Texto de Mariana Sá*
Muitas perguntas e muitas respostas pipocam nas nossas cabeças quando assistimos a filmes como o recém lançado “Muito Além do Peso”, de Estela Renner. Uma das questões que queremos levantar hoje é sobre o poder do consumidor em relação às corporações. Aqui nós sempre conversamos sobre a importância de pressionarmos – como cidadãos – os governos por melhores políticas públicas que protejam nossas crianças. Isso é cidadania! Isso é política!
O mercado nos manda desligar a tevê e não comprar tudo o que nossos filhos desejam por ver na propaganda. É óbvio que esta é uma atitude necessária: como disse um dos entrevistados, nós – consumidores – temos a única coisa que interessa às empresas, o dinheiro. Quando escolhemos um produto no lugar de outro validamos a existência daquele produto, desde a sua concepção até a produção, passando também pelas estratégias de mercado e comunicação. Precisamos aprender a escolher o melhor, pois queremos sempre dar o melhor para nossos filhos. Isso é consumo consciente! Isso é micropolítica!
Consumo sem cidadania é inconsequência! Micropolítica sem política é individualismo! E cada qual que combine o espaço que cada um deve ter na sua vida, sem nunca achar que “fazer minha parte” é suficiente.
O consumo consciente é um processo contínuo e para trilhá-lo devemos estar abertos a novas informações e gostar de refazer as nossas próprias sínteses e decisões. Quando se trata de maternidade e paternidade, nós sempre queremos dar o melhor para os filhos, mas temos grandes possibilidades de formar julgamentos incorretos a partir da informação disponível. Ser mãe ou pai é descobrir dia após dia que fomos enganados.
Quem nunca ofereceu um produto achando que estava escolhendo o melhor e anos depois descobriu que não é melhor e chega a ser pior? Quem nunca tomou atitudes e, dormindo sobre elas, percebeu que havia algo melhor a ser feito? Quem respondeu “sim” a qualquer das perguntas experimentou a sensação de sentir-se traído e até um profundo sentimento de culpa…
Quando vamos atrás de informações melhores e estamos abertos a refazer sínteses, conseguimos driblar a culpa e nos responsabilizar pelas escolhas seguintes. Trocar dicas e compartilhar experiências nos permite encontrar formas possíveis de fazer uma coisa que para nós parecia ser impossível. Com base nessa construção, podemos, aos poucos, escolher produtos que deixarão de fazer parte da lista de coisas que oferecemos aos nossos filhos.
Vamos buscar informações sobre alimentos, brinquedos, hábitos e programações. Vamos discutir os prejuízos e os benefícios de cada escolha. Vamos deixar de nos sentir patrulhados e nos abrir a todo tipo de informação. Vamos tomar novas decisões e fazer algo verdadeiramente novo, uma coisa nova por dia. Vamos, juntos, repensar nossa lista de compras, necessidades, desejos e sonhos. Eu vou! Quem vem?
(*) Mariana Sá é mãe de dois, publicitária e mestre em políticas públicas. É cofundadora do Milc e membro da Rebrinc. Mariana faz regulação de publicidade em casa desde que a mais velha nasceu e acredita que um país sério deve priorizar a infância, o que – entre outras coisas – significa disciplinar o mercado em relação aos direitos das crianças.
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