Texto de Ivana B. Sufredinni*
Modinhas entre as crianças sabemos que existe desde o tempo em que colecionávamos figurinhas “Amar é…”, das capas dos “LPs” de grupos de Rock’n’Roll, de ter a boneca Mãezinha, ou Falcon olhos-de-águia, sem falar no Telejogo, Atari, e tantas outras coisas que, quando chegam a nós pela mídia contemporânea, damos aquela risadinha nostálgica…
Hoje, uma das modinhas é fazer pulseirinhas, “charms”, colares, e o que sua imaginação imaginar, com as “loom bands”. Uma verdadeira – e diga-se de passagem – deliciosa mania. Porém, essa nova mania veio com um perigo, divulgado recentemente: a elevada presença de ftalatos, classificados como tóxicos. Alguns links sobre a notícia são facilmente acessados na net, e estão
relacionados abaixo. Cabem algumas explicações, para fundamentar as notícias alarmantes.
Ftalatos são produtos adicionados a plástico, como o cloreto de polivinila (PVC), ao qual confere maleabilidade, flexibilidade, transparência, durabilidade e longevidade, proporcionando seu uso em diversas aplicações. Podem ser usados para outros fins, como listados abaixo. Ftalatos se ligam às cadeias poliméricas que formam os plásticos, através de duas ramificações presentes, que podem ter tamanhos diferentes, e que definem a qual dos dois grupos esses ftalatos pertencem: ao grupo dos que apresentam baixo peso molecular e ao dos que apresentam alto peso molecular. Os de baixo peso molecular podem se desprender da cadeia polimérica dos plásticos mais facilmente, e portanto, deixar aquele gostinho de plástico mais facilmente nos produtos que consumimos. Por questões de saúde, os ftalatos de baixo peso molecular foram trocados pelos de alto peso molecular, porque são mais estáveis, ou seja, não se desprendem da cadeia polimérica dos plásticos tão facilmente, e portanto, seriam mais seguros. Com estudos mais profundos referentes tanto à saúde dos seres como a saúde do ambiente, hoje há a tendência de que os ftalatos sejam trocados por outros agentes. Mas o que tudo isso tem a ver com as pulseirinhas?
Segundo algumas reportagens, como a do The Independent, um lote dos “charms”, feitos por determinados fabricantes (não divulgados), que são pingentes para serem colocados nas pulseirinhas pendurados, apresentou índices de ftalato até 500 vezes maior do que o permitido pela legislação europeia, que é de 0,1%. A reportagem não menciona a presença de ftalatos nas argolinhas usadas para fazer a pulseirinha, nem o plástico usado para prender as pulseirinhas, em formato de C (o oficial) ou de S, geralmente encontrados no mercado. Conforme se lê a reportagem, fica claro que testes estão sendo realizados nesses dois itens também, porém, não foi divulgada informação alguma a respeito de sua toxicidade ou mesmo da ausência de toxicidade.
Sendo assim, não tem como sabermos se as argolinhas de borracha e os prendedores também contêm os níveis alarmantes de ftalato como os pingentes. De qualquer modo, devemos estar atentos ao que diz as embalagens e as informações lá contidas, e se faltam informações, devemos nos posicionar, reclamar e exigir a qualidade que queremos. Não é comum a divulgação de testes realizados em produtos cujo resultado é negativo para toxicidade. Acho que seriam necessários muitos jornais para relatar a ausência de toxicidade de tudo que consumimos. Portanto, o grau de alarme deve ser bem dimensionado por cada família, dentro do que foi reportado, sem deixar de estar atentos a futuras reportagens sobre o assunto.
Não é possível esquecer que ftalatos podem ser encontrados em vários tipos de produtos consumidos diariamente, como blisters usados para armazenar comprimidos, drágeas e pílulas, bem como de alguns alimentos, adesivos, colas, ceras, tintas, produtos alimentícios, produtos têxteis, pigmentos, brinquedos eróticos, cortinas de box (banheiro), recipientes que contêm alimentos, ou mesmo usados para embrulhar alimentos, bebidas, perfume, maquiagem (sombra), hidratantes, esmalte, sabão líquido, laquê, cateteres, equipamentos para transfusão de sangue, entre outros. Estima-se que mais de seis milhões de toneladas de ftalato são produzidos e consumidos anualmente, e podem representar cerca de 10 a 60 % do peso dos materiais plásticos. Como existem diversos tipos de ftalatos, as empresas conscientes tendem a trocar os ftalatos mais tóxicos pelos menos tóxicos.
Existe forte tendência a que os ftalatos sejam trocados por produtos mais seguros, por conta da legislação europeia e americana, que são rígidas. Outros países, como o Brasil, seguirão a tendência, principalmente se nós, consumidores cada vez mais conscientes, exigirmos.
Fonte: Wikipedia.
Consulte também:
Wikipedia
The Independent: Loom bands tested for harmful levels of toxins
Proteste: Atenção com os acessórios de loom band
Folha: Substância toxica, ftalato é encontrado em artigos de uso cotidiano
Imagem da web
(*) Ivana possuiu Mestrado e Doutorado em Fármaco e Medicamento pela Universidade de São Paulo e Pós Doutorado em Toxicologia. Atualmente, é Professora Titular da Universidade Paulista, docente permanente nos programas de Mestrado e Doutorado em Patologia Ambiental e Experimental e de Mestrado em Odontologia. Tem experiência na área de Farmacognosia, com atuação nos seguintes temas: avaliação de extratos vegetais com atividade antitumoral, antimicrobiana, antioxidante e avaliação da toxicidade geral e alterações comportamentais de extratos vegetais ativos, particularmente voltados para uso em Medicina Veterinária e Humana e para aplicações em Odontologia.
Links:
http://en.wikipedia.org/wiki/Structural_formula
http://en.wikipedia.org/wiki/Molecular_mass
http://en.wikipedia.org/wiki/CAS_Registry_Number
http://en.wikipedia.org/wiki/Dimethyl_phthalate
http://en.wikipedia.org/wiki/Diethyl_phthalate
http://en.wikipedia.org/wiki/Diisobutyl_phthalate
http://en.wikipedia.org/wiki/Benzyl_butyl_phthalate
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