Resenha literária especial para o MILC, de Vanessa Anacleto*
Muitas vezes, em palestras e seminários, sou questionada por alguns pais e mães sobre como fazer para evitar o consumismo nos dias de hoje. Como mãe especialista apenas em meu filho, digo sempre que a partir do diálogo é possível construir novos caminhos dentro deste turbilhão de consumo exacerbado em que estamos inseridos. Mas, é claro, minha resposta é subjetiva. Nós do MILC não temos intenção de ditar regras para outros pais. Estamos, com nossas ações, buscando formas de lutar contra a vida consumista que nos oprime e encontrar outras pessoas que também se sintam incomodadas para juntarmos forças.
Existe quem esteja preparado para formular com muita propriedade respostas e saídas para esta que já pode ser considerada uma patologia pós moderna, a compulsão por compras. É o caso de Ana Beatriz Barbosa Silva. Médica psiquiatra formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, que depois de quinze anos acompanhando pacientes no consultório, resolveu colocar no papel suas ideias que contextualizam, identificam e apontam soluções para o comportamento consumista.
Com linguagem acessível ao grande público, Dra. Ana Beatriz mostra como o consumismo está ligado a nosso padrão de comportamento que basicamente busca suas coisas: a sobrevivência e prazer. O texto mostra também claramente como o marketing se aproveita disso. O capítulo Mercado Consumidor Infantil: “Crianças de menos, adultos de mais” trata das crianças como alvo do marketing, o papel da televisão e internet como babás modernas, o papel – importante – do consumo na obesidade infantil, a relação entre consumo e bullying, o poder do marketing sobre os pais a partir das crianças. Diante da observação de anos de prática clínica, a autora pergunta: “Crianças e adolescentes precisam de objetos tão caros? Que diferença isso faz na vida prática deles? ”
Dra. Ana Beatriz fala ainda da nova geração de crianças, a KGOY ( Kids Growing Older Younger ou – tradução livre da autora –“crianças que se comportam como adultos precocemente”). Os KGOY são as crianças adultizadas por aprendizagem precoce e especialmente por excesso de informações via internet. Segundo a autora, a geração KGOY é exemplo de como a cultura consumista, ao imprimir velocidade no consumo e descarte de produtos termina por queimar uma etapa crucial no desenvolvimento humano: a infância. A autora se diz otimista ao acreditar que o sistema que impõe a adultização logo chegará a um ponto de saturação e estas crianças adultas precocemente terminarão adultos exaustos buscando uma forma de vida mais sustentável, fazendo o caminho contrário ao consumismo. A pergunta que me fiz lendo a conclusão da psiquiatra foi, como deixamos as coisas chegarem a este ponto?
Tenho dificuldades em comungar do otimismo da autora em relação a uma tomada de consciência da geração KGOY logo que chegue à idade adulta. Fico pensando se é possível que toda a avidez pelo consumo criada pelo mercado que a todo momento inventa necessidades irreais como se fossem da mais alta importância se esgote assim tão simplesmente. Ainda que toda uma geração esteja cansada do excesso de bens de consumo, o que garantirá que as próximas não possam ser da mesma forma seduzidas pelo marketing? Enquanto houver quem queira se aproveitar da mente das crianças para solidificar suas marcas e hábitos de consumo e pequenos expostos a isso haverá consumismo infantil. A mera saturação – e perda da vida de qualidade na infância – de toda uma geração, além de triste, me parece pouco para o despertar de uma nova consciência.
Não é de se estranhar que, em praticamente todos os demais capítulos, a autora mencione a infância, o comportamento e hábitos infantis que possam dar origem ao consumismo. Afinal, é ou não na infância que são construídos nossos arquétipos, embalados nossos sonhos, estabelecidas as bases para nossas relações com o mundo? Além do capítulo especial sobre Marketing e Consumo Infantil, o livro aborda ainda o histórico do consumismo: como nos tornamos pessoas ávidas por compras, afinal? No capítulo apresenta uma visão detalhada do comprador compulsivo explicando a origem das compulsões, analisa os templos do consumo na figura dos shopping centers, demonstra como o cérebro toma decisões, trata do neuromarketing e fala das formas de tratamento da compulsão por compras.
Uma necessidade de revisão de conceitos é apontada no capítulo final. Quanto vale a felicidade? a autora pergunta. Felicidade, um vocábulo que já virou slogan de bebida hipercalórica agora tem significado distante da realidade. Será que não é mesmo hora de rever essas escolhas que fazem por nós e depois nos apresentam em 30 segundos de vídeo com música e personagens fofos?
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Sorteio de livro encerrado
Site oficial da autora http://www.draanabeatriz.com.br/
(*) Vanessa Anacleto é autora do livro Culpa de Mãe e escreve no www.maeetudoigual.com.br
Tags: consumismo consumismo infantil marketing infantil publicidade infantil sociedade