Texto de Patrícia L. Paione Grinfeld*
O título, e tema, deste post foi inspirado no texto O dia em que parei de mandar minha filha andar logo, de Rachel Macy Stafford. Seu depoimento, que tem provocado lágrimas, suspiros, desespero e coragem em muitas mães (e pais!), espelha a realidade da grande maioria dos mortais: a infindável maratona de correr contra o tempo para dar conta de todos os compromissos, entre eles, os filhos!
Não é nenhuma novidade dizer que o tempo da criança nem sempre é o mesmo do relógio. Então, o que fazer para que a incompatibilidade destes dois tempos deixe de ser um problema?
Em seu relato, a autora conta como fez para que seu próprio tempo, cravado no tempo do relógio, não assolasse o tempo da filha, lembrando, inclusive, que é bem mais fácil banir o “anda logo” do vocabulário do que adquirir a paciência para esperar pela vagarosa criança. O grifo, aqui, é meu.
Quando não conquistamos este olhar, o ritmo da criança imprime a indelével marca do ser menos (rápida, capaz, esperta e por aí vai), anulando o extraordinário sentido da vagarosidade infantil: a genuína capacidade de observar, se interessar, explorar, questionar, descobrir, desfrutar.
Isto me faz lembrar a expressão de surpresa de um menino ao ouvir sua mãe contando que quando ela era pequena via anjos entre as nuvens. Penso que pela pressa, pelos tetos que nos cobrem, pelos muros que nos cercam, pelos processos que já vêm prontos, este menino talvez não tenha olhado – ou podido olhar – para o céu.
As crianças estão inscritas no mesmo ritmo frenético dos adultos. Mesmo brincar acaba, muitas vezes, entrando no pacote onde habitam as atividades extraescolares e as telas: o ter que se ocupar pela impossibilidade de viver a ociosidade do tempo, o não fazer nada, a falta. Se o tempo todo somos ou estamos “preenchidos”, não sobra espaço para imaginar, sonhar, criar, aprender, correr atrás. Assim estão crescendo nossas crianças.
Para ver anjos nas nuvens é preciso parar. Então, anda logo, não temos tempo!
Imagem da web. Texto original em inglês: aqui.
Texto anteriormente publicado no blog Ninguém cresce sozinho, gentilmente cedido pela autora.
(*) Patrícia mora em São Paulo, é psicóloga e 2x mãe. Por acreditar que pequenas atitudes podem ser transformadoras, faz seu trabalho de formiguinha na vida e na profissão. É idealizadora do blog Ninguém cresce sozinho e nunca acreditou tanto na importância do trabalho do MILC quando, ao ler “Bruxa, Bruxa, venha à minha festa” para um grupo de crianças entre 2 e 8 anos, uma menina com 3 disse: “Olha a Barbie”, apontando para a chapeuzinho vermelho da história. www.ninguemcrescesozinho.com
Tags: criança educação proteção à infância sociedade sociedade contemporânea sociedade de consumo