Texto especial para o Milc de Debora Regina Magalhães Diniz*
Quando assisti ao documentário: O Começo da Vida, minha vontade foi de encontrar a cineasta Estela Renner, abraçá-la e dizer “obrigada”.
Estou há anos atuando como ativista materna, repetindo exaustivamente a importância de um nascimento respeitoso, o estabelecimento do vínculo, a participação dos pais, a importância do brincar e tantas vezes fui ignorada… ufa! E estava tudo lá!
O filme desperta inúmeras sensações e, dentre elas, a culpa. Minha mente ficava repetindo, tal qual uma música dos Titãs: “devia ter escutado mais, brincado mais, abraçado mais”… É difícil lidar com essa culpa. Mas, conforme o documentário se desenrola, percebemos que a grande maioria das mães (e alguns pais) quer o melhor para os seus filhos, muitas vezes erram porque estão inseridos numa sociedade que não oferece nenhum suporte.
“É preciso uma vila para educar uma criança” e nós estamos sozinhas mesmo sendo privilegiadas dentro de um cenário mais amplo. Ficou claro que, a dificuldade dos pais se empenharem na criação de seus filhos é diretamente proporcional à ausência de políticas públicas de apoio a parentalidade. O capitalismo é cruel com os pais e cruel com as crianças. E, para completar, usa a culpa para vender seus produtos para que os pais tenham “mais tempo” ou consigam preencher vazios afetivos com “objetos”.
Mas ainda estamos no plano individual. Sim, porque a primeira metade do documentário faz a gente se questionar sobre nossas práticas com nossos próprios filhos, na segunda parte vem a porrada e faz a gente acordar e perceber nossos próprios privilégios. E se a gente percebe a importância de cuidar de nossos filhos, entendemos que não adianta fazer a mudança apenas no âmbito privado. Precisamos nos responsabilizar por todas as crianças do mundo, afinal elas são a humanidade.
E pegou um ponto que nós, do MILC, repetimos sempre: a culpa não é só das mães!!! Cuidar da infância é obrigação de todos!
E foi aí que chorei copiosamente, porque muitas vezes me peguei no dilema da ativista: precisei deixar meus filhos para lutar pelo direito de outras crianças. Me culpei tantas vezes e esse documentário foi redentor: estou no caminho certo! O documentário é essencial para todos que se importam com a infância.
Nota da editora: “O Começo da Vida” chegou hoje à Netflix e está disponível na plataforma Videocamp para exibições coletivas seguidas de debates e rodas de conversa.
(*) Debora é mãe de três, cofundadora do Milc, cursou Letras e Semiótica. É doula e educadora perinatal há 10 anos. Atualmente vive no Vale do Paraíba e é uma das coordenadoras da Roda Bebedubem. É ativista e implicante com a sociedade atual desde sempre. Co-fundadora do Milc e membro da Rebrinc
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