escola / 21 de setembro de 2015

Procura-se uma escola que saiba dizer não 2 – a saga continua

Texto especial para o Milc de Anne Rammi*

Ando pelos corredores da escola com a diretora que acabara de me informar que a pedagogia deles era “tipo montessori, mas é socioconstrutivista”. Qualquer pessoa com conhecimento mínimo de educação pode imaginar meu desânimo previamente instalado, enquanto eu olhava as instalações de mais uma da imensa lista de escolas que estou visitando para colocar meu filho no ensino fundamental. Uma missão terrível, sem final feliz. Todas as escolas que conheci até agora são um atentado à educação.

Mas conseguem fazer trabalho pior, quando o assunto é alimentação.

– Isso é um pôster de propaganda da Kibon?
– Sim. Vendemos sorvete na cantina.
– Oi? Sorvete? Ah, tá. E fazem propaganda nos corredores?
– Isso. Porque assim a criança já sabe o valor das coisas e pode ir gerindo seu próprio dinheiro. Existem várias opções além do sorvete.
– Sim, já vejo a vitrine daqui. Tem chocolate, bala, pirulito…
– Veja, nós favorecemos a alimentação saudável. Os salgados da cantina são assados e não fritos. Mas trabalhamos com visão de mundo. Visão de mundo é permitir que as crianças façam suas escolhas.
– Aham. E cadê as opções saudáveis? Para que eles possam escolher? Escolha parte do pressuposto que há opções né?
– Temos iogurte e fruta. É só pedir para a tia.
– Eles têm que pedir.
– Tem.
– Ah. Esses não ficam na vitrine né? Como eles sabem que vocês servem frutas?
– Pois é… Tem que ficar na geladeira. Ah. Sempre falamos que frutas são saudaveis.
– Mas não colocam cartazes no corredor, eu suponho. Sobre as frutas.
– Não…. É que…. A cantina é responsabilidade da tia né? Ela que recebe esses cartazes da Kibon.
– Ah… Tá.
– O que acontece é que a maioria traz fruta de casa.
– Tem alguma coisa que vocês proíbem na lancheira?
– Não.
– Pode trazer refrigerante?
– Pode. Mas pode escolher comprar o lanche aqui também.
Sigo embasbacada com a mentalidade das instituições escolares sobre escolhas, saúde e infância. Calamidade define.
Leia a primeira parte da saga aqui
Imagem da web.
(*) Anne é mãe de dois e especialista em nada. Artista plástica por formação, pinta, borda, canta e sapateia. Tudo mais ou menos. Divide sua experiência de mãe e curiosa dos assuntos que cercam a criação de filhos na internet desde que eles nasceram, com abordagem bem humorada e ranheta, como lhe é peculiar. É editora do Mamatraca, um portal de conteúdo materno independente. www.mamatraca.com.br

Tags:  #comidanaescola alimentação escolar alimentação saudável comida na escola escola publicidade de alimentos

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Mariana Sá




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