Meu nome é Agnes Arato e sou uma das mães que fazem parte do coletivo Infância Livre de Consumismo. Se você pensar no grupo gestor das ações deste coletivo, sou uma das 20. Se pensar no grupo que acompanha, compartilha, debate e pensa parecido, sou um dos quase nove mil pais e mães que fazem o coletivo Infância Livre de Consumismo.
Quero pedir licença aos pais para falar às mães – isso porque historicamente e estatisticamente são as mães que tocam a vida prática da prole. São as mães que parem os filhos, que amamentam, e são principalmente elas que cuidam das crianças na primeira infância. Aqui em casa, embora eu me esforce e cobre muito o contrário, ainda é assim.
Quero falar com você, mãe, para que a gente se entenda. Não estamos contra você. Estamos com você!
Nossa briga não é com você, mãe, que eventualmente fornece comida industrializada para seu filho ou que não amamentou exclusivamente até os seis meses (seja por qual motivo for), ou com qualquer outra mãe, pai ou família.
A nossa briga é com o mercado que não nos avisa que alguns alimentos industrializados, em uma única porção, contêm 75% do sódio que poderíamos ingerir em todo o dia, e que isso pode causar inúmeras doenças em nossas famílias. A nossa briga é com o “comunicador” que mantém no ar um programa infantil que, a cada cinco minutos, para tudo o que está fazendo – brincadeiras, desenhos – para vender mais um produto licenciado a nossos filhos. A nossa briga é com os anunciantes que colocam desenho animado e música infantil em propaganda de produtos para adultos, provocando e reforçando a criança como tomadora de decisões de compra de toda a família. A nossa briga é com o fabricante que coloca um brinquedinho em seu lanchinho pouco saudável, deixando para nós, mães, a tarefa inglória de explicar e barganhar com a criança que quer aquilo de qualquer jeito, pois “todo mundo tem”.
A nossa briga é com o pediatra que, ao invés de nos ensinar a estimular a produção de leite, recomenda uma fórmula industrializada logo de início, e não avisa que o nosso próprio leite, além de gratuito, fornece uma proteção a nossos filhos que nenhum outro leite fornecerá. A nossa briga é com a imprensa que, ao invés de apresentar mais soluções para a falta de tempo na hora de ir para a cozinha, indica a papinha industrializada como única saída (saudável?) para o dilema.
Nossa briga não é com você, mãe. Não queremos culpá-la. Mas também não estamos aqui para aliviar. Queremos que você sente conosco, reflita, debata, participe. Afinal, para criar nossos filhos em um mundo onde seja mais importante o “ser” do que o “ter” é preciso que cada um de nós se mobilize. Ao invés de nos acomodarmos em nossa pretensa impotência diante da força de grandes corporações ou conglomerados de comunicação, se cada um de nós der sua pequena contribuição, podemos, sim, mudar hábitos e pensamentos que pareciam imutáveis. Penso sempre na metáfora do formigueiro e da formiga. A formiga, sozinha, não movimenta nada. Mas do que um formigueiro é capaz?
Abraços a todos!
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