destaque_home / publicidade de alimentos / 23 de fevereiro de 2016

Comparando os alimentos industrializados

Texto de Nat Catuogno Consani*

uma garrafa de dois litros de refrigerante de uma marca conhecida e líder de mercado custa por volta de R$ 3,50. já a metade disso (um litro, portanto) de suco de uva integral dos mais baratos não sai por menos de R$ 9.

um pacote de 100 gramas de batatas fritas tipo salgadinho vale R$ 4,65. 45 gramas (menos da metade) de batata-doce assada em chips custam R$ 6,39.

um pacote de 80 gramas de biscoito recheado de marca líder é vendido por R$ 2. um pacote de maçã desidratada com apenas 45 gramas custa mais que o dobro disso.

um chocolate açucarado, cheio de gordura vegetal hidrogenada e com quase nada de cacau vai facilmente parar nas bolsas de compras por R$ 2. ao passo que uma bandeja com um “doce” adequado à saúde, como bananada sem açúcar, custa pra cima de R$ 10.

900 gramas de preparado à base de iogurte com sabor e cor artificiais de frutas custam R$ 8. um iogurte orgânico sem corantes não sai por menos de R$ 11.

o quilo da cebola está quase R$ 10. idem o do tomate. outro dia mesmo meia melancia custava R$ 9. e a maçã já passa de R$ 7 o quilo. uma posta de salmão custa R$ 25. se quiser temperar com endro e ervas frescas para agradar ainda mais o paladar de um filho, desembolse mais R$ 10.

um quilo de açúcar branco refinado da marca mais reputada não passa de R$ 2,60. ontem mesmo paguei R$ 15,75 pela mesma quantidade de mascavo.

e depois vem aquela propaganda dizer que a culpa da crescente obesidade infantil é das crianças manipuladoras que vão nos fazer passar vergonha na fila do supermercado e dos pais amedrontados ou preguiçosos que não educam seus filhos.

transformar em algoz a vítima é o golpe mais antigo de quem não tem os argumentos, a razão e o bom senso a seu favor.

a responsabilidade pela obesidade infantil certamente é compartilhada (ao contrário do que propõe a simplificadora e por isso mesmo tosca campanha publicitária).

mas os principais responsáveis estão fora da equação apresentada na TV (não por acaso). além do preço da boa alimentação e a dificuldade em encontrar bons produtos (pesquisei os preços acima em loja de supermercado classe-média; na perifa, metade do que eu citei nem vende), tem ainda o “detalhe” grosseiro, a cereja do bolo da dissimulação: não sou eu nem você nem nossos filhos que gastam alguns milhões de reais anualmente convencendo a nós mesmos e às nossas crianças de que biscoito é gostoso e “enriquecido” com ferro e sais minerais.

apenas.

Texto de Nat Catuogno Consani publicado em seu perfil pessoal e, gentilmente, autorizado para republicação no Milc.

(*) Natalie é mãe do Enzo, jornalista, blogueira, leitora, necessariamente nessa ordem. louca por livros, louca por música, louca por filmes, louca por um bom papo, louca por uma cerveja gelada com o marido, não necessariamente nessa ordem. pensando bem, um tanto louca no geral, escreve no blog mãederna.


Tags:  alimentação infantil obesidade produtos industrializados publicidade infantil saúde

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Mariana Sá




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