Texto especial para o Milc de Mariana Sá*
Tem MUITA coisa que a gente não pode fazer. E MUITA coisa que a gente pode.
Este é um chamado para quem está em condições de atuar. Se puder fazer alguma destas coisas, faça. Se não estiver em condições, nada de culpa. Autocompaixão também é cuidado com o todo.
Acompanhar as notícias mundiais e brasileiras é uma bigorna de impotência nas nossas cabeças.
Tem gente que precisa se alienar para se proteger, porque não dá conta de lidar com tantas possibilidades de desfecho – todas trágicas, de doença ou fome. Cada notícia é gatilho!
Tem gente que consome todas as notícias, lives, estudos e debates. Um esforço para se informar ao máximo e, assim, se estruturar, se preparar psiquicamente para o porvir.
Tem gente que repercute todas as notícias nos seus perfis e nos grupos. Forma opinião sobre cada decisão. Tudo para tentar transformar essa sensação de pequenez em potência.
Nós três, individualmente, estamos pendulando entre estas três atitudes nas últimas semanas de sustentação da vida no confinamento. Estamos tentando achar o tom entre a positividade e o terrorismo para o Milc. Nunca a negação.
Cada uma lida de um jeito e está tudo certo.
O que não é certo é ser sommelier do sofrimento alheio.
Nosso raio de atuação é muito limitado, mas podemos fazer algumas coisas. Vocês também.
Então para sair desta sensação horrível de impotência e autoengano, reunimos nos cards coisas que PODEMOS FAZER.
Se, e somente se, estiverem em condições:
- cuide do que está ao seu alcance. Da higiene e da etiqueta respiratória. Cuide das pessoas. Veja se estão bem: aprenda e ensine a etiqueta respiratória e os protocolos de higiene e distanciamento social. Ligue. Pergunte, escute, oriente, um por um;
- procure levantar as necessidades dos mais vulneráveis. Faça doação em dinheiro. Se engaje nas campanhas. Tem várias Brasil afora. Atenção especial com moradores de rua, pessoas presas, crianças e idosos em situação de abrigo;
- se não está em condições financeiras avalie a possibilidade de mobilizar ou mesmo participar dos trabalhos doando seu tempo e sua energia para as campanhas que façam sentido para você. E se proteja;
- algumas prefeituras e governos estão aceitando voluntários para diversas funções na linha de frente, se você tiver tempo e saúde pode ser uma forma potente de contribuir;
- se seu salário pingar na conta mês que vem, mantenha o pagamento integral de profissionais que teriam te prestado serviço durante a última quinzena, mesmo que não tenham prestado. Terapeutas, professores particulares e extracurriculares, nutricionistas, recreadores, fisioterapeutas, diaristas, etc. Respire fundo, pague e depois negocie a reposição ou alguma maneira de que a prestação do serviço seja feita à distância.
- se abra para essa possibilidade no mês que vem e pague normal como se tivesse na aula, na roda ou no consultório. Diversos conselhos profissionais liberaram seus profissionais para consultas remotas. Você se cuida e mantem a circulação de renda.
- ative o seu radar para profissionais que dependem da circulação de pessoas para obter o sustento, mesmo que esporadicamente: o pipoqueiro da escola, a tia do lanche da firma, o moço da quentinha, o brother que lava o carro. Faça uma estimativa de quanto você teria gasto, busque a pessoa e pague. Esse montante já estava – mesmo que invisível – no seu orçamento;
- se tiver condições sensibilize e mobilize seus colegas para fazerem o mesmo;
- vejam quem são os pequenos empreendedores que estão fazendo entregas. Muitos restaurantes, lanchonetes, docerias estão com esquemas especiais para manter algum fluxo de caixa. Veja quem está fazendo vendas antecipadas. Compre, pague e depois da quarentena vá buscar o produto ou o serviço.
É papel do Estado amparar as pessoas que dependem de uma economia aquecida e das cidades em pleno funcionamento para sobreviver. Mas não podemos contar só com ele.
O brasileiro não conhece a covid-19, mas conhece a fome. Muitos, pela inexperiência e pela irresponsabilidade de alguns dos nossos líderes, se colocarão em risco na rua para garantir o pão.
Abrimos aqui o campo de comentários para quem tiver mais ideias do que podemos fazer para mitigar os prejuízos de quem não tem renda. Campanhas, voluntariado, iniciativas, empreendimentos podem ser anunciados aqui.
Vamos transformar essa sensação de impotência em atitude.
(*) Mariana Sá é mãe de dois, publicitária e mestre em políticas públicas. É cofundadora do Milc e membro da Rebrinc. Mariana faz regulação de publicidade em casa desde que a mais velha nasceu e acredita que um país sério deve priorizar a infância, o que – entre outras coisas – significa disciplinar o mercado em relação aos direitos das crianças.
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