Texto de Debora Regina Diniz*
No fim de abril, o texto de uma mãe compartilhando suas descobertas a respeito dos produtos vendidos na rede de fast food McDonald’s, em especial a maçã, gerou inúmeros comentários e compartilhamentos. Algumas pessoas, assim como eu, concordaram que é um absurdo a venda de uma maçã em pedaços dentro de um saco plástico na qual foram utilizados o antioxidante INS 300 (ácido ascórbico ou vitamina C sintética) para evitar o escurecimento da fruta e o estabilizante INS 509 (cloreto de cálcio) para manter a textura.
Algumas pessoas simplesmente disseram: “Santa ignorância, não sabem que INS 300 é vitamina C e que INS 509 é só cloreto de cálcio! Hahahahahaha!”
A questão é que a gente sabe exatamente o que são esses ingredientes e para que servem. Sabemos que são amplamente utilizados na indústria de alimentos e que seu uso é permitido. Mas quem fizesse uma leitura aprofundada do texto e do motivo pelo qual compartilhamos a mesma indignação daquela mãe se perguntaria: precisa realmente disso?
Vamos à questão do ácido ascórbico. Alguns afirmaram: “Ah, isso é vitamina C, é a mesma coisa que espremer um limão para a fruta não escurecer…” Não, não é a mesma coisa! Vitamina C natural, encontrada no limão, na laranja e em outros cítricos, não é a mesma coisa que vitamina C sintética. Ok, a estrutura molecular é idêntica, a função antioxidante é a mesma (e só isso!), mas a família completa dessa vitamina, todo o complexo C e a forma como essa vitamina será absorvida pelo nosso organismo só será adequada se a vitamina vier de fonte natural. Então não dá pra dizer que é igual ao limão! Alguém por acaso tomaria um suco do mais puro INS 300?
Então questionam: “Mas se os conservantes são considerados ‘idênticos ao natural’ e servem apenas para a maçã não ficar escura e borrachenta, do que estão reclamando? Querem arrumar desculpas para falar mal do McDonald’s, isso sim! E tem mais, a Anvisa libera!!!”
Sim, a Anvisa libera… Aliás a Anvisa libera tanta coisa: libera conservantes, alimentos pouco saudáveis, remédios banidos em outras partes do mundo…
Aí é que está o ponto. Quem é o lado mais fraco? O consumidor ou o McDonald’s? Que interesse nós aqui temos em criticar o MD por criticar? Nenhum. Somos mães falando que a tal rede vende maçã cheia de conservante para travestir seu lanche calórico de saudável e, pior,para crianças!!! Lembrem-se que maçãs e cenouras entraram no cardápio do Lanche Feliz para dar uma aura de saudável a ele. Ou a rede está realmente preocupada com a saúde da população?
Já o MD, este quer mais é que sua maçã não estrague e que mães e crianças comam muito lanche feliz por causa dessa maçã que não estraga… porque eles só querem uma coisa: vender.
Vamos pensar juntos? Olhem para o tal saquinho da maçã.
Você acha que tem uma maçã inteira ali? Por que raios essa maçã está cortada se para manter as propriedades (que seriam mantidas se ela estivesse inteira) será preciso adicionar INS 300 e INS 509? Por que não podem vender maçãs inteiras? Seria por questões de higiene e conservação? Mas se o problema é a higiene e a conservação, como podem vender outros alimentos? A maçã deve ser embalada fatiada e em pacotes plásticos, mas eles podem manipular o hamburguer e a batata frita? E, por último, por que um pacote com fatias de maçã passadas no conservante custa R$ 4,00 se pelo mesmo preço eu compro um quilo de maçãs sem conservantes?
Se pararmos pra pensar é muito difícil acreditar que grandes marcas possam ganhar dinheiro colocando nossa saúde e a de nossas crianças em jogo. Como indústria, governos, marketeiros – enfim, todos – permitem um absurdo destes? E pra quem acha que isso não acontece, que as empresas são sérias, não erram nunca e seguem um rigoroso “controle de qualidade”, vale dar uma olhadinha nos jornais de uns tempos atrás sobre uma bebida considerada saudável e rica em vitaminas.
(*) Debora é mãe de três, cursou Letras e Semiótica. É doula e educadora perinatal e participa de encontros de mães e bebês na Roda Bebedubem quinzenalmente no Sesc São José dos Campos. É ativista e implicante com a sociedade atual desde sempre.
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