Texto de Carol Guedes*
Gosto muito de conversar com as pessoas sobre publicidade na infância.
Considero sempre (ou quase sempre) rico o debate.
O discutir, mesmo que não seja para se chegar a um consenso, ainda assim é rico, pois se vê claramente dois dos mil lados que existem em algumas situações.
É importante deixar claro que publicidade na infância não é bom! E isso é um ponto indiscutível! E não sou só eu que estou dizendo….Pode perguntar para qualquer educador, psicólogo, mãe, pai, filósofo, historiador, cuidador, até mesmo pra própria criança…todos dirão que não é bom!
A infância tem que ser cuidada, respeitada, então, se querem anunciar algum produto, peço a gentileza que anunciem pra mim. Eu, como adulta, sei discernir publicidade, de programação; brinquedo, de efeitos especiais e etc.
Não? Sugiro então que leia alguns textos publicados aqui no Milc ou no site do Instituto Alana.
Certamente esses textos falarão com muito mais propriedade do que eu e tenho a certeza da importância de se construir um pensamento.
Resolvi então fazer o teste e observar como a publicidade aparece aos olhos da minha filha.
Um dia na vida de uma criança de 3 anos, um dia de uma criança que não assiste televisão!
8h: Acordamos e fomos ao parque andar de velotrol e tomar o sol da manhã…
É segunda-feira, então não vemos carrinhos de guloseimas, chicletes e salgadinhos cheios de sódio, nem sorvete que deixa a língua azul de corante super artificial de um leão qualquer, muito comuns aos finais de semana… Ufa!
A água da Maria acabou e tive que comprar uma garrafinha de água: fiquei surpresa com personagens infantis muito coloridos estampados no rótulo.
Agora tem água de adulto e água de criança?
11h: Festa Junina na escola do amigo.
Logo na entrada uma bancada na altura das crianças com brinquedos e revistas à venda (detalhe: festa DENTRO da escola).
Não tem como escapar de uma parada para ver as “ofertas”.
13:30h: Hora da aula.
Na entrada da escola da minha filha, um desfile de personagens estampados em mochilas.
E quando a criança se identifica com um personagem é um desafio negar os pedidos de produtos que trazem o “ser” amado.
18:30h: Ida ao mercado.
Produtos diversos sempre na altura da criança, com personagens dos desenhos animados.
Tem toda espécie de porcaria açucarada e gordurenta assinada, avalizada por um personagem… deve ter mãe e pai que acha que a presença do personagem amado facilita o consumo. Será?
19:00h: Fila para pagamento
No caixa do mercado, que normalmente a criança fica mais tempo parada, meio entediada, está ofertado, bem na altura dos olhos, uma série de bugigangas e porcarias comestíveis ainda piores do que as que estavam nas prateleiras: chocolate com brindes de mini brinquedos.
Além do absurdo que já é esse produto – uma pasta doce e gordurosa – ainda tem divisão de gênero, brinquedo de menino e de menina.
20h: Saída do mercado e passando na porta uma loja de brinquedos.
Um cartaz em formato de tela de televisão, com as seguinte frase: “viu na TV, achou aqui”. Lembrar a criança da publicidade dirigida a ela: que completo absurdo!!!
*Importante ressaltar que minha filha não assiste televisão e ainda assim vemos que não é possível não vivenciar a força do mercado publicitário. Agora imaginemos o dia de uma criança exposta a tevê, celulares e games… Dói o coração só de imaginar a quantidade de marcas que impactam estas crianças que assistem 4 ou 5 horas de tevê por dia…
Tags: alimentos brindes embalagens marketing personagens

2 Comments
Minha querida, se não quer ver propaganda, não compre TV, não compre um computador, não saia de casa, e, principalmente, deixe de existir.
Atenciosamente, Flora.
Não, Flora!
Ela não precisa deixar de existir. O que precisa deixar de existir este excesso de tudo.