criança e mídia / destaque_home / 5 de janeiro de 2018

Guia Milc: como as crianças podem navegar com mais segurança no YouTube

Texto especial para o Milc de Vanessa Anacleto* 

Desde que começamos a falar sobre vídeos de unpacking (ou unboxing) – nos quais crianças aparecem desembrulhando brinquedos e produtos infantis fazendo caras e bocas de surpresa e animação de modo a estimular outras crianças a desejarem e pedirem os produtos aos pais – recebemos muitos pedidos de ajuda sobre como bloquear canais impróprios no YouTube. Assim, se você deseja bloquear vídeos com unpacking ou outro tipo de conteúdo inadequado para as crianças, leia a seguir. Mas, antes disso precisamos avisar três coisas.

Primeiro aviso: não somos especialistas em mundo digital. Somos apenas três mães, da geração X, que também perdem (de longe) dos filhos em matéria de tecnologia. Caso você encontre alguma informação incorreta no artigo, não deixe de nos avisar.

Segundo aviso: não encontramos um recurso de bloqueio digital perfeito. O melhor bloqueio continua sendo o analógico (“Mamãe não vai deixar você ver vídeos na internet agora, vamos fazer outra coisa?”) .

Terceiro aviso: acreditamos fortemente que crianças deveriam ficar longe do You Tube. Especialmente sem supervisão/mediação.

Nossa recomendação é que crianças pequenas simplesmente estejam longe do conteúdo do YouTube. Realmente não é boa ideia deixar crianças usarem telas regularmente e por muito tempo. Até os dois anos a recomendação é que a criança não tenha acesso a nenhuma tela. Entre três e cinco anos o uso deve ser bastante (bastante mesmo) limitado de modo que a primeira infância, época das primeiras experimentações do mundo, seja intensa e ricamente vivida. Depois da alfabetização fica um pouco mais fácil conversar (e problematizar) com eles sobre o conteúdo que estão assistindo mas, ainda assim, recomendamos o uso da tela com mediação (supervisão).

Afinal, que conteúdo é esse que acessam? Como saber se tudo que estão vendo está de acordo com a idade deles? Conseguimos estar perto e atentas o tempo todo ou garantir que alguém de confiança esteja? Será correto deixá-los sozinhos na rede virtual quando ainda não possuem maturidade para compreender a que estão expostos? Achamos que não. Você que está lendo pode não concordar conosco e tudo bem quanto a isso, mas vamos deixar apenas um nome de alguém que pensava como nós: Steve Jobs.

Steve Jobs, gênio inventivo idealizador da Apple inc., do Ipad, do Iphone, não deixava seus filhos usarem a rede livremente. Em uma conversa contada no The New York Times pelo jornalista Nick Bilton em 2010,  Jobs disse que não deixava que seus filhos usassem ipads e que a tecnologia em casa era limitada. Em 2010, as  filhas caçulas de Jobs (Ellen e Eve) tinham 15 e 12 anos.

 É melhor deixar as crianças pequenas longe das telas. Elas realmente ficam calmas e hipnotizadas diante dos vídeos, mas ainda preferimos brincadeiras, conversas, livrinhos, papel e giz de cera para entreter em dias de chuva, idas a restaurantes e em salas de espera dos médicos.

Se você chegou até aqui e continua acreditando que não dá pra suspender o uso e quer bloquear o conteúdo nocivo do YouTube, acreditamos que você é quem sabe o que é melhor para o seu filho.  Nossa intenção é somente ajudar com as ferramentas para sua decisão. Em resumo: #tamojunto . Somos mães também e estamos no mesmo barco, sabemos a dificuldade que é.

Todos os alertas feitos, eis as nossas dicas:

1-  Não crie uma conta para eles ainda
Se você está decidida a deixar as crianças no YouTube, uma estratégia é não criar uma conta para eles no Google e usar as inscrições na sua própria conta. Assim, todas as vezes que eles se inscreverem em um canal você saberá e receberá alertas dos vídeos publicados; Opção conta de menor: quando finalmente decidir abrir uma conta no Google para a criança você deve cadastrála como menor de 18 anos. Assim o YouTube filtra o acesso a vídeos pornográficos, violentos e com linguagem inadequada. No entanto, esse procedimento não protege a crianças do unpacking: menores continuam recebendo vídeos de crianças fofinhas abrindo pacotes, porque isso para o YouTube é conteúdo joinha.

2- Esteja perto quando eles acessarem
Depois da abstinência a telas, a mediação de um adulto bem informado e crítico é o melhor recurso. Se aparecer algo impróprio você estará lá para alertar e problematizar (e ensinar a ter visão crítica em relação à mídia como um todo no longo prazo). Se não der para estar de olho, sugira que eles assistam mais tarde.

3- Marque o uso restrito do YouTube no seu computador
No navegador do seu computador marque o uso restrito do YouTube para que o site aplique filtros e bloqueie boa parte (não tudo) do conteúdo impróprio, inclusive comentários. O YouTube tem um guia para isso.

4- Fique sabendo que o uso restrito do YouTube não bloqueia vídeos de unpacking-unboxing
Apesar de sabermos que o conteúdo dos vídeos de crianças desembrulhando brinquedos não seja legal, eles não são considerados impróprios pela política do YouTube. Então o único modo de bloquear sua visualização é no YouTube Kids. Mesmo assim, o bloqueio deve ser feito, vídeo a vídeo ou canal a canal e sempre que surgir um vídeo novo ele estará acessível até que você descubra e bloqueie.

5- Fique sabendo que o uso restrito do YouTube precisa ser configurado no Ipad e Smartphone em separado
Desconfiamos que o YouTube não quer facilitar a vida dos pais, mas não podemos provar. Por isso, você precisará cumprir o passo-a-passo para o uso restrito do YouTube convencional em cada dispositivo.

6- Prefira o aplicativo YouTube Kids
O YouTube Kids não é perfeito e pais já relataram a ocorrência de vídeos com linguagem e conteúdos impróprios mesmo no aplicativo feito para mídia infantil. Seu uso pode ser resumido ao ditado “dos males, o menor”.  Porém, no YouTube Kids é possível bloquear os vídeos e canais que você não quiser que seu filho assista. Para isso, você deve clicar nos três pontinhos ao lado do vídeo e abrir a opção de bloqueio que pode ser só do vídeo ou do canal. O YouTube possui uma página com um guia para pais que pode ser acessado aqui. Um dos capítulos do guia é justamente como bloquear vídeos impróprios.

7- Bloqueie também na Smart TV
Smart TVs com aplicativo YouTube também podem ter o conteúdo restrito ativado. Para isso você precisa logar no YouTube na SmartTV no canto direito da tela, o login é feito usando a ativação de um código e sincroniza a conta do computador, celular ou tablet à TV. Feito isso você deverá ir até configurações (settings) , também no canto direito da tela e habilitar a visualização de conteúdo restrito. Testamos e descobrimos que mesmo estando com o modo restrito habilitado no PC também é preciso habilitá-lo na TV. Não é muito smart isso mas, enfim, é o que temos para hoje;

7-  Estas recomendações expiram por volta dos 6 anos de idade
Na hora que a criançada começar a ler, começará a configurar sozinha os aplicativos e a estratégia terá de ser outra. Falaremos sobre isso num próximo post.

*  *  *
Parece que isso é o que é possível fazer quando as crianças são autorizadas a usar YouTube. Não é o ideal, é apenas uma tentativa de redução de dano. Isto nos dá ainda mais convicção de que criança pequena deve ficar preservada de sua utilização.

Para aprofundar esta questão recomendamos o episódio Na ponta dos dedinhos do programa Caminhos da Reportagem.  O programa é todo bom  e vale muito ouvir a fala do pediatra Daniel Becker sobre o fenômeno unpacking que está a 36 minutos do vídeo).

 

Vanessa Anacleto é mãe de um menino  de 10 anos que só foi apresentado ao YouTube aos 7. Continua achando que poderia ter esperado ainda mais, mas, é como dissemos, #tamojunto.


Tags:  #semtela #semtelas proteção à criança proteção à infância segurança digital sem telas youtube youtubekids

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