Texto especial para o Milc de Vanessa Anacleto*
Uma frase muito ouvida quando o assunto é feira de troca de brinquedos: “Pra que trocar se podemos doar?” A frase nos chama a um questionamento válido até certo ponto. Afinal, se existem tantas crianças que necessitam de um brinquedo e não têm acesso, por que estimular trocas entre os que têm muitos brinquedos? Não seria melhor uma campanha de arrecadação de brinquedos visando alcançar um maior número de crianças? Não e sim. Explico.
Vivemos num mundo onde a ordem é o acúmulo de coisas. Compramos coisas, ganhamos coisas muito mais do que precisamos. Para não deixar a máquina parar de girar, as empresas, nas datas comemorativas criteriosamente estabelecidas ao longo do ano, nos convidam a comprar e presentear mais e mais. É certo que faltará espaço para guardar, tempo e oportunidade para usar essas coisas. É certo que um dia não precisaremos mais de todas as coisas e precisaremos passá-las adiante. Doar qualquer bem material, por mais simples que seja, demanda um exercício de desapego. Algumas pessoas sequer cogitam doar um alfinete que seja. Outras o fazem com consciência e extrema facilidade assim que o objeto perde sua serventia. Para quem doa, saber que aquilo que não lhe serve mais poderá ser útil a outras pessoa é gratificante. Afinal, aquele casaco esquecido no armário passará a aquecer alguém, o bichinho de pelúcia acumulando poeira na prateleira será o companheiro de brincadeiras de um pequenino. Sim, doar o que nos sobra é essencial ao nosso crescimento como pessoas humanas. Mas quantas vezes doamos apenas para abrir espaço para novas aquisições?
A troca é tudo o que foi descrito acima e um pouco mais. Um pouco mais que faz muita diferença. Na troca, além da sensação de ter deixado alguém feliz com a coisa que não nos serve mais, passamos a enxergar a tal coisa como coisa que é. Algo cujo valor deve ser expresso não pela marca, pela grife, pelo nome, mas pela serventia que terá nas mãos do outro. Em contrapartida ( e que contrapartida), podemos escolher algo que não serve mais ao outro e que nos servirá como se novo fosse, pois novo será o destino que daremos a essa coisa. Ela não foi comprada, não esteve numa vitrine. A coisa simplesmente existe e nasce para nós no momento da troca. Se para um adulto isso já é uma experiência interessante, imagine para uma criança? Vivenciar a troca e aprender o real valor das coisas. Ver que é possível se alegrar e brincar com algo que não veio de uma loja, mas da casa de outra criança. Estas são experiências com as quais a visita à loja de brinquedos nunca será capaz de competir.
Quanto à campanha de doação de brinquedos para os mais carentes, a troca também acaba servindo a este propósito. Nas feiras de troca, todos os brinquedos que sobram, uma vez desapegados dos donos, vão para doação. E então, vamos nos permitir a experiência da troca?
Este ano deixamos mais uma vez o convite do Instituto Alana:
“As Feiras de Troca de Brinquedos são uma maneira engajada e divertida de repensar a forma como consumimos, envolvendo adultos e crianças na prática desta reflexão.
O Instituto Alana acredita nessa iniciativa e busca oferecer as ferramentas necessárias para que as pessoas realizem seus próprios eventos.
As feiras são organizadas por quem acredita na importância de refletir sobre o consumo. Não é preciso uma organização ou instituição, qualquer cidadão pode fazer uma feira de forma autônoma!”
Para saber como organizar sua feira ou participar de uma feira agendada, consulte http://feiradetrocas.com.br/: a página traz um kit com Guia Passo-a-passo com todas as informações.
Imagem de Iris Scuccato feitas em Salavdor
(*) Vanessa é mãe do Ernesto, blogueira no Mãe é tudo igual, escritora no Fio de Ariadne, opiniática e gosta do que faz.
Tags: Dia das Crianças Dia das Crianças 2013 Dia das Crianças sem consumismo Feira de Troca de Brinquedos Trocar é mais divertido do que comprar