. O chamado original de Michelle Obama era para uma ação contra os setores da indústria que lucram com alimentos que contribuem coma obesidade e a hipertensão. Três anos depois, quando a indústria sentiu que a  iniciativa da primeira dama poderia causar sérios prejuízos aos lucros, conseguiu exercer pressão no governo e LET’S MOVE transformou-se em uma campanha pela VIDA ATIVA (eis a brilhante ideia da Vida Ativa Coca Cola aí) e todas as críticas ao comércio de produtos alimentícios nocivos cessaram. O chamado à ação para barrar  empresas que adoecem as pessoas foi transformado num chamado ao exercício físico com uma mensagem subliminar cruel. Se você está doente é porque é preguiçoso, nossos produtos não tem nada a ver com isso, então mova-se. A história está bem contada no documentário Fed Up! disponível com legendas na Netflix e no You Tube (legendado e compartilhado por alguma ‘boa alma’), linkado ao final do post.

Sabemos que é preciso muito mais que exercício físico para evitar males como o diabetes tipo 2. Um estudo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), por exemplo, desenvolvido pela doutora em Saúde Coletiva, Ana Carolina Reiff, comprovou que o consumo dessas bebidas altera o metabolismo de adolescentes, tornando-os propensos à obesidade. Sim, você leu corretamente: ALTERA O METABOLISMO. Link para a tese aqui .

Saiba mais sobre a questão:
O que achamos do anúncio das três maiores empresas fabricantes de bebidas açucaradas ~ Refrigerantes fora da escola, bom para quem?
Dizem que deixaram as crianças e apontaram a mira para os adolescentes ~ Refrigerantes fora da escola? Não é simples assim.
Refrigerante faz mal para crianças, adolescentes e adultos ~ Sempre bebi refri e não morri, a lenda 

(*) Vanessa é mãe do Ernesto, revisora, blogueira, autora do livro Culpa de mãe e conselheira escolar. Por causa disso tudo, ajudou a fundar o Milc e luta por um futuro sem publicidade infantil. É autora do blog materno Mãe é Tudo Igual e membro da Rebrinc.


Tags:  #comidanaescola #refrinaescola bebidas bebidas nas escolas combate à obesidade infantil comida na escola gincana obesidade obesidade infantil olimpíadas

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Vanessa Anacleto




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