publicidade de alimentos / 27 de junho de 2013

Mitos e verdade sobre alimentação

Texto especial para o Milc de Claudia Olsieski da Cruz e Ana Luísa Kremer Faller*

Como nutricionistas, já ouvimos um sem fim de bobagens a respeito de alimentação e nutrição. Leigos, outros profissionais que pouco estudam sobre o assunto, mas que se acham profundos conhecedores do tema, jornalistas desavisados, vendedores de produtos alimentícios, enfim. Mas a verdade é que ficamos estarrecidas com a entrevista concedida por uma nutricionista no dia 19/05/13, no Programa do Gugu/Rede Record. O que parecia uma boa oportunidade para uma profissional que estudou para isso falar de mitos e verdades acerca da alimentação foi aos poucos se mostrando um desserviço a anos de estudos sobre alimentos e alimentação. Informações parciais e outras tantas totalmente erradas que vão contra tudo o que se prega sobre alimentação saudável!

Em destaque, os mitos abordados e nossas observações sobre as colocações feitas no programa:

1) Ovos têm muito colesterol e fazem mal

Sim, os ovos possuem colesterol, inclusive uma unidade de ovo de galinha contém o equivalente à recomendação diária de colesterol, 300mg. No entanto, também possuem vitaminas como a vitamina D e minerais como o ferro, que são de vital importância para a saúde. Já vai algum tempo que este alimento deixou de o grande vilão. Mas afirmar que “tudo bem comer oito ovos por dia” ou “quanto mais melhor”, não é bem assim. Sobre o estudo de Harvard citado, onde vários estudantes teriam consumido 20 ovos por dia por um ano e não tiveram nenhum problema de saúde, levou-se em conta o nível atividade física dos participantes? Levou-se em consideração o resto do consumo alimentar desses alunos? Isso não foi dito, e é de fundamental importância para entender tais resultados.

2) Qualquer chocolate engorda e faz mal à saúde

Pelo menos acertou ao falar do benefício do cacau e que o chocolate ao leite e, em especial, o chocolate branco são os que têm menor teor de flavanois . Mas afirmar que “pode consumir tranquilo sem dor na consciência” não é verdade! O benefício do consumo do chocolate amargo pela presença destes flavanois não se sobrepõe aos malefícios e certamente não elimina o teor calórico do mesmo, sendo todos os tipos equivalentes em termos de calorias. Pareceu até que o chocolate amargo não engorda! Existe uma recomendação para o consumo de chocolate, sim, que é de 30g por dia.

3) Óleos são mais saudáveis do que banha de porco

O risco aqui está em não se dizer que usar banha de porco ou óleo de coco em excesso faz mal também! Ambas são gorduras saturadas e necessárias ao organismo, mas não podem representar mais do que 10% do consumo diário de calorias, mesmo a composição dos ácidos graxos saturados em questão sendo diferente entre os dois. Em acréscimo, o uso de gorduras saturadas para aquecimento – em especial fritura – é a última opção, uma vez que apresentam os mais baixos pontos de fumaça levando facilmente à formação de substâncias tóxicas como a acroleína. Outra coisa: parece que a fritura ficou liberada, não é? Ela fala diversas vezes em fritar nesse ponto da entrevista. Além disso, ao afirmar que antigamente se consumia essas gorduras em larga escala, mas “morria-se com 90 anos”, ignora que a vida era outra, em especial o nível de atividade física. Sobre o azeite, não pode ser consumido à vontade! Nenhuma gordura deve ser consumida à vontade! Só se salvaram as informações sobre elevar a manteiga a altas temperaturas e sobre o óleo de canola e a margarina.

4) Alimentos à base de soja são os mais recomendados para uma vida saudável

Por fim, ela até acerta sobre o “endeusamento” errôneo da soja. Citar e incentivar o consumo indiscriminado de soja é inadequado e pode causar diversos transtornos para o consumidor. Dentre os componentes da soja estão isoflavonas como genisteína, daidzeína e gliciteína, que podem agir beneficamente na modulação hormonal ou podem também agir como perturbadores endócrinos, em especial em crianças e adolescentes, interfererindo nos receptores de estrogênio. Além das isoflavonas, temos compostos bociogênicos que em algumas situações podem estar associados com hipotireoidismo por consumo excessivo de soja. A soja fermentada, em comparação ao grão, favorece a maior absorção das isoflavonas por remover a fração glicosídica (açúcares como glicose, arabinose etc.) da molécula, não só melhorando a absorção intestinal, mas também facilitando a interação da isoflavona com os receptores estrogênicos da célula. Se em alguns casos podemos ter uma alteração hormonal pelo consumo da soja, a forma fermentada seria ainda pior nestes casos.

Imagem da web.

(*) Claudia é nutricionista e docente nos cursos de Nutrição e Gastronomia da Universidade Estácio de Sá. Doutoranda em Alimentação, Nutrição e Saúde pela UERJ.

Ana Luísa é nutricionista e docente nos cursos de Nutrição e Gastronomia da Universidade Estácio de Sá. Doutora em Nutrição pela UFRJ, Ana toca a página Soul Nutrition de consultoria em nutrição.


Tags:  alimentação infantil alimentação saudável análise crítica mídia e alimentação Mitos e verdades sobre nutrição

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Mariana Sá




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