brinquedos e marketing / 26 de maio de 2014

Troque sua banana por uma Laranjinha

texto de Lilian Vieira*

Sou apaixonada pela Moranguinho desde a infância e quis apresentá-la à minha filha logo cedo. Acho a boneca um exemplo legal prá caramba: é defensora dos animais, da natureza, aventureira, multifacetada, linda beleza de criança e sempre valorizando a amizade. Seus desenhos animados trazem reflexões sofisticadas para as pequeninas.

Mas não é tão fácil encontrar A Turma da Moranguinho nas lojas, sequer nas grandes redes especializadas em brinquedos. Como estou em uma grande cidade, encontro comércio alternativo para fugir ao “mais do mesmo” e também me salvam as lojas on line!

Quando comprei a protagonista da turma, fiquei encantada com a personagem negra e pensei: a próxima será você!

O preço: R$60 reais por cada uma da turma – exceto a negra – em promoção por R$44,90. Passado quase um ano, voltei a cruzar com a Laranjinha, agora na internet, por R$22,90, enquanto as outras custam R$49,99. Podemos chegar a várias conclusões, pensar em diversos aspectos sobre o porquê desta boneca estar mais barata que suas amiguinhas. Ela não é mais barata, ela está mais barata e por conseqüência, cada dia mais rara de se achar.

Mil coisas passam pela minha cabeça. Como se sente uma menina negra, crescendo nesse mundo cão? Aonde estão as bonecas de cabelo castanho, as orientais? Afinal, todas merecem figurar como protagonistas, heroínas de suas histórias, inclusive a loira! Todos nós sabemos as respostas pra essas perguntas e concluímos quase sempre que não podemos fazer nada.

Cito então um trecho de Bárbara Diniz, que escreveu no FemMaterna:

“E nessa questão o brincar, o brinquedo, são um item muito importante, afinal, para uma criança, são as brincadeiras que colocarão os papeis a serem desempenhados no futuro, são elas que construirão o imaginário social, é por meio da brincadeira que ela digere o mundo à volta, lida com ele e o dá sentido, para então nele se inserir. É claro que a brincadeira não é o único quesito, mas é um deles, e um muito importante.”

Cito Mandela também:

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.” 

laranjinha

Acho que uma coisinha pequenininha a gente pode fazer: olhar com mais carinho na hora de comprar, lembrando sempre que estamos ensinando quando oferecemos um brinquedo e que podemos sim, ir mais além. Quer melhor caminho que o da brincadeira? Quer melhor caminho que o da memória afetiva? Por isso, troque sua banana por uma Laranjinha.

No dia em que for absolutamente comum comprar uma Laranjinha para qualquer menina…

PS: hoje Alice pediu para dormir com ela.

Este post é mais uma contribuição para a Semana Mundial do Brincar. Saiba mais sobre esta importante iniciativa da Aliança Pela Infância #brincandojuntos #SMB2014

Foto: arquivo pessoal

(*) Lilian é produtora audiovisual, designer gráfica e mãe de Alice, hoje com 3 anos. Ambas moram no Rio de Janeiro. Contato: design.lilian@gmail.com 

 


Tags:  boneca infancia sem racismo moranguinho racismo

Bookmark and Share




Previous Post
Vamos brincar de...
Next Post
Crianças em risco no mundo virtual



Mariana Sá




You might also like






More Story
Vamos brincar de...
texto de Carol Guedes* Já faz algum tempo, li uma matéria de uma mulher norte-americana que encontrou dentro de um brinquedo...