Texto especial para o Milc de Debora Regina Diniz, Mariana Sá, Vanessa Anacleto*
Neste mês, completamos três anos de Milc. Não foi um filho planejado. Nasceu por impulso de cabeças de mães e pais dentro de um grupo de discussão. O que nos moveu foi o cansaço de sermos sempre apontadas como responsáveis de todas as mazelas da sociedade – “onde está a mãe deste menino?” – e especialmente do cansaço com a desonestidade intelectual dos que afirmavam que não era necessário controlar os anunciantes, que bastava que as mães controlassem seus filhos.
O Milc nasceu para fazer contraponto a uma página mantida por uma associação de publicitários que afirmava no seu nome que todos eram responsáveis pela infância, mas que em cada uma das suas matérias citavam apenas o que os pais deviam fazer para proteger seus filhos. Esta página entrevistava celebridades, acadêmicos, colunistas, juristas e mães em busca de dicas de como devíamos cuidar dos nossos filhos.
Em momento algum a página referida buscou ensinar aos seus associados que as suas práticas antiquadas e desrespeitosa estavam em conflito com a lei. Ou mesmo problematizou práticas já “naturalizadas” que vão contra a ética de prioridade para a criança. Em momento algum tomou a iniciativa de reunir os clientes e avisar que daquele momento em diante toda publicidade de produtos infantis deveria ser dirigida aos pais, nunca mais diretamente à criança. Será que algum deles aconselhou seus clientes a não fazerem os merchandisings e os product placement em produções audiovisuais infantis?
O Milc deu frutos e viajou pelo Brasil. O Milc foi ao Congresso Nacional, Assembleias Estaduais, Mesas de Debates do Ministério Público Federal e Estaduais. O Milc foi a Universidades, Centros Médicos, Escolas, Praças e até às telas de vocês.
Vimos muita água passar por debaixo da ponte e hoje temos muito a comemorar além do nosso aniversário e da nossa existência. São acontecimentos que reforçam a ideia de que o Brasil precisa de informação produzida por mães para mães. São passos fundamentais dos quais fizemos parte, mesmo sem ter sido os protagonistas. Olhem só:
– Feira de Trocas de Brinquedos em todo o Brasil desde 2012, fazendo parte dos calendários de diversas cidades brasileiras;
– Lançamento de diversas produções cinematográficas tratando do tema criança e consumo;
– Proibição de ações de merchandising em produções audiovisuais infantis;
– Suspensão de diversas campanhas publicitárias, como Parque da Xuxa;
– Criação da Rede Brasileira de Infância e Consumo;
– Aprovação da Resolução 163 do Conanda;
– Publicidade infantil como tema do Enem de 2014.
O assunto está na pauta e o Milc está de olho!
(*) Debora é mãe de três, cofundadora do Milc, cursou Letras e Semiótica. É doula e educadora perinatal há 10 anos. Atualmente vive no Vale do Paraíba e é uma das coordenadoras da Roda Bebedubem. É ativista e implicante com a sociedade atual desde sempre. Co-fundadora do Milc e membro da Rebrinc
Mariana é mãe de dois, publicitária e mestre em políticas públicas. É cofundadora do Milc e membro da Rebrinc. Mariana faz regulação de publicidade em casa desde que a mais velha nasceu e acredita que um país sério deve priorizar a infância, o que – entre outras coisas – significa disciplinar o mercado em relação aos direitos das crianças.
Vanessa é mãe do Ernesto, blogueira e autora do livro Culpa de mãe. Por causa disso tudo, ajudou a fundar o Milc e luta por um futuro sem publicidade infantil. É autora do blog materno maeetudoigual.com e membro da Rebrinc
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