Texto de Patricia Leekninh Paione Grinfeld*
(Nota da editora: recentemente publicamos textos sobre a importância de afastar os bebês das telas, nossa colaboradora Patrícia publicou no seu blog dicas de brinquedos e brincadeiras no seu blog que reproduzuremos aqui no Milc. Leia a série: Meu filho só gosta da tevê e de mim e Meu filho não sabe brincar sozinho)
Quando falamos em brinquedos e brincadeiras para bebês precisamos levar em consideração seu estágio de desenvolvimento, o qual pode variar de bebê para bebê. Neste texto, tomo como referência o desenvolvimento da maioria dos bebês nascidos a termo.
Primeiro mês de vida: a brincadeira é o olho no olho
A visão do recém-nascido não alcança mais do que 30 cm e é pouco focada – ele olha para um lado e outro, sem fixar o olhar em um objeto. Por isso, seu melhor brinquedo é o rosto da mãe ou de quem exerce seus cuidados.
Levantar a sobrancelha, abrir e fechar a boca, mostrar a língua, fazer bicos com os lábios, piscar um dos olhos, falar em tom rítmico e de modo mais exagerado para o bebê são formas de brincar com ele. Mesmo que o tempo do brincar dure poucos minutos, ele pode acontecer na troca das fraldas, no banho, quando o bebê está deitado, mas desperto, ou mesmo no colo. O importante é que o bebê mostre-se disposto ao que está sendo proposto e não irritadiço.
Segundo mês de vida: incremento dos jogos faciais e a descoberta das mãos
A partir do segundo mês o bebê consegue focar mais a visão, ganhando um olhar mais aprimorado, demorado e cuidadoso. Interessado pelas faces e suas variações (ele reconhece, além do rosto da mãe, o rosto de outras pessoas familiares, como o pai), os jogos faciais se incrementam: se lhe é dado tempo para responder ao estímulo apresentado, como mostrar a língua, o bebê acaba imitando a expressão que ele observa – neste exemplo, mostra a própria língua. Para isso é essencial assegurar-lhe um tempo de observação e de resposta.
Da mesma forma que nos colocamos como imagem para o bebê, é importante que façamos para ele o papel de espelho, imitando suas expressões. Se ele sorri, devemos sorrir. Se ele boceja, bocejamos. Se ele emite um som, repetimos o som. Mostrar o bebê no espelho é mais um jogo que envolve o olhar. Mesmo que ele ainda não saiba que aquele bebê da imagem é ele, o que está em questão é a percepção/estimulação visual e a brincadeira.
Neste mesmo período, os olhos e a cabeça do bebê movem-se juntos na direção do objeto. Colocá-lo de bruços com dois objetos à sua frente (distantes entre si entre 30-35 cm) ou fazer movimento pendular com um objeto na frente do rosto do bebê (também mantendo certa distância dos olhos), leva-o a buscar tais objetos de um lado a outro. A brincadeira de pêndulo (ou movimento 180°) pode ser feita com um objeto que tenha som suave, como um chocalho.
O bebê entre 0-3 meses tem preferências: cores contrastantes (claro-escuro) e sons e movimentos rítmicos, com “subidas e descidas”, como o que foi experimentado no útero materno. Os brinquedos, que podem ser qualquer material disponível no ambiente, e brincadeiras devem levar em conta estas características. Balançar um chocalho incessantemente, sem ritmo, pode irritar o bebê.
Permitir ao bebê observar o balanço e a sombra de folhagens, o movimento do ventilador de teto e móbiles é uma ótima opção. Ainda não é hora de apresentar brinquedos com sons altos (se é que esse dia chega!). Em seu lugar, é preferível ouvir músicas em baixo som, com ritmo ascendente e descendente, como as clássicas ou canções de ninar.
Após o nascimento as pernas e braços do bebê encontram-se meio encolhidos e suas mãos fechadas. A partir do segundo mês, a mão fechadinha começa a se abrir e os dedinhos se separam. O bebê pode agarrar involuntariamente um objeto ou segurá-lo quando este é colocado em suas mãos. É o chamado reflexo de segurar. Se colocarmos nosso dedo ou uma argola na palma da mão do bebê ele dobra os dedinhos e segura o objeto. Neste “segurar” ele experimenta de modo bastante sutil diferentes sensações táteis. Quando ele solta o objeto é porque se cansou da brincadeira.
Embora possamos oferecer objetos para o bebê agarrar, o brinquedo mais acessível e, há de se pensar, divertido, nesta nova etapa são suas próprias mãos – o que nos faz lembrar que apesar de muito dependente o bebê já tem alguma autonomia. Conforme as mãozinhas abrem e os dedinhos se unem e se afastam, o bebê descobre, progressivamente, que suas mãos são sobem e descem, vão de um lado a outro, abrem e fecham, vão parar na boca! Além de divertido, chupar os dedos ou os punhos também é fonte de prazer para o bebê.
Terceiro mês de vida: brincar livre e o início da percepção da relação de causa e efeito
A partir do terceiro mês as brincadeiras com as mãos ficam mais intensas, em tempo e movimentos. Embora o bebê não consiga segurar voluntariamente o brinquedo, tudo o que está por perto vira seu alvo, levando o bebê a “bater” ou chutar o brinquedo desejado. Mesmo que o bebê bata ou chute acidentalmente o brinquedo ele percebe que há um movimento. O mesmo acontece quando ele balança um chocalho e escuta um som. O bebê começa a perceber a relação causa-efeito.
Aos três meses pode-se colocar o bebê para brincar livremente no chão. Ele deve ser colocado de costas, com objetos ao seu lado ou pendurados por cima dele. Não há necessidade de uma parafernália grande. Um edredom ou tapete de EVA e dois ou três brinquedos/objetos são suficientes para o bebê explorar o que tem ao seu redor. Os excessos são sempre um risco à superestimulação e, portanto, ao estresse. Paninhos, argolas, potinhos, chocalhos, refletores de imagem e mordedores com texturas diferentes e cores contrastantes são os brinquedos mais indicados para esta faixa etária. Livros com imagens simples, de plástico, tecido ou capa dura, também costumam agradar os bebê, mesmo que a história – ou nomeação de figuras – não chegue ao fim.
Brincar permite ao bebê estabelecer relações afetivas e aprender sobre si e o mundo. Por isso é essencial que nos momentos de interação mãe-bebê ou cuidador-bebê, estes lhe dirijam uma palavra, cantem e nomeiem ao bebê o que ele vê, escuta e, supostamente, sente. Aos poucos, é possível perceber quais são suas preferências e os limites entre a brincadeira gostosa e seu excesso (que leva ao desinteresse, cansaço ou estresse).
Lembre-se: embora exista no mercado uma infinidade de brinquedos destinados a esta faixa etária, o bebê precisa nos momento do brincar de poucos objetos e muito calor humano. O grande jogo é a troca afetiva.
Texto gentilmente cedido pela autora, publicado anteriormente no blog Ninguém Cresce Sozinho. Imagem de banco gratuito.
(*) Patrícia mora em São Paulo, é psicóloga e 2x mãe. Por acreditar que pequenas atitudes podem ser transformadoras, faz seu trabalho de formiguinha na vida e na profissão. É idealizadora do blog Ninguém cresce sozinho e nunca acreditou tanto na importância do trabalho do Milc quando, ao ler “Bruxa, Bruxa, venha à minha festa” para um grupo de crianças entre 2 e 8 anos, uma menina com 3 disse: “Olha a Barbie”, apontando para a chapeuzinho vermelho da história. www.ninguemcrescesozinho.com
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