outros / 15 de outubro de 2012

Por que não deixo meus filhos assistirem Carrossel

Debora Regina Magalhães Diniz*

Há algum tempo, cansados de ouvir tantos apelos de “compra esse!”, decidimos que não assistiríamos mais televisão em casa, quer dizer, não fomos tão radicais como gostaríamos, resolvemos que não assistiríamos mais a programas de televisão, apenas DVD ou via internet. A única exceção ficou para alguns programas da TV Cultura. Cancelamos nossa tv por assinatura por acharmos um abuso ter de pagar para assistir a uma infinidade de comerciais.

E estávamos bem satisfeitos, até que surgiu essa onda de Carrossel. A princípio, meus filhos nem sabiam o que era e nem pediam para assistir, até que praticamente todas as crianças com quem eles tinham contato começaram a falar do tal programa: amigos da escola, primos, amigos da vizinhança… E eles começaram a me pressionar para assistir, pois já tinham visto na casa dessas pessoas. Resisti bravamente o quanto pude mas, outro dia, os três vieram ao mesmo tempo e foi tanta, tanta insistência que eu não quis ser “a chata”, deixei que assistissem e fiquei com eles para ver qual era. Não dá para descrever o tamanho da minha indignação!

Claro que eu já esperava um remake tosco de uma novela tosca dos anos 90, mas o problema não é só estético (cenário ruim, atores ruins, diálogos ruins), vai além, o problema é ético.

Para começar, era tanto merchandising (publicidade disfarçada na cena) que tive a impressão que o único intuito de tal novela é ser mais uma vitrine de vendas. Em um único capítulo, três merchandisings, cenas inteiras dedicadas a falar sobre produtos.

Logo na 2ª cena, a funcionária da escola enfileira diversas Barbies sobre a mesa da professora e vai falando como elas são lindas, como elas são chiques. Em seguida, chega a professora e reafirma que as bonecas são lindas e que utilizará para um trabalho com as alunas. Notem bem, AS alunas. Na sequência,  entram na sala de aula APENAS as meninas e, claro, ficam encantadas com as tais bonecas continuam a ladainha de como elas são bonitas e que têm várias profissões e cada uma escolhe uma. Pergunta que não quer calar: se as bonecas eram para um trabalho desenvolvido na aula, porque os alunos também não estavam presentes? Sexismo!

O próximo merchan também terá uma cena toda dedicada a ele, é sobre um jogo e APENAS os meninos se divertem no pátio. Claro que falaram o quanto o jogo era divertido e moderno. Ainda apareceram na cena para exaltarem o produto mais três personagens, a funcionária, um senhor cuja ocupação não entendi (bedel? zelador?) e a diretora. Sexismo reloaded!

O terceiro foi de um produto Jequiti (do dono da emissora).

Preciso falar do tanto de propagandas no intervalo? Desnecessário.

A novela é tão, mas tão feita para a venda de produtos que na sala de aula da minha filha praticamente todas as meninas vão com uma tiara de uma personagem. E os CDs? E os bonecos? E os licenciados?

Só esse abuso comercial já seria motivo suficiente para eu não deixar as crianças assistirem essa porcaria, mas há ainda mais motivos. A novela reproduz estereótipos e preconceitos (e não venham me dizer que a novelinha era assim nos anos 90, não dá para inovar não?) – o menino pobre é… negro, a faxineira é… nordestina, o atrapalhado é… gordo.

No capítulo que assisti a menina rica e linda (branca de olhos azuis, óbvio) não cansava de destilar seu veneno, seu preconceito. Ridicularizou uma menina gordinha porque o vestido dela rasgou (oi?), sem contar o racismo (levanta a mão quem acha que muitas crianças irão se “inspirar nela” e repetirem os absurdos). Preciso  falar dos cabelos da Maisa trabalhados na chapinha?

E tem mais: as crianças parecem adolescentes precoces, a novela soa como uma Malhação mirim – músicas de beijo, namoros, amor não correspondido…

Tudo isso em um único capítulo (que provavelmente será o último). Conversei muito com meus filhos, expliquei que não gostei nada do que vi e que não gostaria que eles assistissem a tal novela. Eles ainda tentaram me convencer a deixa-los assistir os clipes musicais pela internet. Disse que iria pensar, ainda não cheguei a uma conclusão. Sim, é muito difícil nadar contra a maré.

 

(*) Debora Regina Magalhães Diniz* é blogueira, ativista, mãe de Pedro Gabriel (9 anos),  João Felipe (7 anos) e Ana Cecília (5 anos)


Tags:  #publicidadeinfantil carrossel marketing merchandising novela product placemente publicidade infantil

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Mariana Sá




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