Texto especial em apoio à ação #AbusivoTudoIsso de Vanessa Anacleto*
Meu filho tinha apenas seis anos quando, um dia, fomos ao cinema com uns amiguinhos. Sábado à tarde, cinema do shopping, lançamento de longa metragem infantil de animação. O tipo de filme que agrada crianças – por sua trama e personagens interessantes – e adultos – por estar repleto de referências divertidas. Saindo da sala do cinema e nos vimos em frente a uma lanchonete de fast food. A mais famosa. Todos os personagens do lançamento do cinema estavam ali, em meio aos sanduíches e batata frita. As crianças gritavam ansiosas, queriam o lanche que permitia que elas escolhessem um dos brinquedos da coleção. Esta situação é real e tenho certeza que você que está lendo, se é mãe ou pai, já a viveu. Dèjá vu.
O garoto nunca gostou muito do fast food mais famoso. Diz que não tem gosto de nada. Quando viu os amigos correndo para a fila, lamentou: ” Vou ter que comer essa comida porcaria!”. Expliquei que não precisava comer. Poderíamos comer depois em outro lugar ou eu iria a outro restaurante comprar alguma coisa menos artificial para ele lanchar. Ele recusou, os amigos já estavam com as bandejas na mão. O que se come não importa muito quando se está entre amigos, ainda mais aos seis anos. Tudo bem, vamos comer a comida porcaria com brinde.
Sentamos. Todo mundo contente, falando sobre o filme, mães, pais e crianças. Vinte minutos, trinta minutos e ninguém toca no lanche. Metade das batatinhas, o suco e olhe lá. O meu comeu só um quarto do sanduíche e eu comentava com uma das mães que ele não gostava do restaurante. Foi quando escutei ela dizer que o filho dela também não gostava e logo após ouvi mais quatro afirmações idênticas. Estávamos todos, sentados ali, só por causa dos brinquedos.
As crianças se divertiram muito naquele dia. Ainda assim poderíamos perfeitamente ter ido a outro lugar, comer algo que não contribuísse para o aumento dos números das doenças crônicas na infância e a formação de hábitos alimentares não saudáveis. Algum lugar que não difundisse a ideia de que comer deva estar associado ao recebimento de um brinquedo. Os brinquedos dos personagens do filme apelando baixo em material acartonado colorido na frente do restaurante, me fizeram aprender uma lição e desde então o combinado passou a ser acompanhar os amigos se eles quiserem ir comer ali e não precisamos comer se não quisermos.
Algumas pessoas insistem em dizer que não há nada de mal na venda casada do brinquedo com o lanche. O fato do brinquedo sozinho ($13) custar quase o mesmo valor que custa o kit completo com lanche e brinquedo ($17) já pode configurar em si a venda casada, pois nos estimula raciocinar que é “mais econômico” a levar junto o lanche que a criança muitas vezes nem quer comer. Ela só quer o brinquedo. Ela é só uma criança sugestionada pela indústria alimentícia em parceria com os criadores do filme de animação. Mas, isso não é levado em conta.
Algumas pessoas insistem em dizer que a culpa dos altos índices de obesidade infantil e os maus hábitos alimentares é exclusivamente dos pais e mães que permitem que os filhos (os chamam de mimados) comam em lanchonetes fast food. O baixo preço do kit contendo brinquedo e lanche de baixo valor nutricional em comparação com alimentos servidos em restaurantes que servem pratos saudáveis não é levado em conta. O constrangimento pelo qual os pais passam na saída do cinema ou num passeio num shopping não é levado em conta.
Sempre que vemos esses argumentos, desconfiamos do interlocutor. Quase sempre se trata de alguém ligado ao marketing infantil. “Nós, os pais, precisamos ser mais firmes”, dizem os defensores da rede fast food que serve comida com gosto de isopor. Precisamos ser mais firmes com nossos filhos. E precisamos ser ainda mais firmes na defesa de nossos filhos.
Quer saber como ajudar? Você pode ajudar enviando relatos de situações difíceis e de constrangimento que passou envolvendo o Mc Lanche Feliz. Esta é uma batalha contra uma empresa gigante e poderosa, mas sabemos que “todos juntos somos fortes” e uma pequena vitória contra esta estratégia pode ser emblemática e gerar uma onda de mudanças nas outras empresas que a praticam.
Você gostaria que esse tipo de ação tivesse um fim? Para apoiar a causa siga o link http://bit.ly/AbusivoIsso e para participar da campanha compartilhe esse texto e o seu próprio relato usando a tag #AbusivoTudoIsso
(*) Vanessa Anacleto é co-fundadora do MILC e faz hamburguer em casa .
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