outros / 26 de julho de 2012

Ser criança aqui ou aí

Celi Oberding*

Com esse título vocês podem pensar que criança é criança, seja aqui na Alemanha ou onde moram. Estão completas de razão. Criança é criança quando pensamos no desenvolvimento, nos interesses de acordo com a faixa etária, na enorme vontade que as mesmas têm de brincarem.

No entanto, cada dia percebo que os pais favorecem mais ou menos o aproveitamento desse tempo, o tempo de ser criança em sua plenitude. Além do dia a dia, hábitos culturais e familiares, acredito que o local influência muito na conduta dos pais. O jeito de ser, como os pais foram criados também. Escrevo isso referindo-me em como foi a infância dos pais: Brincavam mais dentro de casa? Menina brincava somente com boneca? Exploravam o que a natureza oferece?

Tem os ideais dos pais, no qual desejam uma infância parecida, pois observam ganhos e uma infância “saudável”, seja ao ar livre, longe da televisão ou dos jogos nos computadores. Desejam que prevaleçam o universo simbólico e de movimento.

Porém, nem sempre é possível…

Os pais precisam ter em mente claramente a importância do ser criança, dos filhos viverem intensamente esse momento, caso contrário, o tempo passa e o que foi feito por eles? Quais serão as lembranças de uma infância saudável?

Observo uma grande diferença cultural, de possibilidades de uma criança que vive na Alemanha e outra no Brasil. Lógico que há exceções e que muitas mães se esforçam para garantirem uma infância saudável, longe do mundo tecnológico 100%, do consumo de jogos, mais jogos de computadores e outros equipamentos eletrônicos. Uma grande alternativa e que tenho visto são as inúmeras confecções de brinquedos com materiais recicláveis.

Considero importante brincarem ao ar livre, explorarem tudo que há de mais simples e que estão a sua volta. Fazerem uso de um simples graveto para transformarem, criarem uma brincadeira. Sabemos que a criança se diverte e muitas vezes há uma enorme preocupação com a diversidade, em oferecerem todos os tipos de brinquedos. Algo que não termina jamais….

Porém, nem sempre é possível…

Muitas vezes o desejado pelos pais pode não ser alcançado, por conseqüência da vida, das condições em termos de estrutura física, da sociedade, da necessidade de trabalhar fora e do tempo. Quantos pais gostariam de oferecer um passeio no parque, abrirem seus portões para as crianças brincarem na rua, sem se preocuparem com a falta de segurança e o medo do que possa acontecer.

Novamente fiquei pensando em tudo isso a partir de uma conversa que aconteceu com uma grande amiga, no qual atualmente me encontro na mesma situação que ela. Levantamos mais uma vez os prós e contras de morarmos na Europa.

Felizmente há muitos ganhos na infância dos nossos filhos. Uma maneira de viver muito mais simples, de aproveitar o que realmente tem em cada estação do ano. Pequenas coisas, uma enorme felicidade. Entendem?

Tivemos a oportunidade de passarmos uma tarde com nossos filhos no parque e foi um momento mágico, no qual brincaram tranqüilos, alegres, onde a areia e a água eram os objetos principais no momento. A infra estrutura já permitia total diversão. Ficaram sossegados, interagindo por um bom tempo.

Sabem um momento sem frescura, algo fácil de lidar, pois bem… As crianças brincaram com roupa, depois considerando o verão, o calor, acabaram somente de cueca. Ninguém acha ruim, não há um olhar pejorativo, tudo é possível e faz parte da cultura, do jeito que pensam… Crianças aproveitando o tempo de serem crianças! De fazerem o que está realmente dentro das possibilidades.

A impressão que tenho é que há maior interesse por tudo isso! Há um incentivo maior de toda sociedade e principalmente das escolas.

Vejam o Thomas quase esmagando a pequena joaninha. Ama qualquer bicho de jardim que aparece e logo quer pegar, brincar, guardar e levar para dentro de casa.

Enquanto conversávamos sempre questionávamos o que poderia ser diferente vivendo na Europa. Como seria nossas vidas, a rotina dos nossos filhos se morássemos no Brasil. A realidade é que nem sempre teremos tudo, porém essa fase em que nossos filhos se encontram é única e merece total atenção.

Acreditamos que fará uma enorme diferença no desenvolvimento, no jeito de ser dos nossos filhos terem vivido tudo isso e dessa maneira.

Na verdade, é minha aposta…rs Faço questão de priorizar essa fase, favorecer a felicidade dos meus filhos, pensando nesse tempo, nesse tempo de ser criança usufruindo do que há de mais simples para buscar o que há de mais belo na vida.

Assim como já relatei, não precisam de muita coisa…. Vivem bem! Por exemplo, a diversão para meus filhos, para os amigos, e aqui incluo tanto a família da minha amiga como a maioria que vivem na Europa, é caminharem no bosque, fazerem um piquenique, empinarem pipa, jogarem pedra no lago, observarem os troncos caídos das árvores, comerem frutas do pé, compararem as cores das folhas das árvores e, assim vai… Coisas simples da vida!

Coisas simples da vida que fazem com que nos tornemos simples também.

Tem como não desejar que o pequeno Lucas participe de tudo isso aprendendo ao lado dos irmãos?

As questões continuam, o levantamento dos prós e contras de vivermos longe do país de origem, porém tenho certeza, certeza absoluta que o tempo de ser criança dos meus filhos está sendo muito bem aproveitado. Como é bom quando compactuamos da mesma opinião de outras brasileiras que moram fora. Afinal de contas, pensando nos filhos…

Para uma mãe, tem como isso não ser bom?

(*) Celi Oberding é pedagoga, mãe de três meninos: Felipe, 5 anos, Thomas, 2 anos e Lucas, 3 meses. Mora na Alemanha há 3 anos e meio e é autora do blog Nova Vida, Vida Nova. 


Tags:  consumismo educação educação infantil infância lazer

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Mariana Sá




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