campanhas / 20 de dezembro de 2012

Papai Noel e “seu presente de Natal” e seu merecimento

Texto de Patrícia Gomes*

O Natal começou dia 13 de outubro, quando as lojas começaram a decorar as vitrines, os restaurantes colocaram faixas propagandeando os preços das confraternizações de fim de ano, as agências de viagem começaram a publicar os “pacotes” para o réveillon e todos os anúncios encheram-se de neve, manta acrílica, cetim vermelho e feltro verde.

As pessoas, já em outubro, não paravam de comentar sobre como o ano passou voando e, para provar “Já é até Natal!”. Quando se dirigiam a mim eu respondia: “É impressão, ainda estamos em outubro, faltam dois meses para o fim do ano, o comércio é que já está vendendo por conta e acaba distorcendo até nossa noção de tempo”. As pessoas me olhavam como se tivessem acordado dum transe.

A cada ano o natal é antecipado. Não só ele, mas todas as datas comerciais passam a ser anunciadas assim que a anterior termina. Desde o ano passado até o dia da Avó está sendo atacado!

Existe o Natal-comercial e a festa religiosa, mas é impressionante como poucas pessoas se dão conta disso, inclusive os religiosos.

Minha filha (4 anos) chegou em casa cantando “…porque que Papai Noel não se esquece de ninguém…” aproveitei que havíamos assistido dias antes ao filme Dumbo e completei “…seja rico ou seja pobre a cegonha sempre vem”, ela caiu na risada e disse “Mããããããeee…” naquele tom de cumplicidade de quem está fazendo uma transgressão – e está adorando! A partir de então cantamos assim e caímos na risada juntas.

A figura de Papai Noel, para mim, é absolutamente esquisita! As pessoas falam na “fantasia necessária, mas só vejo ali o maior garoto-propaganda do mundo, já que faz até os cristãos esquecerem-se do Cristo.

Moramos num local que já foi mata atlântica, então há várias APAs (Áreas de Preservação Ambiental) aqui e acolá. Quando passamos por elas Marina fica procurando o Bambi, pede para o pai dirigir devagar e ficamos ouvindo a floresta…sempre concluímos que Bambi não apareceu porque está na campina ou dormindo ou brincando com o Tambor ou…ou…ou…

Minha filha não perde a fantasia por não termos guirlanda na porta nem decoração de Natal, por não sermos religiosos ou por acreditarmos que só a cegonha vem para os ricos e pobres. O bom da fantasia é o inusitado, a surpresa de sua nascença! Como foi no caso do Bambi, uma fantasia criada por ela e compartilhada conosco. Como é a Lara, sua irmã-imaginária, que frequentemente precisamos colocar no colo ou segurar-lhe a mão para atravessarmos a rua.

Fantasia vendida e comprada? Reproduzida e multiplicada em versões por vezes grotescas? Entregue à criança revestida de justiça, já que Noel visita rico e pobre, num mundo que compensa sua culpa (cristã ou burguesa) doando roupas puídas e brinquedos quebrados justamente no fim do ano? Não, justa preciso ser eu, algumas pessoas compram e doam peças novas mesmo. Afinal, Natal sem presente não é Natal e até os pobres precisam crer nisso.

E agora, que no Brasil as classes C e D estão consumindo e se endividando mais, finalmente a criança que há três anos pede um play station vai ganhar ser sonho de consumo ao invés da inevitável bola anual. E qual a explicação para Papai Noel não deixado o play nos anos anteriores? Ora, “Você não foi um menino obediente, por isso só ganhou a bola. Melhore no próximo ano!” Então o garoto cresce acreditando que ser pobre é culpa sua.

O menino vê o pai pegando serviço de pedreiro, carpinteiro, catando latinha, pet e papelão, participando de cooperativas, mas nunca ganha o suficiente para melhorar de verdade as coisas em casa. Ele observa aquilo, não precisa pensar muito, a explicação já foi dada: seu pai não se comportou e pronto!

* Patrícia Gomes, contadora, pos-graduada em Educação, mas só agora cursando Pedagogia. Empregada pública federal na área de Contabilidade e faço umas intervenções na área de Eventos. Fui mãe aos 35, pari aos 36, engravidei qdo minha Marina tinha 9 meses mas esse bebê resolveu voltar para onde estava e somos então eu, Marina e marido Paulo, que é artista plástico e com quem divido muitas de nossas reflexões. Moramos em Maceió-AL. Escrevo – quando há tempo – no blog que criei quando me soube grávida agoraquesoumae.blogspot.com


Tags:  Natal precisamos rever o Natal presentes

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Mariana Sá




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