outros / publicidade de alimentos / 22 de outubro de 2015

Nossas memórias não precisam de tanto sódio

  texto de Vanessa Anacleto*  especial para o Milc

Memória afetiva. Quem não tem? Lembramos –  uns, às vezes, outros, volta e meia e muitos, sempre – da infância, de nossos pais e avós. Em casa, todos na cozinha ou em volta da mesa. Quem não possui recordação preciosa ligada ao estômago? As melhores lembranças são olfativas e degustativas.

Lembro da minha avó, a melhor cozinheira do mundo – assim como a sua , provavelmente – cujo tempero ia muito além do caldo pronto já que levava muito tempo – ah, o tempo – marinando. Nossas avós, nossas mães, nossas tias dedicavam algum tempo ao cozinhar e não precisavam de tanto sódio e glutamato monossódico . Muitas vezes elas pegavam o tempero no canteiro que cultivavam no quintal, de outras compravam fresquinho na feira. Invariavelmente cozinhavam de um dia para o outro sem pressa, dando tempo (sempre o tempo) à cocção, algo impensável em nossos dias. Sem pressa, como deve ser, cozinhavam comida de verdade. Lembrou. Corta para a passagem de tempo. Pronto, o tal do tempo passou.

Daí vem a fábrica do caldo e do tempero prontos, dos potes cheios de sabor artificialmente potencializado. Daí vem a fábrica com seu alto investimento em propaganda e encomenda um filme publicitário lindo para avivar nossas memórias afetivas. Propaganda para toda a família do netinho ao vovô. Muito bem produzida, a propaganda quer nos fazer acreditar – e há quem acredite – que nossas memórias são feitas de sódio e glutamato monossódico em excesso. O filme é bom, mas o produto não é. O produto é contraindicado à hipertensos e todos aqueles que desejam levar uma vida saudável.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a quantidade máxima de sódio que um adulto deve consumir diariamente é de  2  gramas. Um cubinho do caldo falsificador de sabor e memórias contém  22,11 gramas no ‘sabor  carne’ e 22,30 gramas no ‘sabor frango’  ( fonte http://prodietnutricao.com.br/blog)   . De cair o queixo. Mas o meu queixo caiu mesmo nesta sequência(**):

maggif

 

O jovem casal, angustiado, precisa alimentar o bebê, que chora. E como mágica, enquanto a mãe coloca o cubinho do caldo pronto na papinha da criança, o barulho do choro vai diminuindo. Assim, bem mais que nos despertar memórias, parece que a empresa quer mesmo é criar novos hábitos. Novos e errados. Pergunte a um bom pediatra o que ele acha de tempero pronto na comida dos bebês. Pergunte e corra da sala.

 A indústria pode até investir, fazer força e filme publicitário que concorra ao  Prêmio Profissionais do Ano, capaz de nos fazer crer que sódio em cubinhos cabe dentro das nossas memórias mais importantes. O fato é que não cabe. Caldo pronto, produto alimentício não saudável sequer deveria ter propaganda veiculada no Brasil, um  país com 17   milhões de hipertensos adultos e 3,5 milhões  de crianças ( dados da Sociedade Brasileira de Hipertensão.

A Nutricionista do Hospital Albert Einstein, Michelle Gil, adverte (**):

einstein

caldo-frango

Mas, fazer caldo em casa dá muito trabalho e perde-se tempo, alguém poderá dizer. É. ‘Perde-se” de 3 a 4 horas no preparo. Ganha-se qualidade de vida, e talvez até sobrevida. O site da Sociedade Brasileira de Hipertensão traz uma receita  de caldo de frango com um comentário que recomendamos:

“O caldo de frango caseiro dá sabor aos molhos, massas e guisados sem as altas concentrações de sódio comuns dos industrializados. Ao ferver a carne e as ervas no caldo, componentes aromáticos são liberados no molho, enriquecendo o seu sabor. Além disso, algumas vitaminas também são liberadas ao caldo. É aconselhável a retirada total da pele e da gordura do frango para a diminuição da quantidade de gordura saturada na preparação final. ”

Acesse a receita aqui: Caldo de Frango Caseiro

E para você que suspendeu a respiração com o cubinho cheio de sódio caindo em cheio na papinha do bebê, uma receita livre de aditivos que contribuem para hipertensão arterial infantil: Clique aqui para acessar a receita

papinha

Vamos combinar, tempero real é o de casa.  Filme publicitário é pura ficção.

Vanessa Anacleto é escritora, blogueira, co-fundadora do Milc, não usa caldo pronto e tem pressão arterial normal apesar de histórico familiar desfavorável.

** edição de imagens da propaganda postada em modo público pelo anunciante no You Tube.

*** Fonte da Imagem Alimentação para Hipertensos

****imagem do topo medicaldaily.com


Tags:  alimentação infantil comida de verdade comida industrializada papinhas publicidade de alimentos

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Mariana Sá




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