Texto especial para o Milc de Mariana Sá*
“As meninas podem ser o que elas quiserem, inclusive princesas” é a frase que tenta encerrar o debate sobre a escolas de princesa e as iniciativas que se contrapõem a essa.
Porém a ideia do “ser princesa” vai muito além do rosa, das saias rodadas e das purpurinas: aliás, se fosse apenas isso, a ideologia do “ser princesa” seria inofensiva.
A questão é: o que significa ‘ser princesa‘ para as escolas de princesas?
E o que significa ‘ser roqueira‘, ser uma menina livre ou desprincesar-se para as oficinas em formatos diversos de que se proliferam Brasil afora?
As oficinas surgem justamente em oposição a estes espaços em que as meninas (apenas as meninas!) aprendem a se comportar “como princesas”? A escola de princesa ganhou destaque muito na mídia e que já foi bastante criticada pelo Milc e por outros movimentos exatamente por se aproveitar da fantasia e da imaginação das meninas para incutir conceitos que estereotipam as meninas e reduzem a sua potência criativa e suas possibilidades de felicidade e bem-estar.
A escola de princesas – de acordo com o que a sua idealizadora já disse em entrevistas – é um espaço onde a estética da fantasia de que significa ‘ser princesa’ disfarça uma a ética perniciosa quando reduze o papel e a função da mulher no mundo e na sociedade.
Me parece aceitável que uma menina goste de brilhos e babados (da mesma maneira que achamos aceitável o fato dela não gostar) e que as mães aceitem, respeitem e até que curtam junto. Mas a estética das purpurinas nas escolas de princesa disfarçam uma ética da subserviência e uma reprodução do machismo com zero criticidade ao sistema patriarcal que se mantém oprimindo e matando as mulheres.
Nos agrada mais as propostas que dizem às meninas que elas podem ser o que elas quiserem, mas que não precisam ser doces, bonitas e amáveis para que sejam aceitas, respeitadas e amadas. Não é questão de princesa ou roqueira apenas na estética, mas também sobre a ética e os valores que são transmitidos por trás de cada uma das imagens e mensagens.
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Quatro iniciativas que incentivam o empoderamento de meninas:
- Girls Rock Camp – http://www.girlsrockcampbrasil.org/
- Oficina de Desprincesamento – https://www.facebook.com/desprincesamento/
- Oficina de Meninas Livres – https://www.facebook.com/cursoparameninaslivres/
- Marias vão com as Outras – https://www.facebook.com/MariasVaoComAsOutras
(se souber de outras iniciativas, deixe nos comentários)
Texto editado a partir de comentários e postagens no perfil do Milc no Facebook.
Imagem Kate T. Parker, idealizadora do projeto ‘Strong is the new Pretty‘, porque não é só no Brasil que estamos precisando mudar a maneira de criar meninas.
(*) Mariana Sá é mãe de dois, publicitária e mestre em políticas públicas. É cofundadora do Milc e membro da Rebrinc. Mariana faz regulação de publicidade em casa desde que a mais velha nasceu e acredita que um país sério deve priorizar a infância, o que – entre outras coisas – significa disciplinar o mercado em relação aos direitos das crianças.
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