maternidade / 5 de agosto de 2015

Por que eu sou uma ativista da amamentação

Texto de Debora Regina Magalhães Diniz*
Como ativista da amamentação já falei sobre amamentação e ativismo diversas vezes. Percebi que em muitos dos textos eu falei única e exclusivamente da minha experiência pessoal que só foi satisfatória porque tive muito apoio de minhas amigas ativistas da amamentação e, por isso mesmo, eu também me tornei uma ativista, porque sabia o quanto são importantes essas ajudas, as palavras de apoio, o incentivo, a troca de informações, as dicas e, principalmente, o ombro amigo quando nossa vontade é desistir de tudo porque, definitivamente, amamentação não é moleza.

Então resolvi escrever esse texto para todas as mulheres que ainda não amamentam ou estão iniciando a amamentação, para aquelas que têm dúvidas, para aquelas que estão cansadas, doloridas, desencorajadas, CONTINUEM, confiem em vocês, confiem nos bebês, confiem nos seus peitos. TUDO acaba bem se vocês tiverem persistência, carinho, apoio e, principalmente, paciência.

Há muita campanha a favor da amamentação, muito se fala sobre o ato de amor e dedicação que é uma mulher amamentar seu bebê, quando estamos grávidas idealizamos que a amamentação será linda, que o bebê nascerá, virá até o peito, o leite descerá e c’est finit. Mas não é assim na grande maioria das vezes, há o lado B da história.

Após o parto, muitas vezes, o bebê não é colocado no peito assim que nasce, levam o bebê para ser medido, pesado, lavado, esfregado etc etc, nessa, a gente já perdeu o primeiro momento de ligação, porque o bebê nasce com o reflexo de sucção super bom, mas depois de um tempo ele vai entrar num estado de letargia, ou seja, tem que começar tudo do começo.

Muitos hospitais costumam dar complemento no berçário, quer dizer, ele estará de barriga cheia e óbvio que não irá querer pegar o peito. Se o bebê não for para o peito, tudo demora mais, demora mais para sair colostro, demora mais para descer o leite. E tem mais uma coisa, o leite mesmo, demora uns 3 dias ou mais para descer, aquela aguinha que sai do peito chama-se colostro, é um antibiótico natural importantíssimo para o bebê, não vem numa baita quantidade, mas é o suficiente para o recém-nascido. Tem mulher que fica apavorada e acha que tem pouco leite lá vai o bebezinho tomar complemento!!!

Então, lá estamos nós, cansadas do parto, tentando encontrar uma maneira de dar de mamar, meio sem jeito, meio com medo e começam a chegar as visitas. O mais interessante é que cada um que chega dá uma opinião diferente, tem até os inconvenientes que mandam você colocar o bebê para mamar para eles assistirem. Teve uma visita que chegou a pegar no meu peito e tentar enfiar na boca do meu filho. Oi??? Como uma pessoa vai conseguir amamentar se não consegue sequer ter paz? Conselho: bota marido, amiga, de leão de chácara, alguém que tenha cara de pau suficiente para falar para as visitas que você está descansando e que não será incomodada. Melhor, avisa as visitas para aparecerem só depois de 15 dias. 

Então, finalmente desce o tão aguardado leite. Minha amiga, já ouviu falar de Cicciolina? Fafá de Belém? Pois é. Desce duma vez. Peito fica gigante, bicos duros e a gente lá, sem saber o que fazer. A solução é: ordenha. É claro que no inicio não se sabe fazer, por isso é legal usar bombinha elétrica ou, melhor ainda, ir até um banco de leite, lá eles tirarão o excesso de leite e ainda ensinarão a fazer a ordenha manual.

Outra dica importante: peito não pode ficar machucado. Se o peito estiver machucando, se estiver doendo, é sinal que a pega do bebê está errada. Isso mesmo, precisa observar se a boca do bebê está como a de um peixe, lábio superior para cima, lábio inferior para baixo e abocanhando todo o aovéolo. A imagem abaixo mostra o modo certo.

Bom, desceu o leite, a pega está certa, as visitas já foram embora… agora vai! Depende, ainda esqueci de contar a parte que o bebê chora. Mas já tá tudo esquematizado, a cadeira de amamentação foi comprada, o quartinho tem luzinha suave e apetrecho que imita o mar, programou o celular para tocar a cada 3 horas para amamentar e o bebê ainda chora. Os pitaqueiros de plantão irão dizer que é cólica, que é fome, que é frio, calor e, claro, que seu leite é fraco.

Imaginem a seguinte situação, você fica durante nove meses num lugar agradável, quentinho, sentido o gosto da mãe o tempo todo, sentindo o movimento do corpo dela e sendo alimentado constantemente via cordão umbilical. De repente, você sai desse lugar, não tem mais balancinho frequente, não é mais alimentado constantemente, não está mais sentindo cheiro/gosto da mãe, o que você faria? Choraria muito, né não?

Quer ter bebê calminho, feliz e bem alimentado? Livre demanda é a solução. Dê peito sempre que o bebê pedir, é a ligação dele com você. 

Tá bom, você me responde, e que horas eu durmo? Que horas como? Que horas vou ao banheiro? Eu só posso responder que, nesses momentos iniciais após o parto, você precisa de ajuda. Pode ser o marido, a companheira, a amiga, a mãe, a vizinha. Alguém precisa cuidar do resto para você poder descansar para produzir leite e amamentar. Não dá para ficar no “normal” depois de noites sem dormir, sem poder descansar a sensação é de total desespero, vontade de desistir, sair correndo. Ajuda é fundamental.

Depois de um tempo, tudo se encaixa. A amamentação fluirá naturalmente, a vida seguirá seu curso natural e mãe e bebê já estarão totalmente entrosados. Quando menos esperar estará fazendo suas atividades normalmente com bebê no peito. Mas, até lá, conte com a ajuda e o apoio de todas as ativistas da amamentação.

 Leia mais: Já falei sobre amamentação e attachment parenting, sobre desmame, sobre minha história de 6 anos amamentando

Texto publicado anteriormente no blog pessoal de Debora e republicado aqui com autorização da autora

(*) Debora é mãe de três, cofundadora do Milc, cursou Letras e Semiótica. É doula e educadora perinatal há 10 anos. Atualmente vive no Vale do Paraíba e é uma das coordenadoras da Roda Bebedubem. É ativista e implicante com a sociedade atual desde sempre. Co-fundadora do Milc e membro da Rebrinc

 


Tags:  #MilcDaMamãe #smam #smam2015 aleitamento materno amamentação ativismo

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Mariana Sá




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