Texto especial para o Milc de Fernanda Café*
Imagine um brinquedo que fale com a criança. Não, não estamos falando das frases programadas que a maioria dos brinquedos já possuem, mas que responda de verdade às suas perguntas. As possibilidades são infinitas: eu consigo vê-la como ferramenta pedagógica para crianças no espectro do autismo, exercício de empatia. Consigo vê-la como ferramenta terapêutica em centros de recuperação de crianças abusadas. Os brinquedos aprendem segredos que crianças apenas não teriam coragem de dividir com adultos.
E se eu disser que esse brinquedo existe e, obviamente, não será lançado como ferramenta pedagógico-terapêutica, mas como uma Barbie que ficará na sua casa, com suas crianças. Deu calafrios? Pois é. Quem nasceu nos anos 80 deve se lembrar da lenda da boneca assombrada da Xuxa, que falava com as crianças e cometia crimes insondáveis. Não lembram? Aconteceu com a irmã da amiga da minha prima que estuda em outra escola…
Exageros e metáforas à parte, a Barbie anunciada pela Mattel em parceria com a desenvolvedora ToyTalk nos deixa uma centopéia de pés atrás. Não é que a ideia de (mais) uma barbie nos assuste, ou até mesmo uma boneca que responda às crianças, um brinquedo que responda e aprenda gradativamente com as preferências da criança não é nenhuma novidade, na verdade.
Mas a informação de que as conversas ficarão gravadas na nuvem, compondo um banco de dados que servirá como fonte das respostas da boneca, essa sim levanta sobrancelhas.
Como você se sentiria se alguém chegasse na sua casa e colocasse um gravador escondido? É mais ou menos isso que a boneca representa, com o agravante de que não temos a menor ideia de para onde estão indo essas informações nem o que será feito delas.
Se a boneca sugere profissões ou dá dicas de como se relacionar com as coleguinhas da escola, onde ficam os pais? E os amigos de verdade? Como a criança desenvolve empatia se a boneca se ajusta aos seus mandos e desmandos? Como ela exercitará a sua imaginação se a voz da Barbie já virá prontinha e nem isso mais ela terá de inventar?
Imagem de Mark Linnehan/Associated Press
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(*) Fernanda é jornalista-porém-assessora e mãe do Benjamin (5). É uma feminista que faz ballet e adora cor-de-rosa. Gosta de RPG, fantasia medieval, anime água-com-açúcar e é #teammarvel apesar de Sandman ser da Vertigo. Começou a estudar Quenya, mas como não dava pra fazer isso enquanto comia, desistiu de ser elfa e admitiu para si sua natureza hobitesca. Escreve no http://pacmae.com.br/
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