Vanessa Anacleto`
O sentimento de estar naquela primeira mesa do 1º Seminário Infância Livre de Consumismo, em Brasília, no último dia 09, foi importante. Não que eu tenha me sentido importante. Senti que estava participando de algo muito, muito importante que tantos outros mães e pais no Brasil gostariam de poder fazer. E foi a primeira vez que o Poder perguntou aos pais: “Mas como vocês se sentem vendo as suas crianças serem bombardeadas pela propaganda por todos os lados?” Tentei falar sobre isso nos miúdos 10 minutos que me foram concedidos. E a melhor parte foi olhar a plateia nos olhos.
Nos olhos da audiência lotada de pessoas que ainda participariam das outras mesas, congressistas e jornalistas que acompanhavam o evento, enquanto eu falava encontrei muita simpatia. A cada palavra que falava, contando da minha experiência de mãe, podia ver rostos silenciosamente dizendo que “sim, isso realmente acontece.” Toda esta angústia que nos assalta quando vemos que os valores que tentamos passar para nossos filhos com horas de conversa são tão facilmente jogados por terra com 30 segundos de filme publicitário infantil.
Foi muito reconfortante ouvir os especialistas da minha mesa, como a professora Inês Vitorino, da Universidade Federal do Ceará, e perceber como suas pesquisas acadêmicas corroboram o que vivemos em casa. E, quando deixei a mesa, os cumprimentos ao Movimento e manifestações de solidariedade dos presentes foram tantos que aí, sim, finalmente me caiu a ficha por completo e ouvi o click.
Estamos falando sobre algo que tudo mundo sabe que existe: o abuso por parte da publicidade ao dialogar com crianças, seres ainda em formação intelectual e psicológica. Se este tipo de prática ainda é permitido em nossa sociedade é somente por que ela ainda não estava madura para o debate. Isso agora é passado. Nosso pensamento vai ao encontro do sentimento de tantos pais, e o Infância Livre é prova disso.
O que mais me chamou atenção nas 10 horas que passei em Brasília foi o discurso daqueles que têm opinião contrária a nossa: anunciantes e publicitários presentes nas mesas seguintes a minha. Confesso que esperava uma fala mais consistente, que nos permitisse entrar num debate profundo. O que ouvimos, porém, foram deboches, piadas e uma calculada indiferença pelas questões levantadas no Seminário. Deve ser difícil, eu imagino, desconstruir aquilo que psicólogos, educadores e juristas apresentaram. Mas juro que esperava algum esforço por parte do Conar e da ABA em convencer a sociedade. Quando será que começa o diálogo?
Apesar dessa dificuldade, voltei para casa otimista, convencida de que estamos no caminho certo. Um caminho árduo, tortuoso, de luta contra um estado de coisas há décadas sedimentado sobre alicerces poderosos. O caminho é difícil, sim, mas não é impossível.
[imagem: Joao Guilherme Lacerda | Instituto Alana]
Tags: #infancialivre #publicidadeinfantil consumismo seminario infancia livre de consumismo