maternidade / 3 de agosto de 2015

Devaneios de uma mãe ativista

Texto de Debora Regina Magalhães Diniz*

Olho pra minha escrivaninha e vejo aquela bagunça clássica das escrivaninhas: papeis, contas, livros, muitos desenhos das crianças e vários lembretes: programar alguns posts na fan page do Infância Livre de Consumismo, programar posts no site da escola, ver se deu certo a arte para o álbum, ver se o host já solucionou os problemas na programação daquele novo site, imprimir o trabalho da Naná para a escola, ligar para a gestante e confirmar encontro pré-parto,  agendar a visita pós-parto de outra mulher (se a Dutra não estiver parada), não esquecer de comprar pasta de dentes, não esquecer do post para o blog da Elaine… putz, que dia é hoje? Meu Deus, a data limite era hoje!!!!  Respira, Debora, senta e escreve. Vamos lá…

 A maternidade mudou inexoravelmente minha vida. Eu sempre fui uma aquariana com ascendente em peixes disposta a mudar o mundo, mas a mulher que surgiu em mim depois dos partos quer mudar tudo, pra ontem. Quando vi, já estava completamente envolvida com o ativismo materno e todas as suas ramificações.  Eu passei a ser mais crítica e observadora do mundo que quero para mim e, principalmente, para meus filhos. Só que nessa luta para um mundo melhor, muitas vezes pede tempo e dedicação e, quando vejo, acabei deixando um monte de coisas que eu gostaria de ter feito, meio abandonadas.

Certa vez, durante uma grande movimentação ativista, eu estava preparando loucamente materiais para a causa quando vi meus filhos prepararem sozinhos um lanche para comer, brincavam entre eles e eu não estava lá. Bateu aquela velha conhecida materna, a dona Culpa. Ela veio me fazer uma visita, comentou se eu não achava que era um absurdo eu querer mudar o mundo quando minha casa estava um bagunça, meus filhos tinham de se virar sozinhos, eu queria cuidar de todas as crianças do mundo, de todas as mulheres, mas não cuidava da minha própria casa?

Ao contrário do que apregoa uma famosa revista por aí, eu não acho culpa ruim não, ela é aquela voz interna necessária pra nos dar um breque, para dar aquela chacoalhada, colocar uma pulguinha atrás da orelha. Quem nunca se sentiu culpada porque deixou as crianças dormirem sem banho, deu um chilique com os filhos, fez macarrão alho e óleo na janta ou esqueceu de lavar os uniformes da escola?

Parei o que estava fazendo, fui até as crianças e elogiei o fato delas estarem preparando seu próprio lanche. Então, meu filho fala: “nós estamos preparando um piquenique, depois nós vamos desenhar uns cartazes para a sua marcha, mamãe. Olha só, a gente está comendo coisas saudáveis e sem conservantes!” Olho pros meus três pequenos ativistas e me dá um orgulho danado! É, não sou uma mãe tão ruim assim.

Texto publicado anteriormente no blog Minha Casa tem Quintal, republicado com autorização da autora

(*) Debora é mãe de três, cofundadora do Milc, cursou Letras e Semiótica. É doula e educadora perinatal há 10 anos. Atualmente vive no Vale do Paraíba e é uma das coordenadoras da Roda Bebedubem. É ativista e implicante com a sociedade atual desde sempre. Co-fundadora do Milc e membro da Rebrinc


Tags:  ativismo maternidade ativa proteção à criança

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Mariana Sá




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