Texto de Renata Kotscho Velloso
Estávamos no Alaska. Após chegarmos na capital Juneau, uma cidade acessível apenas por água e ar, pegamos um hidroavião até uma pequena pousada onde nos foi servido um salmão fresco pescado na hora. O melhor peixe que eu comi na vida.!! A exuberância da natureza em volta era de emocionar. Geleiras glaciais imensas rasgavam montanhas rodeadas pro florestas e água azul turquesa. Nem se eu fosse Guimarães Rosa conseguiria descrever tanto deslumbramento.
Mas ai veio a frase do título, gritada em bom português, naquele santuário. Sim, tinha lojinha. Na verdade era uma barraquinha com pouco mais de um metro quadrado onde se podia comprar ursinhos de pelúcia feitos na China com o logotipo da pousada, alguns cartões postais e camisetas que poderiam estar escritas “estive num dos lugares mais maravilhosos da terra e mesmo assim gastei em tranqueira”.
Vivemos em um mundo materialista. A experiência, por mais fantástica que seja não parece suficiente. É preciso materializar aquilo com consumo. A excitação na voz da mulher do Celso não deixava dúvidas: fazemos parte de uma sociedade que precisa “pegar” para sentir. Precisa possuir ou não é feliz.
Tenho tido a sorte de viajar muito, mas infelizmente tenho visto cada vez mais lojas cheias e experiências vazias. Entendo que os preços estejam altos no Brasil e que é uma oportunidade aproveitar para comprar algumas coisas que são mais baratas no exterior. Mas sério mesmo que todo mundo precisa ter várias porcarias de qualquer lugar que visita?
Isso sem falar no povo que perdeu a vergonha e agora marca viagens com um único objetivo: comprar. Aviões chegam e saem da Flórida diariamente lotados de pessoas que nem dizem mais que vão visitar a Disney, que aliás nem deixa de ser outro turismo de consumo, ainda que levemente disfarçado.
Sério gente. A Terra é linda demais! Tem lugares por ai a serem explorados que nem parecem de verdade. Existem culturas para serem descobertas que são quase tão diferente da nossa quanto se a viagem fosse para outro planeta. Precisamos valorizar isso para nós e para nossas crianças. Se não valorizarmos as pessoas e experiências corremos o risco de nos transformarmos em coisas. E pior, coisas tão vagabundas quanto as que são vendidas nas lojinhas.
Renata Kotscho Velloso é médica, mãe e maluca não necessariamente nessa ordem. Mora em San Francisco na California com o marido e suas 3 filhas. É autora do Bulle de Beaute dando dicas de beleza e saúde baseadas na ciência. Quem quiser acompanhar as viagens da família pode assinar o canal do youtube Home Sweet World
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