Texto de Patricia Leekninh Paione Grinfeld*
(Nota da editora: recentemente publicamos textos sobre a importância de afastar os bebês das telas, nossa colaboradora Patrícia publicou no seu blog dicas de brinquedos e brincadeiras no seu blog que reproduzuremos aqui no Milc. Leia a série: Meu filho só gosta da tevê e de mim e Meu filho não sabe brincar sozinho. Publicamos também as recomendações de brinquedos e brincadeiras para bebês de 0 a 3 meses.)
Os primeiros meses de vida do bebê são marcados por intensa relação fusional com a mãe, que é quem o conecta ao mundo. O bebê vive como se ele e a mãe fossem um só. Ela, por sua vez, interpreta o que ele sente e tenta, o mais prontamente possível, atender às demandas do novo serzinho. No brincar, empresta-se ao bebê, fazendo de seu corpo o melhor brinquedo para o filho.
A partir do terceiro mês o bebê começa a reconhecer partes de seu corpo como sendo suas e não como extensão materna. A presença humana continua sendo imprescindível, não apenas porque garante a segurança física e emocional para ele continuar suas explorações, mas principalmente pela relação afetiva estabelecida entre dupla nos momentos do brincar.
Conquistas corporais que incrementam o brincar
Aos quatro meses, a maioria dos bebês já fixa o olhar, contemplando o que observa. Sua cabeça e olhos movem-se na mesma direção, e suas mãos se endereçam para o que ele quer, sejam pessoas ou objetos. Os movimentos de rolar são ensaiados com o balanceio das pernas sobre a barriga, permitindo-o em pouco tempo rolar nos dois sentidos. Como tudo é novidade, até o bebê pode se surpreender com suas novas conquistas. Se apoiado a continuar, ele nunca desistirá de seguir adiante com suas investigações.
As mãozinhas deixam de ser apenas observadas; elas são levadas para boca e o que em algumas semanas atrás era apenas um “agarrar acidental” torna-se um “apreender intencional”. Diante de um pêndulo o bebê pega o objeto em geral com as duas mãos. Por volta do quinto mês, ele toma posse do objeto com apenas uma das mãos, e do sexto, troca o objeto de uma mão para outra.
Não podemos esquecer que a boca do bebê também o diverte muito. O bebê curte não apenas os sons que ouve, mas também os que ele produz. Por volta dos quatro meses, alguns bebês produzem sons ainda sem significado como ma-ma, pa-pa, da-da. Aos seis meses, imitar é o grande barato, levando-o a tentar reproduzir qualquer som monossilábico. Nesta faixa etária, mostrar a língua e fazer bolinhas com a saliva não é falta de educação, mas uma grande descoberta daquilo que eles próprios podem fazer!
Entre o quarto e o sexto mês os bebês desenvolvem a capacidade de sentar. Inicialmente precisam de apoio, mas no final do primeiro semestre muitos já se sentam sem nenhum suporte nas costas.
Segurança
Rolando e levando objetos na boca, todo cuidado é pouco. Os bebês jamais devem ser deixados sozinhos em locais sem proteção, como camas, trocadores ou sofás, nem devem ter acesso a objetos com diâmetro inferior ao de um rolo de papel higiênico. E como tudo vai parar na boca, o ideal é que possam ser laváveis.
Os brinquedos, as brincadeiras e os espaços para brincar
Brincar é mais que entretenimento; é a forma como o bebê descobre a si mesmo e ao mundo. Seu corpo é o “brinquedo” que lhe dá mais autonomia. Por isso, não se deve impedi-lo de colocar dedos, mãos, punho e, posteriormente, os pezinhos na boca, nem de rolar por medo de asfixia. Quando o bebê é capaz de rolar, ele já sustenta a cabeça e arqueia as costas, impedindo que seu rosto se “cole” à superfície onde ele se encontra.
Para explorar seu próprio corpo e o que tem à sua volta, o chão torna-se um excelente lugar para o bebê brincar, sem riscos de queda e com a possibilidade dele escolher a posição que lhe é mais confortável. Edredons ou tapetes de EVA cumprem com a função de não deixar o chão duro numa eventual batida de cabeça.
Os momentos de brincar não se limitam a um horário específico. No colo, no banho, no trocador, no carrinho, no berço ou no chão, o bebê deve ser convidado ao olhar, à fala, à escuta, ao toque, à imitação. Ele precisa que o adulto o convide a explorar seu meio com todos os sentidos. Isto é brincar!
Livrinhos de tecido ou plástico, pequenos potes, fitas de cetim, pedaços de pano, bichinhos ou bonecos macios, argolas, bolinhas, cubos, objeto espelhado, chocalhos e mordedores garantem a diversão, especialmente quando têm cores primárias, que são as que mais agradam os bebês nesta faixa etária. Gavetas e armários da cozinha, caixa de aviamentos e lixeiras com recicláveis contém objetos tão ou mais interessantes do que os comprados prontos. Quanto mais simples, melhor. Basta serem seguros e higienizados.
Sons de brinquedos atraem os bebês pela relação causa-efeito. Isto significa que não é preciso brinquedos que cantem ou falem (aliás, eles costumam, com o tempo, mais irritar do que agradar). Um chocalho, que pode ser feito com um pouco de macarrão, feijão, arroz ou milho em frasco bem vedado, atende bem às necessidades do bebê. Os sons produzidos pelo bebê também o divertem, permitindo o jogo de imitações. Desta forma, vale repetir os sons e bocas que ele faz e depois convidá-lo a repetir os nossos, seja face a face ou em frente ao espelho.
Tapetões com arco e penduricalhos são bastante atraentes para os bebês desta faixa etária, mas como seu uso se limita a uma superfície plana e a um tamanho de bebê (os bebês grandes, aos seis meses, ficam “apertados” embaixo do arco), uma boa opção é substituí-los por pendentes construídos com barbantes, fitas, elásticos largos, tampas de plástico, pedaços de tecido e o que mais a criatividade encontrar. Tais pêndulos têm a vantagem de poder ser reinventados e fixados nos berços, carrinhos, entre pés de mesa ou cadeira, ou simplesmente ser segurados por quem está com o bebê.
As cadeiras de atividades, embora vendam o benefício da segurança e do entretenimento, não dão ao bebê a tão importante mobilidade corporal, e, por consequência, a opção de escolher como e com o quê quer brincar. Por isso atendem mais às necessidades do cuidador, que precisa de um tempo para algum afazer, do que do bebê. A estas cadeirinhas costumam se adaptar melhor os bebês que têm menor oportunidade de livre exploração.
Embora os brinquedos comecem a fazer parte do cenário do bebê, é fundamental lembrar que a presença humana conectada ao bebê é essencial para que os humanos desenvolvam a capacidade de ficar só. Nesta etapa da vida, brincar sozinho significa ter a oportunidade de escolher a brincadeira: rolar, chutar, colocar a mão na boca, dar gritinhos e assim por diante. Aos poucos, conforme o bebê sente-se seguro com a presença física de alguém a ele conectado (não basta um corpo!) ele vai podendo brincar só sem que isto represente solidão, sentimento de abandono, desintegração ou mesmo uma defesa contra o ambiente. Este tempo vai aumentando conforme o bebê cresce amparado por esta conexão humana.
Neste processo de reconhecimento do outro como não sendo extensão de si próprios, os bebês precisam ser ajudados nas situações de ruptura para que elas não sejam vivenciadas com angústia excessiva. As brincadeiras de Cadê-Achou ajudam-nos elaborar a ideia de que quem desaparece (vai embora), reaparece (volta). Esconder-se rapidamente atrás da roupinha que vai ser vestida, da toalha de banho, de um livrinho ou paninho é divertido e psiquicamente estruturante. Por isso, nada de sair de perto do bebê sem avisar aonde vai.
Brincar sozinho é bom, mas não o suficiente para um crescimento saudável. Momentos singelos, como a troca da fralda ou o banho devem incluir brincadeiras de interação. Nesse brincar, ganha o bebê e ganha o cuidador, já que ambos estreitam ainda mais seu laço afetivo. Brincar também é se relacionar, aprender estar junto e separado.
Texto gentilmente cedido pela autora, publicado anteriormente no blog Ninguém Cresce Sozinho. Imagem da web.
(*) Patrícia mora em São Paulo, é psicóloga e 2x mãe. Por acreditar que pequenas atitudes podem ser transformadoras, faz seu trabalho de formiguinha na vida e na profissão. É idealizadora do blog Ninguém cresce sozinho e nunca acreditou tanto na importância do trabalho do Milc quando, ao ler “Bruxa, Bruxa, venha à minha festa” para um grupo de crianças entre 2 e 8 anos, uma menina com 3 disse: “Olha a Barbie”, apontando para a chapeuzinho vermelho da história. www.ninguemcrescesozinho.com
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