Texto especial para o Milc de Mariana Sá*
Não precisamos de regulação da publicidade dirigida à criança. Regulação é tutela! Regulação é censura! Regulação é o Estado se metendo na família brasileira! Regulação quem tem que fazer é cada pai e cada mãe.
Veja meu caso: cresci vendo Balão Mágico, Xuxa e Chaves e estou ótima! Não sou nenhuma consumista! Eu “fumava” cigarrinho de chocolate e hoje não tenho nenhum vício! Minha mãe me educou! Eu sabia que que não teria tudo o que via na tevê… Ah, claro que eu queria, mas eu fui ensinada que não dava para ser tudo.
Tenho filhos e educo eles como fui educada. Eles são ótimos! Nenhum é consumista. Nenhum faz birra no mercado. Eles sabem que quando posso dou, quando não posso não dou. Eu não proíbo nada não, eu converso: eles assistem de tudo, aprendem muitas coisas.
Sim, eles pedem as coisas a cada trinta segundos e eu explico para eles que não vou dar porque não posso dar tudo a cada trinta segundos. Sim, enche o saco, mas é minha função de mãe, né?
Não gosto da ideia de proibir publicidade para criança porque acho que é dos pais o dever de educar, de dizer não. Também não precisa de classificação indicativa, nem de rótulos muito detalhados: cada mãe deve selecionar o que filhos consomem: é papel dos pais fazer esta seleção e escolher o que é melhor para os filhos.
Acho que ninguém pode proibir a publicidade de dizer que tal produto vai deixar meu filho mais feliz, ou mais saudável, ou mais bem relacionado. Cabe a mim dizer a ele que isso é mentira. Eles podem mentir à vontade, é meu papel desmenti-los. É meu papel fazer com que meus filhos deixem de ser bestas e inocentes, afinal inocência é uma coisa que quanto mais rápido eles perdem, melhor.
Eles precisam se preparar para o mundo e a publicidade ajuda: quanto mais cedo as crianças souberem como o mundo lhes engana é melhor, se não crescem e viram uns abestalhados…
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Não precisamos de regulação da publicidade dirigida à criança. Regulação é tutela! Regulação é censura! Regulação é o estado se metendo na família brasileira! Regulação quem tem que fazer é cada pai e cada mãe.
Veja o meu caso: eu é quem proíbo tudo mesmo! Não vejo a menor necessidade de regulação para todos, porque qualquer pessoa pode fazer o que eu faço, basta deixar de preguiça e assumir seu papel. E é papel de cada mãe saber o que é melhor para o filho. Não quero o governo dizendo o que é bom para meu filho.
A informação está disponível, basta querer achar. Basta desligar tevê! Eu mesma vou todas as tardes para os parques, meus filhos não vêem tevê e quando assistem são coisas que eu escolho. Eu seleciono tudo o que meus filhos assistem. Vejo cada filme antes das crianças. Seleciono cada livros.
Não compro estes brinquedos de plástico cheio de personagens. Acho que não são boa influência. Mas não acho que precisa proibir. Os brinquedos dos meus filhos são todos feitos à mão. Tem artesãos muito legais por aí, basta querer.
Os alimentos também eu seleciono: nunca compro nada que tenha personagem porque sei que não é bacana. Se eu sei qualquer um pode saber, por isso acho que não precisa este negócio de proibir personagem. As mães hoje são muito preguiçosas, querem que o governo dê tudo de mão beijada.
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Eu! Eu! Eu!
Meu filho! Meu filho! Meu filho!
Na minha casa! Na minha casa! Na minha casa!
Parabéns que você não vê problema nas condutas comerciais das marcas e que consegue sozinha perceber, controlar e regular a mídia em sua casa!
Parabéns que você tem senso crítico, que consegue fazer leitura crítica de mídia e que consegue passar aos seus filhos!
Mas não é porque VOCÊ consegue tudo isso que a indústria e o comércio podem apontar um canhão para todas as crianças brasileiras: nenhuma criança estará salva enquanto existir alguma sob a mira precisa dos departamentos de marketing.
Vamos problematizar cada questão que se relaciona com o desenvolvimento saudável das nossas crianças!
Vamos aproveitar todas os olhares que nos ofereçam um ponto de vista diferente!
Vamos tirar benefício ao invés de ficar nesta resistência!
Vamos compartilhar as dicas para enquanto a regulação não vem, mas sem a prepotência de achar que serão suficientes para conter todos os prejuízos causados pelo marketing e pela publicidade dirigidos à criança.
Precisamos ser mães além do umbigo, gente!
(*) Mariana Sá é mãe de dois, publicitária e mestre em políticas públicas. É cofundadora do Milc e membro da Rebrinc. Mariana faz regulação de publicidade em casa desde que a mais velha nasceu e acredita que um país sério deve priorizar a infância, o que – entre outras coisas – significa disciplinar o mercado em relação aos direitos das crianças.
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