publicidade de alimentos / 26 de junho de 2014

Análise psicopolítica do novo comercial do Baton Garoto

Texto de Evandro Vieira Ouriques*

Se você me permite, compartilho como eu vejo o novo comercial da Garoto para o produto Batom. O que está dito nele é que tudo de criativo, de livre, de espontâneo, de infantil, de experiência do mundo é torna-se proibido, torna-se o lugar do Não, e isto dito pela Mãe, o lugar da origem, da origem da criança em sua relação específica com sua mãe e arquetípica com a Mãe sistêmica, com a qual ela tem a experiência da Unidade Original. E experiência na qual ela forma, como eu disse em outro lugar, digamos assim, a base de sua identidade. 

Portanto a Mãe torna-se neste comercial o lugar do Não (que são quantos hein gente? uns 50, em coro, crescente, talvez ao longo do comercial…) impedindo brincadeiras ou experiências de vida.

baton

Todos estes Nãos são contrapostos a apenas Um Sim. O de, pela Mãe, dar um batom, e pela Criança, de comer batom. 

E, por gentileza, observem, nenhum destes Nãos é dirigido a qualquer desvio de comportamento, vale dizer, alguma maneira de se comportar da criança que seja anti-social, não-ética, não-solidária. Apenas ações típicas da criança. 

Que são interditadas por um Não seco, sem diálogo, sem conversa, sem explicação alguma. 

Operação psicopolítica da mesma ordem, por exemplo, que a mesma criança enfrenta na escola. Onde suas perguntas não são respondidas. Onde sua voz não é escutada. 

Apenas interditada e compensada, por exemplo por um batom ou por um carro quando passa pra faculdade depois de ter estudado um monte de coisas sem saber porque nem para quê e sabendo que irá esquecer já no dia seguinte. 

Se eu fosse adiante eu diria que vejo neste comercial a pedagogia do trabalho moldado pelos rendimentos: faça o que não gosta, aja ao contrário dos valores que fundaram a sua vida quando você era criança, pois a vida “é [seria] assim”; e consuma.

Usa-se portanto a crítica à desmesura gerada pela dificuldade de dar limites, tão comum em determinadas décadas anteriores, para gerar por um lado mais repressão e por outro, a título de compensação, mais desmesura de consumo.

baton_

Este é o comercial de que tratamos aqui: https://www.youtube.com/watch?v=a2tFB3eaMsU e todas as imagens deste post são impressões de frames do filme.

Este texto foi publicado anteriormente no academia.edu.

(*)  é cientista político, jornalista, designer e terapeuta clínico. É coordenador do Centro de Psicopolítica e Gestão Mental da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seu trabalho é reconhecido e premiado internacionalmente, inclusive pela ONU, PNUD, PNUMA, UNESCO e União Européia: recebeu o Prêmio Melhor Acadêmico do Mundo, do Reputation Institute, NY, o título de Guerreiro Zulu da Universal Zulu Nation e é Acadêmico Correspondente da Academia Galega da Língua Portuguesa. É credenciado como pesquisador junto ao CNPq e ao FONDECYT, Chile. Tem publicações na Dinamarca, Espanha, Portugal, Colômbia, Chile, Brasil e Reino Unido. Sua especialidade é mudança de cultura.


Tags:  alimentação infantil crianças e publicidade maternidade maternidade e filhos publicidade de alimentos

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Mariana Sá




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