outros / 9 de maio de 2012

Expor uma criança a apelos de consumo cotidianamente é uma forma velada de coerção e abuso

por Dra. Telma Pileggi Vinha*

Sou favorável à restrição de propagandas dirigidas ao público infantil. Devido às características de desenvolvimento, as crianças não são capazes de compreender a complexidade envolvida nas decisões de consumo, isto é, não são capazes de compreender as relações de necessidade, ilusão, satisfações momentâneas, lucro, trabalho e remuneração, valor do dinheiro, ganhos e perdas. Também são incapazes de compreender a relação entre consumo e impacto ambiental. Justamente por tais características, não se pode afirmar que elas têm poder de escolha no que se refere ao consumo, pois isto implicaria em análise dos fatores envolvidos, das possibilidades e das consequências das decisões, o que começa a ocorrer na adolescência. Até então, as crianças possuem condições apenas de compreender que não podem ter determinado brinquedo, por exemplo, tão somente porque os pais não querem ou porque eles não possuem dinheiro. Como as crianças têm dificuldades de regular seus impulsos, exigem-no como se, aquilo que se trata apenas de um desejo, fosse uma necessidade! E os pais acuados, confundindo o atendimento as satisfações imediatas com atendimento às necessidades reais dos filhos, acabam por ceder a tais exigências, muitas vezes contrariados ou abrindo mão de prioridades. Considero que expor uma criança a tais apelos de consumo cotidianamente sem que ela tenha condições cognitivas e afetivas para compreender e lidar com as questões envolvidas é uma forma velada de coerção e abuso.

 

(*) Docente da Faculdade de Educação da Unicamp e doutora na área de psicologia, desenvolvimento humano e educação, deu este depoimento como forma de apoiar a Comunidade Infância Livre de Consumismo.


Tags:  #publicidadeinfantil #publicidadeinfantilNÃO consumismo educação infância

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Mariana Sá




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