Comentário no facebook do Milc de Sarah Helena*
Essa semana perguntaram no facebook “por que você começou a fumar?”:
Não tive dúvidas. A propaganda da baleia voadora do Free. Eu considero aquela peça publicitária uma das coisas mais bonitas, mais poéticas, já feita para a TV. O problema é que ela, junto com todo o material publicitário do Free, era voltado para atingir os adolescentes, não os adultos. Aquilo conversava comigo, com meus anseios. Minha vontade de ser livre, de ir além, de me auto afirmar, de ver meus sonhos serem respeitados. E essa porra passava o dia inteiro. No meio do desenho animado, caras. Eu tinha doze anos e todo dia, durante os desenhos animados que eu assistia enquanto tomava leite com chocolate de manhã, estavam as propagandas do Free.
Que alvo mais fácil eu fui. Não adiantou tudo que meus pais sempre me disseram sobre vícios e saúde. Porque eu queria ser livre e ser livre também significava derrubar aquelas imagens caretas dos adultos (lembram dessa propaganda? o cara batendo e derrubando as pessoas de placas de madeira?). Então, esconder algo dos adultos era a coisa certa a fazer, não era? Não era isso que todas as propagandas de cigarro e bebidas me ensinavam?
Por isso eu sou sim, contra a publicidade voltada para crianças. Porque eu sei na pele o quanto uma criança é incapaz de se proteger da publicidade. Uma publicidade construída cuidadosamente para quebrar defesas. Eu tinha 14 anos quando me tornei fumante. Na mesma época, eu já tinha visto tv o bastante para saber que sempre que eu tivesse um problema, um cigarro e um destilado resolveriam tudo para mim.
O que tem de colorido nisso, hein Maurício? Minha geração tem índices obscenos de problemas com álcool e drogas.
A proibição de propagandas de cigarro, a proibição de propaganda de bebidas durante o dia, e quando eu vejo os adolescentes de hoje, que eles consomem muito menos merda do que minha geração, vejo que sim, proibição é solução nesse caso.
Então é assim. Propaganda tem que ter como alvo os adultos. Ponto. E se a publicidade não é capaz de se autorregular, que seja através de lei.
(*) Sarah é arte-educadora, escritora e artista visual. É mãe do André, que tem 9 anos e já reclama do excesso de propaganda. Ela respondeu a afirmação de Mauricio de Sousa sobre um suposto fim das cores e alegrias e liberdades decorrente da aprovação da resolução 163 do Conanda e Escreve no Talking is a free action.
Nota da editora: para encontrar a baleia mencionada pela autora, vimos listas e mais listas de comerciais de cigarro, inclusive esta onde encontramos o comercial é o 13º. Vendo estes filmes, percebemos a importância da proibição da publicidade de tabaco para a redução do consumo: os caras que faziam estes filmes eram realmente profissionais em atrair e seduzir, são filmes muito bem feitos. Acreditamos que em poucos anos teremos excelente resultados em relação ao consumismo infantil, à obesidade, ao estresse familiar e à adultização precoce, caso a resolução 163 seja respeitada efetivamente pelos anunciantes.
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