Texto especial para o Milc de Anne Rammi*
A indústria que coloca alimentos insalubres hiperprocessados carregados de todos os tipos de aditivos químicos e engordantes nos corredores no mercado de cada esquina? Não tem responsabilidade nenhuma.
Os publicitários que marketeiam com todo o apartado de cores, formas, personagens, jingles e brindes casados essas sub-comidas para crianças que nem sequer sabem ler o próprio nome? Estão apenas fazendo o seu trabalho.
Os governos que tem a responsabilidade de zelar pela saúde de seus cidadãos? Não é com eles também.
As escolas que assumem o papel de co-educadoras das crianças, inclusive no momento das refeições? Esqueça. Importante é matemática, o que a criança vai engolir diariamente por 15 anos da vida não tem importância nenhuma.
A culpa é sua, que não sabe dizer não. A culpa é do seu filho, que não se exercita. Vocês dois realmente são muito molengas.
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A epidemia de obesidade infantil assola o mundo. No Brasil, 33% das crianças estão obesas, como já vimos no documentário Muito Além do Peso.
A questão matadora é: se 33% das crianças de uma escola estivessem com catapora, isso não geraria uma medida de contingência urgente? Ou as escolas estariam “respeitando a cultura de doenças das famílias” como dizem que fazem com alimentação?
Se 33% das crianças de um país estivessem com hepatite, não seria motivo de alarde? Porque é que a obesidade infantil não é encarada como tal?
Depois de assistir o Muito Além do Peso, faça o caminho natural do pai/mãe interessado pela saúde integral dos filhos e assista Fed Up. A versão americana do tema, que para além da publicidade infantil aborda o perigo das relações entre as indústrias e os governos e muito conteúdo histórico de como a indústria de alimentos chegou no estágio de adoecer crianças em massa e passar ilesa com isso.
A partir da eleição de Obama, a dama Michelle decide preocupar-se com a sociedade americana, onde 2/3 da população está obesa. Em especial com as crianças, que pela primeira vez na história da humanidade estão mais doentes que a geração anterior. Além dos quilos na balança, amargam diabetes, hipertensão, problemas respiratórios e alérgicos.
Tudo comprovadamente oriundo de um lugar: alimentação porca.
Quando Michelle se dirige ao problema, o lobby industrial fortíssimo entra em ação – nessas horas ser brasileiro é um grande negócio, temos ainda algum acesso às comidas de verdade, a cultura americana está construída em alimentação embalada, eles praticamente não cozinham. Legítimo e legalizado na terra do Tio Sam (oops, já amargamos essa história aqui no Brasil também) o dinheiro da indústria se apodera da campanha de saúde, que por um momento visava cumprir os índices da Organização Mundial de Saúde (OMS), para converter tudo o que poderiam fazer para colaborar com a saúde do cidadão em? Adivinha? Adivinha?
Culpa do cidadão! Mandem que eles se exercitem, que se mexam (e não vamos falar da quantidade de açúcar nem dos nomes fantasiosos que inventamos para disfarça-lo nos rótulos dos produtos, que depois marketaremos como saudáveis, ricos em fibras e feitos de frutas!)
O filme desenrola a partir da história difícil de crianças obesas, tentando adotar esses “hábitos saúdáveis” que as políticas públicas e os anunciantes apresentam como soluções milagrosas:
“Para queimar as calorias de 600ml de Coca Cola uma criança precisa pedalar uma hora e quinze minutos”.
De forma honesta, Fed Up conta com especialistas para provar que o problema da obesidade infantil é sério, a permeabilidade comercial dos governos é gravíssima para a saúde pública e a responsabilidade exclusiva é colocada no indivíduo – ao invés de reformulação de produtos, regulamentação da publicidade e controle dos atores desse sistema, como escolas e indústria.
Conveniente não?
Uma série de escândalos são relatados e a história da cultura alimentar da América do Norte – a quem infelizmente gostamos de copiar – vai se revelando em interesses obscuros, respostas evasivas das empresas e muita motivação para fazer diferente.
A começar, individualmente, pela lucidez de que alimentos processados são sempre uma opção terrível, à despeito das maravilhas que as embalagens e propagandas prometem, do brinquedinho que vem junto, ou das crianças com câncer que fingem ajudar.
E quem sabe, coletivamente, demonstrando mais apoio às diretrizes que já existem no nosso país, para proteger as crianças da publicidade que as torna doentes. Seu filho está obeso??
A culpa não é sua.
Nota provocação da editora: qualquer semelhança com a realidade brasileira é mera coincidência?
(*) Anne é mãe de dois e especialista em nada. Artista plástica por formação, pinta, borda, canta e sapateia. Tudo mais ou menos. Divide sua experiência de mãe e curiosa dos assuntos que cercam a criação de filhos na internet desde que eles nasceram, com abordagem bem humorada e ranheta, como lhe é peculiar. É editora do Mamatraca, um portal de conteúdo materno independente.www.mamatraca.com.br
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