Texto de Daniele Brito*
Lembro-me tão bem quando, nos idos dos anos 90, meu pai chegou todo felizinho dizendo que chegara a nossa cidade uma nova forma de ver TV. Pagaríamos mensalmente pra ter uma programação de qualidade e finalmente estaríamos livres das indesejadas propagandas. Meus amigos, se existe uma pessoa que desde sempre combate a ilusão criada por publicitários, esse alguém é a minha mãe.
Ah, sim, antigamente a TV a cabo não veiculava comerciais. Não sei ao certo quando isso mudou, mas já repararam como só os canais infantis são bombardeados com publicidade? Antes queriam vender brinquedos, roupas, sapatos, mas hoje querem também vender produtos de limpeza, absorventes etc. Por que será?
A publicidade fala diretamente às crianças, que são responsáveis pela promoção do consumo dentro de casa. Isso passou a me assustar quando, passeando pelos corredores do supermercado, meu filho de 4 anos apontava para os produtos e dizia não só o nome da marca, mas cantava até o jingle!
Todos nós que somos impactados pelas mídias de massa, somos estimulados desde muito novos a consumir de forma inconsequente, de forma desenfreada. Sem questionar, sem nos importarmos. Porque muitas vezes eles não vendem apenas um produto, eles te prometem mais que a alegria da posse, mas a sua inscrição e sua existência na sociedade. Quanto mais você consumir, mais será aceito como consumidor. Isso te diferencia dos demais.
Qual a importância das marcas na construção de quem somos? Quantos logotipos, slogans e informações de diferentes marcas absorvemos antes mesmo de começarmos a falar?
Ataque ao vulnerável
De posse da informação de que a publicidade é, sim, dirigida ao público infantil e que 80% das compras domésticas passam diretamente pela vontade da criança, vem uma dúvida: estariam elas preparadas para a interpretação crítica dos apelos que constantemente lhes são dirigidos?
Aliás, criança tem capacidade crítica para alguma coisa? Ou depende da intervenção dos pais para orientá-la? Mas quando os pais trabalham fora em tempo integral, por necessidade, quem fica com as crianças? Quando os pais não podem ou não querem ou não gostam de conversar com seus filhos, a publicidade se mostra disponível em todos os momentos do dia, o tempo inteiro!
Acaba que os pais, culpados, sentem que devem compensar sua ausência com objetos materiais. Como não são bobos nem nada, os publicitários usam essa culpa para induzi-los ao consumo. Sem querer negar nada aos filhos, acabam endividados. Isso gera estresse familiar.
É justo esse bombardeio com quem não sabe se defender?
*Daniele tem 32 anos e é estudante de Direito, mãe da Bia, de 9 anos, e do Otto, de 4, mora em Florianópolis/ SC e é autora do blog Balzaca Materna
v
Tags: #publicidadeinfantil Daniele Brito infância proteção à infância