Texto especial para o Milc de Mariana Sá*
Dia desses fui tomada por uma ansiedade meio estranha: sabe como é? Aquela sensação de que o tempo está se esgotando e não terminamos de tomar alguma providência. Uma sensação de que estamos esquecendo de algo e não temos tempo de checar tudo para descobrir o que é. Uma sensação de que não teremos tempo de concluir uma tarefa ou obrigação. Uma vontade de começar a correr antes que o tempo acabe. Um sentimento de urgência, de não poder perder tempo, de que temos que reagir.
Olhei ao redor e vi que não havia motivo racional para esta sensação: tarefas em dia, projetos sob controle, providências tomadas, problemas encaminhados, a vida andando como deveria andar. Daí lembrei que fui ao shopping, uma atividade cada dia mais rara, e lembrei das renas, sinos, bolas e pisca-piscas instalados nos preenchendo com aquela sensação doce das festas de final de ano.
Isso! O final de ano começou e eu nem sei onde passarei a noite de Natal, não sei quem farei questão de ter ao meu lado, não sei se viajo no ano novo, não fiz a lista dos presentes, não iniciei nenhum preparativo, não comecei a fazer o balanço do ano, não projetei minhas metas para 2014. É isso, então!
Nada disso! O ano não começou a acabar, e começar a “vender” o fim do ano serve apenas para aumentar essa ansiedade, um sentimento de compulsão que pode nos levar a ir além da necessidade no que diz respeito ao consumo, afinal teremos quase 60 dias de apelo comercial. Mal começou novembro e os anunciantes começaram a dar cabo do ano: ainda temos dois meses para viver nossa vida, sem listas de presentes, sem providências festivas.
Eles dizem que temos que começar logo para evitar correrias e esquecimentos, mas será isso mesmo ou querem transformar um mês meio morto para o comércio num dezembro?
Ainda tem um feriadão para viver em novembro, ainda tenho as apresentações de final de ano dos meus filhos para aproveitar e lá para meados de dezembro terei tempo para lembrar que o Natal está chegando e que 2013 está acabando. Escolhi viver o presente porque – de fato – ainda não é Natal.
*Mariana é publicitária e mestra em políticas públicas. É mãe de dois e escreve no blog Viciados em colo. Co-fundadora do Movimento Infância Livre de Consumismo.
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Tags: Natal Natal em novembro natal sem consumismo natalização precisamos rever o Natal
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