Texto de Letícia Cesarino*
Formas mais naturais de alimentação infantil e parto estão virando tendência, mas tem-se falado menos sobre outro elemento fundamental da relação entre mãe e bebê: o atendimento das necessidades fisiológicas. Gostaria de propor aqui a abertura de um tópico sobre o assunto, para troca de informações e experiências sobre o tema. Começarei por minha experiência pessoal, para depois indicar alguns temas e links para pensar a alternativa da higiene natural.
Quando meu primeiro filho nasceu, fiz tudo dentro do “padrão” normal do Brasil: parto natural com anestesia peridural (nem me foi oferecida outra opção), amamentação no peito complementada por leite artificial até sete meses (cismei que ele tinha nascido grande demais e que eu não estava tendo leite suficiente); fraldas descartáveis até ele ser treinado a usar o vaso por volta de 2 anos e meio. Sete anos depois, morando na Califórnia – onde muitos levam um estilo de vida mais, digamos, alternativo – resolvi fazer tudo diferente. Parto normal sem anestesia – idealmente, gostaria de ter tido parto em casa na banheira, mas, ironicamente, o seguro saúde não cobria, então acabou sendo no hospital mesmo. Minha filha, nascida maior ainda que o primeiro com quase 4,400 kg, tem sido amamentada exclusivamente no peito sob demanda praticamente desde o início; naqueles primeiros dias em que achei que estava faltando leite, cheguei a dar uma mamadeirinha ou outra, mas também recorri a extratos herbais (no caso, fenogrego) que ajudam a aumentar o leite, e nunca mais ela voltou a tomar mamadeira. E, finalmente, fralda de pano – nos EUA, há toda uma indústria em torno disso, pois tem se tornado uma prática relativamente comum. Só que, ao invés de gastar dinheiro e energia elétrica com lavadora de roupa, tenho lavado tudo na mão.
Um dia no Facebook, pouco depois da minha filha nascer, um amigo postou um vídeo sobre higiene natural: uma técnica que consiste em levar o bebê para se aliviar na privada ou na pia desde as primeiras semanas ou dias de vida. Achei aquilo interessante – afinal, mulheres de todas as demais épocas se viravam muito bem sem fraldas, e, considerando que só China, Índia e o continente africano somam mais de três bilhões de pessoas, é possível que este seja o caso de boa parte das mulheres vivendo no mundo hoje. Resolvi, só por curiosidade, tentar com minha filha, pois tinha a impressão de que conseguia reconhecer mais ou menos os sinais de quando ela ia se aliviar. Nas vezes que tentei, a taxa de acerto foi entre 80-90%. Mas como neném recém-nascido faz xixi e cocô toda hora, larguei pra lá, pois me pareceu trabalhoso demais.
Quando minha filha cresceu mais um pouco, a frequência dos cocôs diminuiu, e passaram a se concentrar mais ou menos nas mesmas horas do dia. Resolvi, então, retomar o projeto, agora que ela está com quase três meses. Minha abordagem no momento é mista: fralda descartável pra dormir à noite (tipicamente, apenas uma, pois ela parou de fazer cocô à noite e tem acordado 1-2 vezes para mamar); fralda de pano para cochilar e vestir durante o dia; e levo na privada nos horários em que ela normalmente faz cocô, cerca de três vezes ao dia (xixi ainda não me arrisquei, a frequência ainda é muito alta). Tem muito pouco tempo, mas a taxa de acerto tem sido perto de 100%. E não me surpreendo; por incrível que pareça, o neném, mesmo tão novinho, sabe para que está sendo levado ao banheiro quando colocado naquela posição (agachadinho, segurando debaixo das pernas; faço um barulhinho de “ssshhhh”; depois é só passar uma aguinha na pia, não precisa gastar paninho úmido). Assim como o parto natural sem anestesia te dá toda uma outra dimensão do que o seu corpo é capaz, isso te dá uma outra dimensão do que seu neném é capaz. Estou vendo minha filha com outros olhos desde então. E a mãe também sabe quando o bebê precisa ir, seja intuitivamente ou prestando atenção nos padrões de tempo e comportamento dele. Pesquisando o assunto na internet, encontrei um pediatra que deu um depoimento de quando trabalhou em Uganda e perguntou, impressionado, a uma das mães: “Mas como sabe quando seu filho precisa ir [no banheiro]?” Ela riu, e respondeu: “E você, como sabe quando você precisa ir?” Trata-se mesmo de uma simbiose; de fato, um dos efeitos é intensificar ainda mais o laço comunicativo e afetivo entre o bebê e a mãe (ou pai, ou o cuidador).
Por enquanto, ando fazendo tudo de modo meio intuitivo, mas gostaria de entender mais do assunto e trocar experiências. Há vários bons links disponíveis na internet, infelizmente a maioria em inglês (chama-se “elimination communication”, ou comunicação da eliminação:
Em português, já houve algumas matérias na imprensa, mas não tão detalhadas. Entre os links mais úteis que encontrei estão os seguintes:
http://saude.hsw.uol.com.br/sem-fraldas.htm
http://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/2013/08/07/noticia_saudeplena,144238/bebes-podem-ser-criados-sem-fralda.shtml
*imagem Site Catraquinha
*Letícia é antropóloga. Vive em Berkeley, na Califórnia, e é mãe de um menino e uma menina.
Tags: bebês sem fraldas minimalismo