criança e mídia / destaque_home / 13 de junho de 2014

Meu filho só gosta da tevê e de mim

Texto de Mariana Sá*

Recentemente escrevi um texto sobre o uso de telas e bebês que rendeu uma boa conversa com uma mãe de uma menininha de 16 meses que adora tevê. Ela dizia que não conseguia fazer mais nada da vida se a bebê não estivesse conectada a uma tela: não conseguia cuidar da casa e nem de si própria, nem mesmo realizar atividades básicas como ir ao banheiro. A bebê só estava satisfeita se estivesse junto à mãe ou diante da televisão.

Para mim, ouvir isso é como uma ativista de parto ouvir “marquei minha cesárea”, ou como um ecologista ver alguém jogando uma latinha na trilha. Qualquer ativista sabe das mazelas do sistema. Eu sei que a praia está cheia de estrelas do mar se afogando em ar e que não conseguiremos salvar todas, mas nosso impulso é ir lá catar as estrelas que pudermos e jogar de volta para o mar. Pode não significar para a espécie de estrelas do mar, mas significará muito para as que forem salvas (Débora Regina Diniz, minha ativista de parto favorita compartilhou comigo esta “imagem” e não podia achar um momento melhor para fazer uso dela).

Pois bem, saí dos meus cuidados para tentar catar esta mãe da areia da praia e pus-me a responder comentários e a fazer perguntas: trocar ideias sobre as possibilidades de redução do uso ou até mesmo substituição.

O que vou falar agora é de muita importância para as pessoas que cuidam sem ajuda de bebês e que ainda precisam dar conta da casa (digo isso na expectativa de que nem passe pela cabeça dos que possuem ajuda colocar o bebê diante de uma tela).

Como eu já tinha dito, a primeira coisa que pais, mães, tios, avós, professores, babás e qualquer adulto que cuide de crianças precisam saber é que as telas (tevê inclusa) não são uma necessidade dos bebês. Isso é prioridade: é fundamental e importante ter esta a consciência de que a necessidade é do adulto que cuida e não do bebê que “gosta”.

Nem precisa prosseguir na leitura se achar que tevê ensina coisas bacanas e úteis ao bebê. 

Precisamos ter convicção de que a tevê não ensina coisas bacanas e úteis ao bebê. Não ensina, não ensina, não ensina! Ensina a repetirem numerais e sequências de letras vazios em significados e a cantar músicas engraçadinhas, mas isso não tem utilidade e benefício para um bebê, ou seja, não vale o prejuízo a longo prazo.

Esta convicção é o primeiro passo para que o cuidador busque e encontre atividades que possam entreter o bebê enquanto faz suas atividades, reduzindo ou eliminando o uso das telas durante o tempo que não podem interagir.

Precisamos pensar mais sobre esta necessidade natural do bebê estar sempre ao lado do seu cuidador e de só conseguir ficar à distância quando está diante da televisão.  Acho muito curioso (talvez alguém mais estudado nos informe) que o bebê troque a pela tela e nada mais. Sei que isso é usual: é incrível como as crianças se pacificam diante de uma tela, isso deveria nos inquietar, e não aliviar. Afinal o que existe nesta tela de tão encantador a ponto de conseguir uma atenção que só a mãe consegue?

Minha mais velha sempre teve facilidade em se entreter sem adultos, o caçula não: adorava estar no colo e precisava de interação constante. A identificação com a mãe que não conseguia ir ao banheiro foi imediata. Fui no baú de lembranças buscar o que eu fazia para poder fazer minhas coisas quando estava sozinha, o que as amigas mães faziam com os seus e todos os textos que já li sobre atividades para entreter bebês.

Existe vida fora das telas

Existem alternativas muito bacanas, fáceis e baratas de produzir, para deixar a tevê só para aquelas horas em que nada mais funciona. Vou listar apenas o que funcionou para mim e alerto para terem o máximo cuidado com objetos que possam ser desmontados, engolidos ou colocados no nariz:

– Caixas Sensoriais, um clássico da educação montessoriana: monte caixas temáticas e entregue a bebês um pouco maiores. Caixas com blocos grandes. Caixas com conchas grandes. Caixas com bonecos e carrinhos. Caixas com animais. Cuidado extras com objetos que possam ser engolidos ou colocados no nariz. Leia mais sobre caixas sensoriais e se inspire.

– Potes de plástico e colheres de pau são brinquedos favoritos na cozinha: aqui a criatividade precisa se aliar com cuidados extras. Quando tiver coisa no fogo, procure limitar o acesso do bebê ao fogão. Vale colocar o bebê no cadeirão com cinto de segurança e ir dando coisas a ele. Aqui o problema é ter que ficar devolvendo as coisas que joga no chão – bebês adoram testar as leis da gravidade. Enquanto estiver na fase da preparação, deixe que ele no chão. Permita que abra os armários e brinque com os potes de plástico. Cuidado com as facas, objetos pontudos e pequenos.

– Legumes bem cozidos e frutas servem como massinha e estímulo extra à fase de introdução alimentar que vai até um ano: novamente no cadeirão, com a bandeja muito limpa, entregue pedaços grandes de legumes e frutas. É permitido deixar que experimentem com a boca e com as mãos e não se importe com a sujeira.

– Pregadores de roupa são uma opção fantástica: você precisa tirar a roupa do varal e estender as roupas lavadas. Leve o bebê para a área de serviço (tendo antes tirado do alcance materiais de limpeza ou itens perigosos para o bebê), entenda uma toalha limpa e o deixe ali. entregue pregadores de roupa nas mãozinhas, prenda-os na roupa. Se o bebê conseguir ficar de pé, pegue aqueles rolos de papel toalha e papel higiênico e grude na parede com fita adesiva e ensine como os pregadores passam e caem no chão. Cuidado com pregadores velhos que possam desmontar e soltar molas.

– Dançando na área de serviço: quando ele cansar dos pregadores, tente outros objetos (leve alguns trunfos com você e o surpreenda com as novidades). Mesmo assim se ele cansar antes do varal ficar no ponto, ponha uma música e dance pra ele: vale fazer palhaçadas enquanto dobra/estende as roupas.

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Continua na semana que vem: vou compartilhar a técnica que usei para ensinar a brincar sozinho.

Eu disse neste texto:
– Bebês não precisam de tevê;
– Adultos precisam de tevê para que os bebês fiquem quietos;
– Bebês precisam de interação constante com gente para aprender a ser gente;
– Telas em geral, tevê em especial, causam prejuízos ao bebê a longo prazo;
– Adultos podem se divertir proporcionando uma vida sem telas.

Eu não disse neste texto:
– Que os bebês que assistem tevê vão morrer;
– Que assistir tevê uma vez ou outra vai prejudicar o bebê para sempre;
– Que eu acredito que serei capaz de salvar alguém;
– Que quem não consegue cuidar da casa sem recorrer a telas é uma mãe ruim;
– É melhor um adulto estressado gritando com o bebê do que o bebê estar diante da tela (na verdade é melhor um adulto que sente prazer ao interagir com o bebê, mas sei que nem sempre isso é possível);
– Adultos precisam sofrer para entreter o bebê.

Continua: Meu filho não sabe brincar sozinho

Dicas para brincar com bebês: 0 a 3 meses; 3 a 6 meses; 6 a 9 meses

Todas as imagens deste post são do Educar com Carinho.

(*) Mariana é mãe de dois, publicitária e mestre em políticas públicas. É autora do blog materno viciados em colo e é cofundadora do Milc. Mariana faz regulação de publicidade em casa desde que a mais velha nasceu e acredita que um país sério deve priorizar a infância, o que – entre outras coisas – significa disciplinar o mercado em relação aos direitos das crianças. viciadosemcolo.com


Tags:  bebê brincadeiras brincar relação mãe-bebê sem telas telas televisão

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