Somos um grupo de mães e pais, cidadãos preocupados com a saúde da próxima geração. Temos conhecimento de que a obesidade infantil é um dos principais problemas de saúde pública enfrentados pela humanidade atualmente e sabemos que os maus hábitos alimentares comprometem o bem-estar atual e futuro das crianças.
Sabemos também que a má nutrição infantil está intimamente relacionada com a influência da publicidade, que despeja sobre esse público doses maciças de mensagens que visam incentivar o consumo de alimentos de altíssimo valor calórico e baixíssimo conteúdo nutricional. Estamos falando refrigerantes, biscoitos, salgadinhos, pratos prontos, doces, guloseimas e demais produtos com altos teores de açúcar, sódio, gordura, carboidratos refinados, corantes, conservantes e outros aditivos potencialmente danosos à saúde. Se a dieta das crianças fosse baseada em alimentos naturais, frescos e integrais, preferencialmente orgânicos, a epidemia de obesidade infantil seria mais facilmente controlada.
Acreditamos que não existe tema mais importante do que a saúde das novas gerações para ser debatido 16.° Congresso Mundial de Ciência e Tecnologia de Alimentos. Os congressistas estão na vanguarda do conhecimento nessa área e a sociedade espera deles contribuições importantes para viver melhor. No entanto, tivemos conhecimento de que a relação entre a mídia e os maus hábitos alimentares deixará de ser abordada no congresso para não desagradar os patrocinadores.
Estarrecidos diante desse fato, temos perguntas a fazer:
- Os senhores têm conhecimento dos estudos que comprovam o poder da publicidade como formadora de hábitos desde a infância?
- Os senhores não acham que a investigação e a divulgação científicas deveriam estar livres de qualquer forma de cerceamento mercadológico?
- Os senhores acreditam que colocar o interesse dos patrocinadores acima do interesse público é ético?
Esta carta foi redigida pelos participantes do grupo Consumismo e Publicidade Infantil, que deu origem ao movimento Infância Livre de Consumismo. Ela foi redigida por cidadãos – mães e pais – inconformados com o estado atual das coisas, e que não aceitam mais que interesses corporativos escusos ditem as regras. Queremos ser ouvidos e respeitados, e queremos que assuntos importantes sejam mantidos nas pautas dos debates independente de interesses econômicos.