por: Debora Regina
Entro em casa e, na sala, vejo a seguinte cena: Naná vestida de princesa, com os pés descalços e encardidos, jogando futebol de botão com Pedrinho, o irmão mais velho.
Essas situações são comuns aqui em casa. Outro dia, João Felipe brincava de casinha com as meninas, ajudava a carregar o bebê e cuidar da casa. Vantagens de quem tem meninos e meninas em casa: eles têm oportunidade de brincar com todos os tipos de brinquedos. Fico feliz em ver que, pelo menos nas brincadeiras, para meus filhos, a questão de gênero não faz diferença, pelo menos para eles homens e mulheres são iguais e fazem o que lhes der na veneta.
Eu nunca disse para eles que tal atitude/roupa/brinquedo eram para menino ou menina, eles podem brincar com tudo, vestir o que quiserem. Lembro que quando o João era pequeno, me pediu uma pia e panelinhas pois ele queria brincar de cozinheiro, eu comprei uma roxa e amarela. Fico muito brava ao ver que, hoje em dia, não fazem mais geladeira ou fogão brancos, tudo, absolutamente tudo, é rosa, ou seja, além de reforçar que o serviço doméstico só pertencem às mulheres, ainda por cima temos que aceitar o rosa como a única cor possível.
Por outro lado, não há como fugir de alguns estereótipos: Ana Cecília adora rosa, fru-frus, coroas, vestidos, enquanto os meninos curtem brincar de luta, futebol, além de algumas “ogrices” típicas de meninos como arrotar e soltar pum. Isso me faz refletir onde está sendo repetido um padrão social e onde esses gostos e atitudes pertencem às naturezas feminina e masculina. Ainda não cheguei a uma conclusão definitiva, mas, algo me diz que há sim maior influência social.
Para mim, o problema maior quando o assunto é gênero, são as informações vindas de fora, porque as crianças sempre trazem os preconceitos proferidos pelos próprios coleguinhas. Ultimamente, a grande dúvida deles é sobre o que é ser gay, visto que alguns coleguinhas já tacharam que meninos não podem ter algumas atitudes porque são considerados gays. Eu, muito calmamente, explico para eles que o amor pode acontecer com pessoas de todos os sexos: homens que amam mulheres, homens que amam homens e mulheres que amam mulheres. Explico também que isso é algo que só acontece com pessoas mais velhas, então eles não precisam se preocupar com isso. Ponto final.
De minha parte, faço o possível para não reforçar esses estereótipos. Desejo sinceramente que meus filhos sintam-se, acima de tudo, indivíduos livres e sem preconceitos.
(*) Debora Regina é empresária, ativista, doula, professora de literatura, mãe de três crianças que mudaram radicalmente a forma de ver o mundo. Com a maternidade percebeu que precisava repensar o mundo em que vivemos. É também colaboradora do Infância Livre de Consumismo e publicou este texto no Mamíferas em 16/04/2012.
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