outros / 23 de maio de 2013

TDAH: um diagnóstico não é uma sentença

Texto de Ana Andrade*

Por que ele não para quieto? Será que ele não se envergonha de fazer esse papelão? Caramba, já falei mil vezes e ainda não me obedece, parece que nem escuta!

Ai, quanta reclamação da escola, não tenho mais cara. Não, amigos, obrigada pelo convite, mas não vou levar meu filho, ele pode estragar a festa.

A pressão vem de todos os lados: da família, da sociedade e principalmente de nós mesmas.

Você não quer os rótulos, os rejeita, mas também os coloca. Você tem medo. Medo de que ele fique igual ao Fulano: Deus me livre meu filho igual ao Fulano! Desobediente, abusado, insuportável. Boletim todo vermelho.

Você começa a buscar respostas, entra em terapia, médico, neuropediatra. Não concorda com o diagnóstico, muito menos com a solução do problema, aquela palavrinha desconfortável: remédio. Ritalina, Aderall, Concerta.

Compra livros, devora os sites, conversa com crianças, adultos, mães e pais, procura artigos pelo mundo que falem sobre esse assunto: TDAH. Metilfenidato.

Você tenta lidar com esses pensamentos e percebe a maior frustração: meu filho veio enguiçado, deu defeito, não tem como trocar. Você sentencia o futuro. O futuro baseado no medo. Vamos lá, as frases mais ditas:

ý Ele tem tantos por cento de probabilidade de ser usuário de drogas.

ý Ele tem tantos por cento a mais de probabalidade de se envolver em acidentes.

ý A baixa auto-estima o fará ser frustrado socialmente, nunca vai se destacar, apenas negativamente.

ý Você sabia que você está causando infelicidade ao seu filho ao não dar o remédio?

Pois é, eu concordei com o diagnóstico, porque alguma explicação tem de existir! Ele é diferente e ponto! Todos somos! Imediatamente fui teletransportada para a obra de Machado de Assis, O Alienista, em que somos confrontados com a beleza da individualidade e suas idiosincrasias, ou seja, o normal é ter manias, tristezas, reagir a situações, sejam elas familiares, sociais, sejam elas traumáticas, sejam de infância. Eu, por exemplo, sou superdesatenta, me encaixo também naqueles formulários. Mas eu não concordei com a solução tarja preta. Então preciso aprender a lidar com isso. Eu preciso não, nós precisamos. Nossa sociedade precisa aprender a lidar com as diferenças.

Como eu lidei com isso? Eu me permiti olhar o Gabriel sem os rótulos, olhei pra ele com amor. Ele não é enguiçado. Depois de investigar, descobri que seu QI e outros medidores estão acima do normal; olhei sua bondade, sua alegria em brincar com um amigo, suas respostas rápidas e perspicazes e vi que ele não tem comorbidade nenhuma (porque não basta ter TDAH, tem que também desenvolver doenças em comorbidade) e, finalmente, depois de ver com meus proprios olhos um exercício no violino ao qual ele sequer prestou atenção, mas executou perfeitamente em seguida, eu tive a certeza: nada de remédio!

Nesse tempo de exaustiva pesquisa eu cheguei a algumas conclusões:

þ Não sei se o TDAH existe ou não, não sei se ele foi inventado, não sei sei quantos bilhões a indústria farmacêutica lucra com ele.

þ Sei que pesquisas científicas são patrocinadas pelos laboratórios.

þ Sei que não existe pesquisa científica que mostre os efeitos da Ritalina a longo prazo.

þ Sei que não é legal ter um filho viciado em cocaína, mas também não é legal ser viciado em uma droga lícita.

Entrei em fóruns de portadores do transtorno e fiquei embasbacada com o que li, como jovens fazendo associações de remédios para as comorbidades, e inclusive aumentando sua dose por livre e espontânea vontade.

Eu sei que a televisão e os eletrônicos pioram, sim, sua atenção, então só vai ver ou jogar depois que fizer a leitura ou o dever.

Eu tive que mudar meu nível de expectativa em relação ao meu filho.

Deu um trabalho danado, mas eu tive que observar, testar, mudar e continuo fazendo isso todos os dias.

Não concordo que o benefício de usar a ritalina supere a pequena, quase ínfima, probablidade de morte. (Sim, existe essa probabilidade, e pra mim ela é um dos motivos pra não usar esse medicamento, porque eu ainda não conheço quem ressuscitou, mas conheço vários desatentos).

Uma lidinha na bula já é por si só muito elucidante: http://www4.anvisa.gov.br/base/visadoc/BM/BM%5B26162-1-0%5D.PDF

Por que eu precisava saber? Porque eu precisava argumentar. E o método que eu criei para esse assunto eu utilizo com tudo na minha vida.

E para aquela afirmação de que estou causando infelicidade ao meu filho ao não dar a droga, eu digo: você sabia que eu posso estar protegendo meu filho de uma infelicidade maior ao não dar o remédio?

*Ana é mãe de 2, arquiteta, inquieta, escreve no …quase um moleskine…, iniciou um projeto para embelezar Petrópolis com plantas e acredita que agora é a hora de ser feliz.

Links recomendados:

Novo manual de diagnóstico de doenças mentais dos EUA gera polêmica

Em seu leito de morte, o psiquiatra responsável pela definição de TDAH confessa: “O TDAH é uma doença fictícia” (texto em inglês)


Tags:  desabafo drogas lícitas TDAH

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Mariana Sá




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