Texto de Patricia Leekninh Paione Grinfeld*
(Nota da editora: recentemente publicamos textos sobre a importância de afastar os bebês das telas, nossa colaboradora Patrícia publicou no seu blog dicas de brinquedos e brincadeiras no seu blog que reproduzuremos aqui no Milc. Leia a série: Meu filho só gosta da tevê e de mim e Meu filho não sabe brincar sozinho. Publicamos também as recomendações de brinquedos e brincadeiras para bebês de 0 a 3 meses e para bebês de 4 a 6 meses.)
Entre o sexto e nono mês de vida o bebê adquire algumas competências que mudam por completo a maneira como ele vê e é visto pelo mundo: senta sem apoio, rasteja e engatinha (alguns ficam em pé com apoio). Ao mesmo tempo, outras conquistas motoras, como os movimentos de pinça (junção do polegar e indicador) e de transferência de um objeto de uma mão para outra com intencionalidade, incrementam e ampliam suas possibilidades de exploração. Olhos, mãos e boca passam a trabalhar coordenados.
Em realizando mais movimentos, o bebê passa a ter mais autonomia, podendo encontrar outras formas de realizar o que deseja e de se comunicar (desde esticar os bracinhos quando quer colo, até balbuciar – inicialmente, duas sílabas, como “ma”, “pa”, “ba”, ainda sem nenhum significado). Como resultado dessa autonomia, os pedidos de colo e os choros diminuem consideravelmente. Sua sociabilização se amplia, o que leva muitos pais a considerar essa como uma das fases mais gostosas de estar com o bebê.
Ao contrário da ideia de “quanto mais o bebê se movimenta, mais ele precisa estar contido” (vide a oferta de produtos que “prendem” o bebê em um determinado espaço físico), esse é um momento em que o bebê precisa de uma área ampla e segura para se movimentar com liberdade. Rever os espaços da casa é fundamental, assim como garantir o conforto das roupas e sapatos.
Limitar o movimento do bebê mantendo-o em berços, cercadinhos, carrinhos, cadeirinhas, bebê-conforto ou similares é inibir sua capacidade de interação, exploração, descoberta e aprendizagem. Em outras palavras, é desperdiçar suas potencialidades que pulsam com tanto vigor e contribuem diretamente para seu desenvolvimento físico, psíquico, cognitivo e social. Aqui vale uma nota: a liberdade de movimento e exploração nessa faixa etária é o maior estímulo que o bebê pode ter.
Se não é possível ter um adulto cuidador dedicado ao bebê durante todo o tempo em que ele está desperto, é importante garantir algum espaço em que ele possa estar seguro, preferencialmente podendo olhar e ser olhado a certa distância pelo cuidador, para que não lhe reste como única alternativa estar contido em uma dessas parafernálias que só trazem benefício ao cuidador.
Não podemos esquecer que o bebê explora e conhece o mundo com todo o corpo. Utiliza-se de seus olhos, mãos, pés, pernas, braços, barriga, boca. Daí a necessidade de um ambiente que propicie, além da segurança, diversidade de experiência motora e sensorial. Diversidade, no entanto, não significa quantidade de brinquedos, mas variedade de formas, texturas, sons, tamanhos, materiais e volumes com os quais o bebê possa estar em contato nos momentos de vigília.
Para um bebê se mexer, conhecer, comparar, reconhecer, interrogar, relacionar, questionar, querer e aprender não é preciso disponibilizar brinquedos sofisticados. Aliás, como a maioria desses são feitos de plástico e de sons eletrônicos, estes são os menos recomendáveis, na medida em que não oferecem a variedade de estímulo sensorial e motor que o bebê necessita.
Uma ideia bem interessante para fugir dos brinquedos plásticos e com sons eletrônicos é criar para o bebê o chamado cesto dos tesouros, que deve conter elementos do cotidiano da família (aqueles que não têm cara de brinquedo, mas são, ao menos sob a experiência do bebê, como os sugeridos por Illan Brenman em Isso não é brinquedo!). Além de oferecer uma gama de experiências, o bebê tem a possibilidade de explorar objetos “proibidos”, mas extremamente interessantes para ele e para o desenvolvimento de sua percepção, raciocínio e motricidade.
Veja este vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=_aavCuKmMvc
Outros objetos que não podem faltar na caixa de brinquedos dos bebês dessa faixa etária, e maiores, são:
– Blocos, caixas e potes de tamanhos distintos: trabalham principalmente a coordenação motora e a possibilidade de conter e esconder um dentro do outro.
– Tecidos e/ou fitas de tamanhos, estampas e texturas diversas: propiciam o treino de pinça fina e permitem a brincadeira de esconde-esconde.
– Brinquedos macios: no chão, tornam-se obstáculos ao corpo do bebê. Na boca, massageiam a gengiva que se prepara para a erupção dos dentinhos. Como os paninhos, podem se transformar num objeto transicional.
– Objetos com sons variados.
– Objetos refletores: espelho, panela de alumínio, bacia de inox.
– Elementos da natureza: casca de árvore, folha, pinha, etc.
– Fantoches e dedoches.
– Bola, cilindro, argola.
Um “brinquedo” que os bebês adoram, mas nem sempre lhes é dada a oportunidade para explorá-lo, é a comida. As refeições podem ser muito prazerosas se ao bebê for permitido explorar com as próprias mãos aquilo que ele come e os utensílios que compõem esse momento, como pratos, talheres, copos e babadores. Um divertido e inspirador livro infantil que aborda essa questão é o Não brinque com a comida!, de Dalcio Machado.
Embora os bebês com seis meses ou mais dispendam um bom tempo brincando sozinhos, a presença de um adulto cuidador é imprescindível em grande parte do tempo. É nessa presença física e afetiva (concomitantes) que o bebê constrói o senso de segurança e sua capacidade de estar só – sem falar no sempre necessário fortalecimento do vínculo.
A partir dos seis meses, o bebê começa a ter noção de que ele é um ser mais integrado e diferente daqueles com quem ele se relaciona, o que torna fundamental a participação do adulto em uma das mais importantes e prediletas brincadeiras do bebê nessa fase da vida: as brincadeiras de descontinuidade. Entre elas, os clássicos jogos de arremesso de objetos e Cadê? Achou!.
Mesmo que o bebê brinque de esconder um objeto numa caixa ou debaixo de um paninho, ou jogue para longe a colher durante a refeição, é fundamental que o adulto participe desses jogos. Na medida em que simbolizam a presença e a ausência (o aparecer e o desaparecer), eles ajudam a criança tanto no processo de diferenciação eu-outro quanto a suportar os momentos de separação mais duradouros, como por exemplo, a saída dos pais para o trabalho. O que pode parecer bobo ou demasiadamente repetitivo para o adulto é essencial para o bebê. Por isso, brinque muito com ele e, junto, ouse a descobrir e experimentar brinquedos que não têm nome de brinquedo, mas são de uma riqueza ímpar para o desenvolvimento do bebê!
Texto gentilmente cedido pela autora, publicado anteriormente no blog Ninguém Cresce Sozinho. Imagem de banco gratuito.
(*) Patrícia mora em São Paulo, é psicóloga e 2x mãe. Por acreditar que pequenas atitudes podem ser transformadoras, faz seu trabalho de formiguinha na vida e na profissão. É idealizadora do blog Ninguém cresce sozinho e nunca acreditou tanto na importância do trabalho do Milc quando, ao ler “Bruxa, Bruxa, venha à minha festa” para um grupo de crianças entre 2 e 8 anos, uma menina com 3 disse: “Olha a Barbie”, apontando para a chapeuzinho vermelho da história. www.ninguemcrescesozinho.com
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