outros / 18 de outubro de 2012

Os jovens alemães e o consumo

Texto de Georgia Aegerter*

Desde 1996, a Universidade de Bonn, antiga capital da Alemanha, vem realizando estudos com base na pergunta “o que mudou na geração de consumo?” Esse estudo constatou que a nova geração – a geração jovem – dispõe de 5 bilhões de euros por ano em presentes e mesadas para gastar. Eu vejo como as lojas de brinquedos, jogos elétricos e técnicos crescem assustadoramente. Um canal forte de ofertas tem sido a internet. Rapidamente se recebe as informações que se quer sobre o brinquedo ou o novo aparelho desejado, e uma grande maioria encomenda por estes sites de ofertas.

Eu observo que essas crianças sofrem uma pressão incrível. Tudo que é de marca é bom, não importa quanto custa. Há famílias como a minha, onde explicamos exatamente o que significa o valor do dinheiro e as suas diferenças e que são mais pés no chão na hora da compra, mas uma grande maioria segue a onda do eu quero, eu posso, eu compro.

Mas não é só a nova geracao que anda num consumo desenfreado. As redes de mercados mais populares na Alemanha se chamam Aldi e Lidl. São mercadinhos “chinfrim”, como chamamos no Brasil, mas oferecem ofertas mirabolantes 2 vezes na semana e as pessoas não resistem. Compram sem nem mesmo precisar daquilo que estão comprando. Chegam a jogar fora coisas jamais usadas, muitas vezes ainda fechadas no pacote.

Eles adoram sair para fazer compras. Isso é um ritual. A cada dois dias, as donas de casa saem para comprar tudo fresco no mercado. O alemão não gosta de ter a geladeira cheia como os brasileiros. Tudo é motivo para sair e comprar fresco.

Como a Europa tem as estações do ano bem definidas, isso é motivo para tirar tudo do guarda-roupa e ir às lojas para as novas compras da estação. Assim que acaba uma estação do ano, algumas pessoas já colocam tudo em sacolas plásticas e vão aos depósitos de roupa espalhados pela cidade para despachá-las.

Isso não quer dizer que os alemães vivam jogando dinheiro pela janela. Muito pelo contrário: eles adoram pechinchar, adoram comprar barato, mas não gostam de roupas de qualidade ruim.

Percebo, nestes 20 anos de Alemanha, que houve um crescimento grande no consumo. A grande maioria das famílias alemãs não gosta de comprar coisas usadas ou receber de segunda mão. Eles gostam do novo. O Mercado das Pulgas não serve para eles quando se trata de roupa.

As crianças e jovens já adquiriram o gostinho pela compra, quanto mais técnica melhor, quanto mais rápido melhor, e vemos criancas ainda pequenas, de 6, 7 anos, com  celular de boa qualidade e brinquedos modernos, com boa tecnologia que exigem um bom investimento. O que percebo é que, pela falta de sol que o país sofre, os pais tentam compensar com mais tecnologia. Ou porque os pais trabalham demais ou são separados, pensam que podem passar os sábados nos shoppings da vida e sair de lá com muitas sacolas de compras. É a tal da compensação pela deficiência de amor, carinho e atenção na vida do filho. Algo que acontece constantemente é que 24 horas depois não há mais nenhum interesse da parte da criança ou do jovem com o novo brinquedo. É uma ansiedade louca por novas coisas e um desinteresse pela permanência das coisas recebidas. A meu ver isso gera cada vez mais criancas insatisfeitas.

É o que eles chamam aqui de “langweilig”: entediados.

Tanto faz o que se faça, eles ficam rapidamente “entediados” com tudo e com todos. Não é fácil satisfazer crianças assim, imagine quando forem adultos. Vejo que com isso estamos formando uma geração de insatisfeitos pelo mundo.

Outra coisa que eu acho uma loucura é que se presenteia a criança por qualquer motivo com uma grande desculpa esfarrapada de que é um incentivo para que a crianca melhore na escola. Acabaram-se os sonhos de desejar algo e sonhar por aquilo, esperando até o Natal ou aniversário. Não. A criança sabe que vai receber, e logo.

Estamos dentro de uma nova cidade chamada “Consumo”, subindo a montanha da insatisfação e fincando no topo da montanha a bandeira do consumismo.

*Autora do blog http://saia-justa-georgia.blogspot.de/


Tags:  consumo jovens consumidores alemães

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Mariana Sá




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