publicidade de alimentos / 27 de março de 2013

Alimentação saudável: quando o governo deve intervir

Texto especial para o Milc de Renata Kotscho Velloso*

A revista norte americana The Economist publicou, no dia 15 de dezembro de 2012, um artigo denominado “Sem chance: o governo pode fazer algumas coisas para encorajar as pessoas a comerem menos, mas não muito”.

O artigo começa citando uma frase na qual o escritor George Orwell sugere que “as mudanças na dieta são mais importantes do que mudanças nas dinastias ou mesmo nas religiões”. De fato, após ter passado milênios sem ter comida suficiente, a humanidade hoje está mais preocupada em comer demais.

20121215_LDC649

O artigo continua trazendo alguns dados importantes e preocupantes a respeito de como a nossa dieta tem afetado a nossa saúde:

  • Em 2008 as taxas de obesidade atingiram praticamente o dobro de 1980.
  • Em 1980, um em cada três adultos estava com sobrepeso (com IMC, índice de massa corpórea, acima de 25) e já em 2008 dois terços dos adultos superavam essa marca.
  • No Brasil mais da metade dos adultos estão com sobrepeso.
  • Os custos da obesidade nos EUA representam cerca de um quinto dos gastos totais em saúde.

A revista The Economist, que costuma defender que o governo deve ficar de fora em questões privadas, diz não estar tão certa de que nesse caso o governo não deva intervir. E argumenta que medidas anti-tabagismo, bem como a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança (que também caracterizam intromissão do governo em questões privadas) são consideradas um sucesso.

Segundo o artigo, a obesidade é resultado de várias decisões pessoais. Entretanto, dado o crescimento da obesidade em muitos países – e desproporcionalmente entre os mais pobres – não é possível que se culpe apenas o indivíduo. Milhões de pessoas, de diversas culturas, não se tornaram glutonas e preguiçosas de uma hora para outra. Várias outras forças estão em jogo e o governo pode e deve usar a sua influência para desencorajar o excesso de comida. Mas como?

Economistas, ao enfrentar comportamentos indesejados, tendem a sugerir “impostos sobre o pecado”, como no caso da tributação sobre cigarros. Mas fazer o mesmo com comida não é fácil. Comidas engordativas não são uniformemente prejudiciais a saúde. A Dinamarca, que definiu um imposto sobre gordura em 2011, acabou abandonando o projeto depois de um ano. Além da dificuldade de se taxar gorduras nos alimentos, essa medida ainda é injusta do ponto vista fiscal, uma vez que os pobres gastam um percentual ainda maior da sua renda com comida do que os ricos, o que faria desse um imposto regressivo.

Segundo a The Economist, na ausência de uma única grande medida fácil para o problema, o governo deveria tentar pequenas medidas. Estas são algumas sugestões da revista:

  • Informar os pais sobre perigos de superalimentar seus bebês.
  • Exigir que escolas sirvam apenas alimentos nutritivos, ensinando as crianças a comer de forma sauável e proporcionando espaço para atividade física.
  • Estimular planejadores urbanos devem a desenharem vias públicas mais amigáveis para ciclistas e pedestres.
  • Aumentar impostos e reduzir o tamanho máximo da embalagem das bebidas açucaradas – que ao contrário de comidas gordurosas não têm valor nutricional.

Segundo a revista, os estados americanos da Filadélfia e Nova Iorque adotam essas medidas, e as taxas de obesidade infantil estão começando a cair.

Para a The Economist, porém, há um limite de até onde o Estado pode ou deve intervir. Para a revista, a responsabilidade e o poder de mudança permanecem sobre o indivíduo. A decisão pessoal de comer até estourar ou adotar uma dieta mais saudável afetará o futuro da espécie humana muito mais do que qualquer medida governamental.

Nós, do Infância livre de Consumismo, acreditamos que o governo e a sociedade podem fazer muito mais, afinal somos nós, pessoalmente e enquanto sociedade, que pagamos a conta da obesidade. Nós acreditamos, como diz a The Economist, que as pessoas realmente não ficaram gulosas, preguiçosas e consequentemente gordas de uma hora para a outra. O poder econômico das indústrias alimentícias e farmacêuticas e a necessidade de gerar cada vez mais lucro explicam a origem dos hábitos alimentares atuais. A propaganda, muitas vezes enganosa, de produtos cheios de gordura e açúcar (com a adição de algumas vitaminas para terem um verniz de saudável) também está na raiz do problema e nem é citada como causa da obesidade no artigo da The Economist. Adultos podem se informar e tomar decisões saudáveis a respeito das suas dietas. Crianças não têm esse poder de decisão e portanto devem ser protegidas, não apenas por suas famílias, mas também pelo Estado e por toda a sociedade.

Para ler o relatório completo, acesse este link. No topo da página, ao lado de “Special Report: Obesity”, em azul, há uma seta. Pouse o mouse sobre ela e verá uma lista de títulos com o restante dos textos.

(*) Renata é mãe de 3 meninas: Luiza, Julia e Clara. Médica formada pela Unicamp, mora há um ano com sua família na Califórnia. Sua filha Julia é autora do blog Chef Juju, com muitas receitas gostosas.


Tags:  obesidade responsabilidade comparti The Economist

Bookmark and Share




Previous Post
Consumo é a última coisa que as crianças precisam aprender
Next Post
Sobre publicidade e o direito de citar marcas e produtos



Mariana Sá




You might also like






More Story
Consumo é a última coisa que as crianças precisam aprender
Texto de Susan Linn* Tradução de Silvia Düssel Schiros** (Texto original daqui) A ciência moderna nos mostra do que as crianças...