maternidade / 24 de julho de 2017

Ensinemos as crianças a serem feministas

Texto especial para o Milc de Emanuela Carvalho*

Em tempos de discussões – por vezes calorosas e repletas de desinformações – sobre o feminismo, vale refletir sobre a importância de ensinar as nossas crianças a serem feministas. E quando digo “nossas crianças”, é porque quero falar sobre meninas e meninos.

A ideia de educar uma menina para que seja feminista já pode assustar a quem ainda desconhece a premissa básica do movimento, que defende a igualdade de direitos entre mulheres e homens. “Mas isso já existe!” Pode pensar você. Não, definitivamente, não existe. As mulheres vêm conquistando espaço no mercado de trabalho, ganhando visibilidade, conquistando e mantendo direitos, mas tudo isso é fruto de lutas históricas, que às vezes nos deixam esquecer que nós não tínhamos o direito de votar, ao divórcio, ao estudo e a tantas outras coisas que hoje fazem parte do nosso cotidiano. Mas se é difícil para alguns criar uma filha feminista, o que diremos dos filhos? Se há tantos que pensam que eles precisam ser educados para serem Homens, com h maiúsculo! Isso significa que não podem e nem devem demonstrar fragilidade, sentimentos, vergonhas, fraquezas. Homens e força são palavras feitas para caminharem juntas, enquanto a mulher é ainda hoje considerada por muitos como o sexo frágil.

Educar crianças feministas não é uma tarefa fácil, afinal, faz parte da dificuldade imensa que é o processo educativo dos nossos filhos, seja em casa, seja na escola. E é justamente nesses ambientes em que elas aprendem, sim… aprendem a ser machistas ou feministas. Aprendem através do exemplo, do comportamento dos adultos. Os pais seguem o padrão machista de comportamento? As tarefas são divididas de forma que o pai seja sempre o provedor, mesmo que a mãe trabalhe fora de casa, e a mulher seja a cuidadora? As brincadeiras são sempre direcionadas? Meninos brincam de luta, de carrinho, de bola; meninas brincam de boneca, de casinha? É bem provável que sim! E no ambiente escolar o sexismo só se repete e acentua.

Então, partindo da ideia de que é difícil para você deixar o seu filho brincar de boneca, fazer aula de ballet – se ele quiser e mostrar interesse pela dança, ou deixar a sua pequena princesa jogar futebol, pensemos em alternativas para ultrapassar as barreiras construídas e ampliadas ao longo da história para oportunizar as nossas crianças que valorizem o respeito às diferenças e a cresçam sob a perspectiva de encontrarem um mundo onde as desigualdades entre homens e mulheres sejam cada vez menores.

Uma dica é assistir com as crianças a série Anne with an E, que traz de forma leve discussões importantes sobre vários temas, como a igualdade de gênero. Anne, a personagem principal, é uma menina feminista e traz, para além dos seus muitos sonhos, a esperança de que podemos sim, a partir da educação dos nossos filhos, desejar que os direitos iguais sejam realidade para mulheres e homens.

Há livros e tantos filmes e séries que mostram, através da prática diária, como ser feminista não é nenhum “bicho de sete cabeças”. O principal é que estejamos, nós adultos, convictos do que queremos ensinar às nossas crianças, seja através do nosso discurso, ou da forma que eles mais aprendem, seguindo os nossos exemplos.

 

(*) Emanuela Carvalho é professora e escritora, autora do livro ‘Antes feliz do que mal acompanhada’ – que traz relatos de mulheres que viveram relacionamentos abusivos, mas conseguiram se libertar. Escreve para o Estadão sobre temas ligados ao feminismo. O seu próximo livro será sobre mulheres em situação de cárcere. Contatos: emanuela.carvalho@gmail.com, Instagram: @emanu.carvalho e Facebook: Emanuela Carvalho


Tags:  educação feminismo maternidade proteção à criança

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