criança e mídia / destaque_home / 25 de fevereiro de 2019

Por que é tão difícil limitar o tempo de telas das crianças?

Texto especial para o Milc de Vanessa Anacleto*

Muito tempo na tela faz mal e todo mundo sabe. Ouvimos o tempo todo recomendações dos especialistas, nos lembramos vagamente como era bom ser criança antes da era da internet, vemos efeitos nocivos de tanta exposição nas crianças e, mesmo assim, não somos capazes de limitar o tempo de tela das crianças.

Tem que tomar o banho, tem que comer direitinho, tem que escovar os dentes após as refeições. Já o tempo de tela… O que será que nos amarra quando o quesito é educar para o uso das novas tecnologias?

Fazendo um esforço em buscar a origem do problema podemos dizer que nós, as mães e pais, não estamos, na maioria das vezes , próximos das crianças quando elas estão usando e abusando das telas. E, ao que parece, o adulto responsável, mãe, pai ou cuidador, no momento, simplesmente deixa o negócio acontecer. Mas, por quê?

Por que criança na tela é uma coisa a menos pra gente tomar conta. Dói dizer isso, mas é verdade. Os adultos estão sempre com milhões de tarefas e as crianças não brincam mais soltas no quintal ou na rua. Seja porque não existe mais quintal, vivemos em gaiolas de concreto (com, no máximo, uma varandinha), seja porque a rua não é mais dos seus moradores. E criança precisa brincar. Criança demanda o brincar, merece o brincar e precisamos deixar ela brincar. A brincadeira é a coisa mais séria da infância.

“Então, toma, brinca aqui com o meu celular”

Porque criança na tela come mais fácil. É só empurrar qualquer coisa vendida pela tela, qualquer porcaria que enche barriga mas não nutre, qualquer porcaria colorida com muito açúcar e um personagem querido. E  até mesmo quando a criança não come ainda tem jeito.

“Então toma aqui um copo de achocolatado vitaminado que dizem servir de substituto para uma refeição, apesar de repleto de açúcar.”

Porque quando uma criança está fora da tela, começa a pressão que a faz sentir estar fora do grupo social. “Todo mundo já tem celular e está no grupo do Zap, mãe”. “Todo mundo é muita gente”. Ninguém gosta de saber que o filho não está sendo aceito. Ninguém gosta de saber que o filho não está sendo aceito porque é opção da família evitar as telas antes de determinada idade.

“Então tá, toma aqui um celular de última geração, melhor que o meu, pra você poder se sentir igual a todo mundo.”

E daí a criança não desgruda mais daquela tela. Atividade que faz mal, que:
– limita a criatividade 
– causa problemas na visão
– induz ao consumismo
– provoca sedentarismo
– influencia (mal) as escolhas alimentares
– limita o brincar livre
– prejudica o contato com a natureza e com a rua (depois de muita exposição fica mais difícil convencer a criança a fazer programas ao ar livre)
– pode causar dependência em crianças que já tenham propensão (a criança fica louca pra voltar pra casa e estar na tela passa a ser sua atividade favorita. Ela prefere a atividade perante a tela a qualquer outra com interação humana)

É difícil até pra nós, adultos. Quem nunca acessou a rede pelo celular só pra resolver uma coisa rápida e perdeu a hora? Imagine para eles que são pequenos e dependem de nós.

Nota: Este texto não aponta dedos, estamos nos colocando no mesmo lugar que qualquer mãe e pai que leia e sinta que a carapuça serviu. Estamos com a carapuça enterrada na cabeça. Vamos continuar nadando. #tamojunto

(*) Vanessa Anacleto é mãe do Ernesto, blogueira e autora do livro Culpa de mãe. Por causa disso tudo, ajudou a fundar o Milc e luta por um futuro sem publicidade infantil. É autora do blog materno Mãe é Tudo Igual e membro da Rebrinc


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