Texto especial para o Milc de Debora Regina Magalhães Diniz, Mariana Sá e Vanessa Anacleto*
Outro dia, estávamos conversando sobre liberdade. Falávamos sobre toda a liberdade que o Milc nos trouxe ao longo destes três anos e meio. Achar a nossa turma, trocar informação e refletir conjuntamente sobre o consumismo não nos limita, nos expande.
Regular em casa o que as crianças assistem, ser ativista pela responsabilização dos anunciantes e organizar Feira de Troca de Briquedos nos enche de liberdade.
Explicamos: está chegando o Dia das Crianças do comércio e nossos filhos não fazem a menor ideia do que querem de presente. Aliás, nem sabem se querem presentes. Sabem que já têm brinquedos demais, mesmo sendo filhos de mulheres que presenteiam muito menos que a média. O que eles sabem é que o almoção em família, o passeio com os pais, a manhã ou a tarde que passam brincando com os amigos tem mais valor que qualquer objeto de plástico que passa na tevê.
Mãe ativista tem olhar atento para as crias e tem a manha de diferenciar o desejo genuíno por algum objeto de consumo da vontade que dá e passa. E consegue desvendar isso junto com as crianças. Atender vontade que dá e passa só gera frustração e mais vontades: presentes que não preencherão o vazio do desejo real que não foi atendido conforma a expectativa depositada do objeto.
No nosso quarto dia das crianças juntas construindo o Milc, podemos afirmar com segurança: este é um tempo de celebrar a infância na sua simplicidade, de experimentar a liberdade de oferecer uma alimentação livre de publicidade, de estar em contato com a natureza, com a cultura, ou na rua, abrindo mão de estar em templos de consumo, de promover a brincadeira livre o que muitas vezes requer se libertar dos brinquedos usuais, de trocar afetos, olhares, palavras, abraços, enfim, a liberdade de trocar os presentes pela presença.
Parece óbvio, mas shopping é lugar de comprar, portanto de consumir.
Liberte-se do passeio clichê cinema-lanchonete e encontre opções na rua: vale praia, parque, praça, teatro, centros de cultura, museu. Vale preparar um lanche em casa todos juntos e fazer um piquenique.
Aquela comida fresca preparada com amor pode ser um presentão. Crianças merecem comer comida de verdade todos os dias: vale ir na feira, vale preparar um tanto e congelar, vale fazer uma receitinha de família, vale passar uma manhã inteira gargalhando e conversando na cozinha, todos juntos.
A criança vê a publicidade na tevê e pede o objeto. A criança ganha o objeto. A criança se vê fica frustada. Nos próximos 30 segundos, aparece outro objeto. Ela quer. Ela ganha.
E neste ciclo de vontades e frustrações vamos – crianças e adultos – desaprendendo a distinguir o desejo genuíno da vontade que dá e passa.
Porque nenhum objeto entrega o afeto que o comercial promete. E sob camadas de objetos a criança não acha o afeto – e é de afeto que precisamos.
Vontade é coisa que dá e passa, mas os desejos permanecem. A publicidade atrapalha diferenciar a vontade do desejo genuíno (sim, eles existem!). Quanto mais ausentes estamos, mais nos sentimos compelidos a compensar nossos filhos com presentinhos, mais nos sentimos “obrigados” a lhes atender as vontades.
E o principal desejo de toda criança é passar momentos felizes na presença dos pais e dos amigos (não é à toa que os filmes publicitários sempre mostra famílias felizes e amigos divertidos para apresentar seus brinquedos).
Aproveitemos o feriadão para estarem – de verdade – presentes com os filhos. Um ótimo feriado e um feliz dia das crianças!
O Dia das Crianças é das crianças: vamos celebrar a liberdade de viver a infância!
#DiadasCrianças2015 #InfanciaLivre #MaisLiberdade no #DiadasCrianças
(*) Debora é mãe de três, cofundadora do Milc, cursou Letras e Semiótica. É doula e educadora perinatal há 10 anos. Atualmente vive no Vale do Paraíba e é uma das coordenadoras da Roda Bebedubem. É ativista e implicante com a sociedade atual desde sempre. Co-fundadora do Milc e membro da Rebrinc.
Mariana é mãe de dois, publicitária e mestre em políticas públicas. É cofundadora do Milc e membro da Rebrinc. Mariana faz regulação de publicidade em casa desde que a mais velha nasceu e acredita que um país sério deve priorizar a infância, o que – entre outras coisas – significa disciplinar o mercado em relação aos direitos das crianças.
Vanessa Anacleto é mãe do Ernesto, blogueira e autora do livro Culpa de mãe. Por causa disso tudo, ajudou a fundar o Milc e luta por um futuro sem publicidade infantil. É autora do blog materno Mãe é Tudo Igual e membro da Rebrinc.
Tags: #diadascrianças #diadascrianças2015 Dia das Crianças Dia das Crianças 2015 Dia das Crianças sem consumismo